1. Na passada semana decorreu em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), o esperado Colóquio Internacional sobre o poeta, professor, tradutor (Saint-Exupéry, Montesquieu, Borges, Lorca…) e ensaísta Ruy Belo – “Homem de Palavra [s]”, como o Cartaz sugestivamente subintitulava esse promissor e conseguido simpósio cultural e académico organizado por Paula Morão, Nuno Júdice e Teresa Belo (integrando os dois primeiros também a Comissão Científica do mesmo evento).
– Esse encontro, em boa hora promovido e apoiado pela FCG, e inovadora e proveitosamente transmitido em directo pela Internet, contou ainda, para além da Conferência de Encerramento por Eduardo Lourenço, com uma Sessão de Leitura de Poemas (com Luís Miguel Cintra e Rita Blanco), e com a Apresentação de Livros – Revista Colóquio/Letras, n.º 178, dedicado a Ruy Belo; Na Margem da Alegria, Antologia organizada por Manuel Gusmão; O Núcleo da Claridade, de Duarte Belo, e Homem de Palavra[s], de Paula Morão –, conforme referido no respectivo Programa e em cujos painéis qual participaram estudiosos e investigadores portugueses e brasileiros do autor, entre outros, de Aquele Grande Rio Eufrates (1961), O Problema da Habitação (1962), Transporte no Tempo (1973), País Possível (1973), A Margem da Alegria (1974), Toda a Terra (1976) e Despeço-me da Terra da Alegria (1978), e cuja Obra Completa tem vindo a ser sucessivamente reunida e reeditada (pela Presença, pelo Círculo de Leitores e pela Assírio & Alvim).
2. Nascido em S. João da Ribeira (Rio Maior, 27.02.1933) e falecido precocemente (Queluz, 8 de Agosto de 1978), Ruy Belo primeiro cursou Direito em Coimbra (1956), doutorando-se logo de seguida em Direito Canónico (com uma tese intitulada “Ficção Literária e Censura Eclesiástica”, na Universidade de S. Tomás de Aquino/Angelicum, em Roma), vindo, mais tarde (1967) a licenciar-se também em Filologia Românica, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
– Entretanto, após o acima referido doutoramento e a quando do seu regresso de Itália ao nosso país, Ruy Belo – então membro activo do Opus Dei, organização que viria depois a abandonar – trabalhou intensamente na área educativa e na divulgação intelectual, sociocultural, filosófica e religiosa católica (tendo sido director literário da memorável Editorial Aster e chefe de redacção da revista “Rumo”, onde publicou ensaio e crítica), e director-adjunto do director do Serviço de Escolha de Livros do Ministério da Educação Nacional, cargo que abandonou quando ia ser nomeado director. Profissionalmente, Ruy Belo fez ainda estágio para advocacia como subdelegado do Procurador da República, enquanto se distinguia como colaborador de jornais, revistas e suplementos culturais portugueses no “Diário de Notícias”, “Diário de Lisboa”, “Rumo”, “O Tempo e o Modo”, etc.
– Entretanto, após o acima referido doutoramento e a quando do seu regresso de Itália ao nosso país, Ruy Belo – então membro activo do Opus Dei, organização que viria depois a abandonar – trabalhou intensamente na área educativa e na divulgação intelectual, sociocultural, filosófica e religiosa católica (tendo sido director literário da memorável Editorial Aster e chefe de redacção da revista “Rumo”, onde publicou ensaio e crítica), e director-adjunto do director do Serviço de Escolha de Livros do Ministério da Educação Nacional, cargo que abandonou quando ia ser nomeado director. Profissionalmente, Ruy Belo fez ainda estágio para advocacia como subdelegado do Procurador da República, enquanto se distinguia como colaborador de jornais, revistas e suplementos culturais portugueses no “Diário de Notícias”, “Diário de Lisboa”, “Rumo”, “O Tempo e o Modo”, etc.
Todavia, devido às suas conhecidas posições políticas e ligações à Oposição ao regime do Estado Novo, à participação na greve académica de 62 e à candidatura a deputado, em 1969, pela CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática) – que, recorde-se, disputando terrenos oposicionistas democráticos e demarcando-se portanto do PCP e da sua subalterna CDE (Comissão Democrática Eleitoral), mais tarde Movimento Democrático Português (MDP/CDE), integrava especialmente socialistas ligados a Mário Soares e à ASP (Acção Socialista Portuguesa, antecedente e primórdio da criação do PS), algumas personalidades católicas, independentes e elementos monárquicos (Francisco Sousa Tavares, Sophia de Mello Breyner e Gonçalo Ribeiro Telles, por exemplo) –, Ruy Belo logo viu as suas actividades profissionais e institucionais condicionadas e a sua vida pública e privada vigiadas pela PIDE…
– Assim e então, tendo-lhe entretanto sido concedida uma Bolsa de Investigação pela FCG, Ruy Belo acabaria por ir para Espanha, exercendo Leitorado de Português na Universidade de Madrid (entre 1971 e 1977, ano em que regressou a Portugal e foi ensinar na Escola Técnica do Cacém, a turmas do ensino nocturno…, por lhe ter sido recusada a possibilidade de leccionar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa!). Todavia, em 1991, viria a ser condecorado, pelo Presidente da República, com o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Sant'iago da Espada, a título póstumo …
3. Escrita marcada por intertextualidades várias (Pessoa, a Bíblia…) e por intencionalidades e imagísticas de pendor existencial, religioso e sociopolítico – umas vezes directas, outras apenas sugeridas num discurso que amiúde se revestiu de recortes narrativos e de resistência ética, crítica do quotidiano e até de uma acidez angustiada com que desmontava ou (re)construía um senso comum de realidade sobre o qual – como escreveu Óscar Lopes – provocava “um pequeno sismo vivificante” –, a Poesia de Ruy Belo denota um verdadeiro e diligente trabalho sobre o texto literário e um simultâneo compromisso do Escritor, exacta e lapidarmente assim mesmo dito homem de palavra(s), título aliás de um dos seus livros (editado em 1970 nos Cadernos de Poesia das Publicações Dom Quixote) e do recente Colóquio, conforme acima referimos.
3. Escrita marcada por intertextualidades várias (Pessoa, a Bíblia…) e por intencionalidades e imagísticas de pendor existencial, religioso e sociopolítico – umas vezes directas, outras apenas sugeridas num discurso que amiúde se revestiu de recortes narrativos e de resistência ética, crítica do quotidiano e até de uma acidez angustiada com que desmontava ou (re)construía um senso comum de realidade sobre o qual – como escreveu Óscar Lopes – provocava “um pequeno sismo vivificante” –, a Poesia de Ruy Belo denota um verdadeiro e diligente trabalho sobre o texto literário e um simultâneo compromisso do Escritor, exacta e lapidarmente assim mesmo dito homem de palavra(s), título aliás de um dos seus livros (editado em 1970 nos Cadernos de Poesia das Publicações Dom Quixote) e do recente Colóquio, conforme acima referimos.
– Lembro-me muito bem das primeiras leituras que da sua obra me foi dado fazer, por indicação de minha mãe e por intermédio então de amigos comuns seus, do movimento dos Cursos de Cristandade e do Opus Dei, e não poucas foram as vezes que a eles depois recorri na actividade lectiva, em encontros de reflexão e em recitais promovidos na ilha Terceira.
Mas de entre essas sensibilizantes leituras recordo especialmente as dos poemas “Nós os vencidos do catolicismo”, “Quadras da alma dorida”, “Palavras de Jacob depois do sonho”, “ Na praia” e – como não podia deixar de ser – “O Portugal futuro”, aquele do passado (o de ontem propriamente dito, mas ainda, enraizadamente como fatalidade opressora, em parte herdada, imposta ou consentida desse tempo sombrio nos recorrentes estigmas e vícios do nosso dramático presente!), sobre cujo leito negro poderá ser duro edificar o nosso desalmado e amordaçado amanhã…
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Azores Digital: http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2165&tipo=col,
e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 13.11.2011).
e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 13.11.2011).