sábado, dezembro 19, 2015


Uma Igreja em Diálogo

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Acaba de ser apresentado em S. Miguel (Ponta Delgada, Igreja do Colégio) e na ilha Terceira o livro A Igreja em Diálogo com o Mundo, da autoria do Bispo coadjutor de Angra D. João Lavrador.

– Em Angra do Heroísmo esta edição da Paulus (Lisboa, 2015) foi lançada na Livraria do Seminário Episcopal de Angra (SEA) com a presença e intervenções do autor, do Bispo D. António Sousa Braga e da jornalista Carmo Rodeia. Presentes vários sacerdotes, seminaristas e alguns leigos que compuseram o acolhedor espaço daquela livraria diocesana, onde actuou e abrilhantou a cerimónia o Coro do Seminário.



A obra, prefaciada pelo Bispo do Porto (D. António Francisco dos Santos), reúne oitenta e seis Crónicas publicadas no conceituado semanário Voz Portucalense (entre Junho de 2009 e Julho de 2015) pelo então Bispo auxiliar daquela prestigiada diocese do norte de Portugal, conforme o próprio, na sua Introdução, programaticamente a define e objectivamente fundamenta:

– “Há alguns anos fui convidado a escrever regularmente algumas reflexões sobre acontecimentos que a meu critério mereciam ser iluminados. (...). Fi-lo com gosto, como desafio pessoal e como prova do meu apreço pelo meritório trabalho que os jornalistas realizam na edificação da opinião pública e na promoção de uma cultura que seja digna da pessoa humana e dos valores que darão consistência à harmonia social.



“ (...) Em tempos de crise cultural e civilizacional, na busca de novas coordenadas que orientarão a humanidade para os verdadeiros valores dignos do ser humano, a comunicação social, sobretudo de inspiração cristã, é convidada a ler os sinais dos tempos.

“ (...) Foi a esta luz que periodicamente seleccionava um acontecimento que a meu juízo deveria ser iluminado pela luz da fé cristã e lido através dos documentos do magistério da Igreja”.


 – Ora se foi sob essa luz orientadora que o projecto eclesial e pessoal do nosso novo Bispo acompanhou “a voragem do tempo e da história” – ordenando reflexões críticas segundo áreas temáticas que correspondem justamente ao conteúdo dos textos seleccionados e constantes dos sete capítulos deste livro (com edificante destaque para Evangelho e Cultura, Justiça, Paz, Testemunho, Alegria, Renovação Comunitária, Ministérios, Educação e Mariologia) –, desígnio ainda mais expectável é o mesmo aqui e agora, face às responsabilidades e desafios da actual missão de D. João Lavrador ao serviço da Igreja e Povo dos Açores, idêntica e fielmente aguardando-se a sua mais profunda, coerente e autêntica ortopraxia evangelizadora (religiosa, espiritual, pastoral, moral, teológica, existencial, social, cultural e eclesiástica) neste arquipélago...


Várias vezes, ao longo deste livro, salientou o prefaciador de A Igreja em Diálogo com o Mundo – “somos interpelados sobre o lugar da Igreja na sociedade e sobre a missão dos cristãos no percurso da história”. E na verdade, porque a “intenção do autor dos textos não é académica nem apenas jornalística”, o que acima de tudo preside à respectiva elaboração é um confessado “desejo de ajudar o leitor a ser protagonista da evangelização mais do que seu destinatário, interventor num mundo em mudança mais do que recetor da mudança do mundo, comprometido com a missão da Igreja mais do que espectador passivo do que diariamente acontece”.


Assim, sempre ao longo de todas as Crónicas aqui reunidas, é também notória a intenção do autor em propor chaves de leitura da realidade a partir não só da Teologia e das Doutrinas Conciliares, dos Documentos da Igreja e dos Ensinamentos (Discursos, Cartas e Encíclicas) dos Papas (mormente dos últimos Pontífices, desde João XXIII e Paulo VI a Francisco), mas também em diálogo aberto com o mundo da Cultura e do Pensamento, aonde se reflecte e se projecta metódica, histórica e decisivamente sobre o Homem, a sua natureza e o seu destino transcendentes, e desse modo então sobre os Valores da Humanidade e da Pessoa, como se lê, por exemplo, no texto sobre o lugar ético “do pensamento altruísta”, paradigmática e categorialmente abordado e construído (ou desconstruído...), de modo unicamente fundamental, e na medida do possível sistemático, em Antropologia Filosófica e Teológica...


– “ O grande debate – refere D. João – dá-se na idade moderna e corresponde à rutura na concepção antropológica sobre o ser humano. Esta designação deve-se a Comte e contrasta com uma visão pessimista sobre o homem e a sua incapacidade para o altruísmo teorizada por Freud., Hobbes e outros autores.

“A antropologia tem uma marca secular e profunda que foi absolutamente beneficiada pelo cristianismo que lhe deu não só o seu conteúdo mais sublime como também a sua fundamentação mais autêntica através do amor e da caridade.


“ (...) No século XX dá-se uma aproximação ao conceito de altruísmo através da visão bíblica (...). A benevolência, expressão para oferecer a visão altruísta do ser humano na modernidade mas insuficiente, é conjugada com a visão cristã (...), para uma verdadeira visão antropológica. Exemplo disto é Lévinas, como filósofo, e teólogos como Rahner e Urs Von Balthasar”.

– Depois e finalmente, devo salientar que em todas estas Crónicas é possível vislumbrar a visão da Igreja e do Mundo que o novo Bispo dos Açores necessária e firmemente trará consigo (a partir de novos e mais amplos horizontes...), e que bastante prenuncia (e exigirá!) a uma Diocese como a nossa, regionalmente tão carenciada e problemática, a todos os níveis da Fé, da Inteligência e da Vida comunitária e individual, nestas nove ilhas e na diáspora açoriana...



Por tudo isto, estes empenhados, lúcidos e indicativos textos cristãos de memórias e esperanças de D. João Lavrador devem legitimamente merecer consequentes meditações, solidários diálogos, compromissos comuns e caminhos partilhados na mesma terra, mas com os olhos do espírito e do coração no Futuro!


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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 19.12.2015):