A Exemplar Biblioteca
de Adriano Moreira
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De Lisboa escreveu-me há uns
meses um antigo colega da Universidade Católica e do Colégio Universitário Pio
XII, dando-me conta de uma “bela visita” que fez a uma “admirável instituição”,
e de como, pelo que viu e admirou, lhe chegaram à memória gratas reminiscências
do convívio, magistério e estima que pudemos (e ainda gratamente podemos)
manter com o saudoso Padre Joaquim António de Aguiar e com o Prof. Adriano
Moreira (então assídua presença afectuosa e solidária no Colégio, e por assim
dizer irmão laico daquele nosso sempre
recordado e magnífico Director).
– Todavia, a carta do meu velho amigo
(dirigente actual numa área jurídico-político e sociocultural de relevo no País),
para além de factos que não cabe desenvolver nesta ocasião, e bem assim da
congratulatória e fraternal surpresa que manifestou ao ter ali encontrado
quatro livros meus, também veiculava outras pertinentes questões ligadas à sua revisitação
transmontana.
Ora de entre esses assuntos retenho
um, respeitante aos Açores em geral, à Terceira e a Angra do Heroísmo em
particular. Assim, a dita missiva começava por descrever o projecto específico
e exemplarmente concretizado do Centro Cultural de Bragança:
Estrutura que remonta ao século XVI,
foi sucessivamente Convento, Colégio dos Jesuítas, Seminário Episcopal, Liceu e
Escola Preparatória; agora, recuperado em 2004, lá hospeda a Biblioteca
Municipal, a Academia de Letras de Trás-os-Montes, o Conservatório de Música, Salas
de Exposições, um Espaço de Memória da Cidade e a excepcional Biblioteca Adriano Moreira (que guarda dezassete
mil livros doados pelo próprio, bem como as suas condecorações, diplomas e
vestes académicas – tudo
inventariado, descrito, catalogado, indexado, exposto e electronicamente
acessível...).
Finalmente, baptizado que também
foi aquele integrado Centro com o nome do seu ilustre patrício (Prof. Adriano
Moreira), nele justa e simbolicamente homenageou-se a grandeza dos
transmontanos, enalteceu-se a sua identidade colectiva e as marcas da sua História!
– E de facto, perante tudo isso,
que tive oportunidade de observar posteriormente, apenas posso realmente subscrever a admiração
e a congratulação com que um “só visto!”
conseguiu sinteticamente exprimir tão honrosa e dignificante obra!
De resto, numa caracterização um
pouco mais detalhada e que aqui fica somente de modo breve, devo assinalar que
este Centro Cultural e Biblioteca Adriano Moreira, com duplo e complementar
alcance pessoal e colectivo, material e simbólico, pluridimensional e
multidisciplinar, é verdadeiramente precioso para o nosso País no seu todo, e
pode contribuir para um mais aprofundado estudo e uma mais ampla compreensão da
História, da Cultura e do Destino de Portugal no Mundo, a partir de uma espécie
de cartografia crítica das leituras e
do pensamento do insigne Professor e Estadista, tal como o seu acervo documenta
e revela, ou pode ajudar a revelar, através
dos sinais da sua eticidade – isto é, do seu tempo interior e pessoal, da
sua histórico-civilizacional temporalidade
vivida – que espelhada está nos seus livros, escritos, marcas de ideais,
acções, sonhos e até das utopias, bem realçados no cruzamento espiritual e
ideográfico, filosófico, jurídico-político, histórico-cultural, académico e
religioso dos respeitosos e fraternos testemunhos dos homens que o conheceram e
no praticamente unânime reconhecimento reverente da sua vida e obra, tão paradigmaticamente
contidos nos textos, entre outros, de José da Cruz Policarpo, Almeida Santos,
Marcelo Rebelo de Sousa, Anselmo Borges, Luís Salgado de Matos, Manuela Ramalho
Eanes, Barbosa de Melo, Costa Andrade, Manuel Clemente, Joaquim Carreira das
Neves, Rui Vilar, Cavaco Silva, Teresa Patrício Gouveia, António Montes Moreira
e José Barata-Moura.
Ora a Biblioteca Adriano Moreira,
conforme pode ser visualizado também através da respectiva Página Electrónica,
está organizada de modo a permitir um acesso a vários núcleos temáticos, a
partir dos quais podemos recolher todo um manancial de informação sobre “O
Homem e a Obra” – Biografia, Textos e Livros publicados, Fundos Bibliográficos
doados, Acervo da Biblioteca (Fundos, Classes e Dados organizados e
pesquisáveis), Depoimentos Evocativos, etc. –, para além de disponibilizar in loco uma rica Galeria de objectos,
peças e símbolos, imagens e artefactos culturais, artísticos, académicos e
etnográficos coleccionados durante toda uma larga e profícua vida, ali
abundantemente comprovada pelas muitas Condecorações nacionais e estrangeiras,
Distinções Honrosas e outra Documentação Honorífica bem reveladoras da
personalidade, do carácter e da alma do Prof. Adriano Moreira.
– Porém, depois, na referida
carta daquele meu antigo colega universitário, logo de seguida me era perguntado
se nas ilhas havia algo daquele género... E nem valeu a pena adiar e lastimar
muito a resposta que todos bem sabemos, apesar das muitas e conhecidas valias das
nossas Bibliotecas e Arquivos regionais açorianos.
Todavia, o que neste contexto e
perante tal notável projecto, como é integral
e integradamente aquele de Bragança, o que restaria inquirir por aqui é o
seguinte:
– Já a propósito do previsto
Centro de Interpretação de Angra do Heroísmo (Cidade Património Mundial),
estará porventura previsto algum Núcleo Museológico-Documental (Municipal/Camarário), onde venham a
constar as certamente muitas dezenas de
elementos e peças (livros, medalhas, pratos, taças, moedas, diplomas, mapas, quadros,
galhardetes, bandeiras, processos e objectos-recordação de visitas e geminações,
prémios, condecorações, fotografias, etc.) que, provavelmente, como é
tradicional, terão sido (ou não?) adquiridos,
permutados ou oferecidos à Câmara de Angra (e/ou aos seus Gabinetes e Serviços
oficiais dependentes) ao longo dos últimos anos (pelo menos desde 1980, ano do
Sismo...), na certeza de que todo esse eventual património público e expectável acervo
autárquico seria mais um valor devidamente devolvido à apreciação
colectiva, e um preservado motivo de atracção para múltiplos fins de Cultura,
História e Investigação, à semelhança
possível (por mais pequena e proporcionada que fosse em quantidade e
qualidade próprias...) daquele rico património
e edificante projecto brigantino...
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Publicado em "Diário dos Açores" e "Diário Insular" (23.07.2016):