Uma Igreja em Diálogo
__________________________________________________
Acaba de ser apresentado em S.
Miguel (Ponta Delgada, Igreja do Colégio) e na ilha Terceira o livro A Igreja em Diálogo com o Mundo, da
autoria do Bispo coadjutor de Angra D. João Lavrador.
– Em Angra do Heroísmo esta
edição da Paulus (Lisboa, 2015) foi lançada na Livraria do Seminário Episcopal
de Angra (SEA) com a presença e intervenções do autor, do Bispo D. António
Sousa Braga e da jornalista Carmo Rodeia. Presentes vários sacerdotes,
seminaristas e alguns leigos que compuseram o acolhedor espaço daquela livraria
diocesana, onde actuou e abrilhantou a cerimónia o Coro do Seminário.
A obra, prefaciada pelo Bispo do
Porto (D. António Francisco dos Santos), reúne oitenta e seis Crónicas
publicadas no conceituado semanário Voz
Portucalense (entre Junho de 2009 e Julho de 2015) pelo então Bispo
auxiliar daquela prestigiada diocese do norte de Portugal, conforme o próprio,
na sua Introdução, programaticamente a
define e objectivamente fundamenta:
– “Há alguns anos fui convidado a
escrever regularmente algumas reflexões sobre acontecimentos que a meu critério
mereciam ser iluminados. (...). Fi-lo com gosto, como desafio pessoal e como
prova do meu apreço pelo meritório trabalho que os jornalistas realizam na
edificação da opinião pública e na promoção de uma cultura que seja digna da
pessoa humana e dos valores que darão consistência à harmonia social.
“ (...) Em tempos de crise cultural
e civilizacional, na busca de novas coordenadas que orientarão a humanidade
para os verdadeiros valores dignos do ser humano, a comunicação social,
sobretudo de inspiração cristã, é convidada a ler os sinais dos tempos.
“ (...) Foi a esta luz que periodicamente
seleccionava um acontecimento que a meu juízo deveria ser iluminado pela luz da
fé cristã e lido através dos documentos do magistério da Igreja”.
– Ora se foi sob essa luz orientadora que o projecto eclesial e pessoal do nosso
novo Bispo acompanhou “a voragem do tempo e da história” – ordenando reflexões críticas segundo áreas temáticas que correspondem
justamente ao conteúdo dos textos
seleccionados e constantes dos sete capítulos deste livro (com edificante destaque para Evangelho e
Cultura, Justiça, Paz, Testemunho, Alegria, Renovação Comunitária, Ministérios,
Educação e Mariologia) –, desígnio ainda mais
expectável é o mesmo aqui e agora, face às responsabilidades e desafios da actual missão de D. João Lavrador
ao serviço da Igreja e Povo dos Açores, idêntica
e fielmente aguardando-se a sua mais profunda, coerente e autêntica ortopraxia evangelizadora (religiosa, espiritual,
pastoral, moral, teológica, existencial, social, cultural e eclesiástica) neste
arquipélago...
Várias vezes, ao longo deste
livro, salientou o prefaciador de A
Igreja em Diálogo com o Mundo – “somos interpelados sobre o lugar da Igreja
na sociedade e sobre a missão dos cristãos no percurso da história”. E na
verdade, porque a “intenção do autor dos textos não é académica nem apenas
jornalística”, o que acima de tudo preside à respectiva elaboração é um
confessado “desejo de ajudar o leitor a ser protagonista da evangelização mais
do que seu destinatário, interventor num mundo em mudança mais do que recetor
da mudança do mundo, comprometido com a missão da Igreja mais do que espectador
passivo do que diariamente acontece”.
Assim, sempre ao longo de todas
as Crónicas aqui reunidas, é também notória a intenção do autor em propor chaves de leitura da realidade a partir
não só da Teologia e das Doutrinas Conciliares, dos Documentos da Igreja e dos
Ensinamentos (Discursos, Cartas e Encíclicas) dos Papas (mormente dos últimos
Pontífices, desde João XXIII e Paulo VI a Francisco), mas também em diálogo aberto com o mundo da Cultura e
do Pensamento, aonde se reflecte e se projecta metódica, histórica e decisivamente
sobre o Homem, a sua natureza e o seu destino transcendentes, e desse modo
então sobre os Valores da Humanidade e da Pessoa, como se lê, por exemplo, no
texto sobre o lugar ético “do
pensamento altruísta”, paradigmática e categorialmente abordado e construído
(ou desconstruído...), de modo unicamente fundamental,
e na medida do possível sistemático,
em Antropologia Filosófica e Teológica...
– “ O grande debate – refere D. João – dá-se na idade moderna e corresponde à rutura na concepção antropológica sobre o ser humano. Esta designação deve-se a Comte e contrasta com uma visão pessimista sobre o homem e a sua incapacidade para o altruísmo teorizada por Freud., Hobbes e outros autores.
“A antropologia tem uma marca
secular e profunda que foi absolutamente beneficiada pelo cristianismo que lhe
deu não só o seu conteúdo mais sublime como também a sua fundamentação mais
autêntica através do amor e da caridade.
“ (...) No século XX dá-se uma
aproximação ao conceito de altruísmo através da visão bíblica (...). A
benevolência, expressão para oferecer a visão altruísta do ser humano na
modernidade mas insuficiente, é conjugada com a visão cristã (...), para uma
verdadeira visão antropológica. Exemplo disto é Lévinas, como filósofo, e teólogos
como Rahner e Urs Von Balthasar”.
Por tudo isto, estes empenhados,
lúcidos e indicativos textos cristãos de
memórias e esperanças de D. João Lavrador devem legitimamente merecer consequentes meditações, solidários diálogos,
compromissos comuns e caminhos partilhados na mesma terra, mas com os olhos do
espírito e do coração no Futuro!
____________________
Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 19.12.2015):