Há aparadores de tudo e para quase tudo, neste nosso variegado e cada vez mais plano mundo de Deus, seres e discursos – conforme o denominou Thomas L. Friedman –, que é como quem diz, ou apenas o rebatiza, cada vez mais unidimensional (para usarmos aqui a expressiva conceptualidade crítica do velho filósofo Herbert Marcuse…).
Contudo, o supracitado e aduzido adjetivo (plano) e a respetiva realidade visada ou projetada – embora talvez mais rigorosamente ditos e perspetiváveis como bidimensionais – isto é, como e em horizontalidade niveladora de todas as redes, sistemas e subsistemas da globalização planetária (então reduzida a essoutra configuração georeticular) –, na verdade podem mesmo aparecer-nos assim aplanados, devido aos efeitos conjugados dos múltiplos e hegemónicos torniquetes e prensas do Poder, da Economia e da Comunicação que foram preenchendo, rasoirando ou arrasando crescentes vetores, diferenciações ou coordenadas (ainda cartesianas ou já maquiavélicas?) de uma talvez ultrapassada Modernidade planetária, nacional e regional (esférica essa, e para a qual os Portugueses até terão contribuído decisivamente, conquanto ela mesma, não raras vezes, sociohistórica e civilizacionalmente desigual, desequilibrada, predatória e injusta!).
– Porém, na homonímia que o termo aparador leva no seu bojo semântico, também se podem integrar outros artefactos, instrumentos, recursos e gadgets humanos e políticos, desde aqueles patrimónios de sala ou cozinha (que certas famílias, à falta de outros brasões, às vezes herdam e outras desprezam!), até aos moderníssimos aparadores de capim colonial (ou suposto cerrado em pasto daninho…), ou mesmo àqueles, ainda mais recentes e assombrosos, mecanismos nanotecnológicos que desviam a luz de certos objetos evidentes, tornando-os invisíveis e como que inexistentes ou insignificantes…
– Ora é precisamente a alguns destes últimos, a quase todos eles, infelizmente, que se assemelham as aparadoras atitudes moucas e os desprezíveis aparadores do jogo, dos gestos e dos discursos de um tal de relvas, ministro-aparadeira do reino e sabe-se lá de que outras mais repugnantes confrarias, sub-reptícia ou secretamente antiaçorianas e antiautonómicas!
__________________Publicado em:
Jornal "A União" (Angra do Heroísmo, 05.11.2011): http://www.auniao.com/noticias/ver.php?id=25869
Azores Digital: http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2163&tipo=colJornal "Diário dos Açores (Ponta Delgada, 06.11.11)
Primeira versão: Jornal "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 05.11.11): http://www.diarioinsular.com/