Os Lugares Naturais
Pese embora a expressão que dá
título a esta Crónica ser – talvez por arreigado hábito disciplinar – realmente
inspirada no complexo e plurifacetado discurso aristotélico, a verdade é que
aqui vamos hoje tomá-la como uma espécie de mote
ou motivo para a problematização –
conquanto intencional e parcialmente análoga… – de outros lugares (e também de alguns
não-lugares), conceitos tanto filosoficamente
apelativos quanto sociologicamente
pertinentes (como, entre outros, Marc Augé os abordou nos quadros não só
cingidamente físicos mas também simbólicos, comunicacionais, socio-institucionais
e éticos das formas da existência
moderna, especialmente da vida urbana ou cosmopolita, ou nas chamadas
Modernidade e Pós-Modernidade.
Todavia, na linguagem popular, ou
mais prosaica, das falas do quotidiano,
a tematização da profunda diferença entre lugar
e não-lugar aparece-nos também
intuída em enunciações e provérbios, seja – por exemplo – para estabelecer relações
críticas entre saber real e lugar convencional; lugares comprados e posições
do carácter vendido; mediocridades de
habilitação, talento ou competência; serventia e subidas de posto
ou na chefia ou mando das respectivas tribos; neutralidade
ética e futilidades discursivas; anonimato massificado e solidão espiritual, etc., por aí fora,
como se vê e é impossível a tanto e tais desaforos
ou patologias não reagir!
– E não se reflicta só no que se passa
por essa nação que fez de um ressabiado símile nominal do sábio ateniense um PM
(com quase todo um partido rendido, ou nele re-enroscado em peso ou vacuidade!)
e que o leva agora (sob aplausos de envergonhar!) à pantalha dos embustes como redentor e redimido sofista em
causa e interesse exclusivamente próprios (dos quais o PS, a prazo seguro aliás,
e dessa táctica desforra extemporânea, será a primeira vítima entontecida e
penalizada…);
- ou naquele PSD (o do saudoso Sá
Carneiro!?) que, adiado, arrasta um tosco Coelho governamentado pelas orelhas,
com um paradigmático Relvas já em descabelada cauda, porém também ele (para não
atirar pedras aos ecrãs do vizinho!) com idêntica trupe circense de falaciosos
comentadores mediatizados…;
- ou,
enfim, num híbrido CDS-PP (a desbaratar os trunfos que a outros tanto custou a credibilizar)
…
– Não! No que estou também a
pensar é nos não-lugares (ou não
desempenhos competentes…) que putativos candidatos e falhados executivos ocupam
já hoje nas nossas periclitantes empresazinhas e servicinhos autonómicos (quais
espécimes criados segundo um perfeito Princípio
de Peter!); e assim por diante…
O resto, tudo o resto, faz parte
natural e efectivamente remanescente dos tais (não) lugares – quais espaços análogos aos denunciados naquelas
alegóricas cavernas que a verdadeira Filosofia Política e a sua coerente e
decorrente Prática para o Bem Comum (e não apenas as retóricas e narrativas tácticas
da tal dita “Teoria” ou “Ciência Política” que um conhecido propagandista
trouxe em parisiense porta-bagagens…) sempre sinalizaram às mais legítimas e
nobres precauções democráticas historicamente alternativas … –, para onde
o Povo, qualquer dia, há-de remeter à força tantos dos nossos carreiristas
políticos agrilhoados às suas alienantes análises, néscias dívidas,
malfeitorias e aberrantes e viciosas heranças, tão injusta e impunemente
deixadas à dignidade da vida, à honra e à soberania perdidas desta e
das futuras gerações do pobre País
que tais empalhados caudilhos, políticos e comentadores alberga e sustenta!
05.04.2013
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Publicado em RTP-Açores:
http://www.rtp.pt/acores/index.php?article=31674&visual=9&layout=17&tm=41;
Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2344&tipo=col,
Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2344&tipo=col,
e Jornal "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 07.04.2013).
Outra versão: Jornal "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 06.04.2013).