De entre todas as variadas e
díspares figuras de retórica, laudes de cobertura tácita e rejeição ou
conivência face às hipotecas e tuteladas políticas governamentais do presente e
ao infeliz e opressivo estado em que a nossa Nação caiu, e aonde cada dia que
passa mais se afunda… – a par de outras tantas lamúrias, demagogias fáceis ou
alternativos juízos verdadeiramente realistas, críticos e responsáveis que
integraram, em maior ou menor estilo, conteúdo e florido tom, os discursos
oficiais saídos do seio dos partidos com assento e parlatório na Assembleia da
República e dali retransmitidos para todo o País –, mereceu destaque e
inusitada busca de explicitação compreensiva e mediática a afirmação do atual líder da bancada socialista sobre
a possibilidade do PS fazer “uma rutura democrática
com quem baixar os braços”, com “quem ousar tentar destruir numa legislatura o
que levou décadas a construir”, lá se adiantando ainda que os maiores
adversários do 25 de Abril são “o saudosismo, o revivalismo ou o reviralho”, a
“estagnação”, o “alheamento” e tudo o que daí decorreria como "captura
ideológica ou idiossincrática"!
Ora a
enunciação rutura democrática – e foi
precisamente essa a frase que maior impacto então gerou – faz parte, desde há
muito, de um paradigmático léxico político-jurídico e institucional,
constituindo mesmo uma das expressões mais consagradas no discurso da Filosofia, da Economia e da Sociologia políticas e no processo prático da transição
histórica para a Democracia de algumas sociedades europeias e
latino-americanas, além de ter até constado do interrogante título de um
conhecido livro do velho eurocomunista espanhol Santiago Carrillo e de um antigo documento estratégico do PSOE, ambos datados de
ibéricos tempos idos (e quem sabe se vindouros…) de resistência e refundação
sociopolítica, cultural e partidária…
– Mas, mesmo entre
nós, a expressão não é inédita, nem antiga, nem sequer exclusiva do PS,
porquanto ela foi, bem recentemente, usada também pelo PCP (em 2011) e por
Francisco Louçã (em 2009). E talvez até devesse ser, urgentemente, reaplicada
ainda à própria vida interna do Partido Socialista e às suas últimas e pouco
honrosas heranças e lideranças nacionais!
Porém assim, embora
com sentidos, alcances e objetivos diferentes, todos e cada um dos nossos
partidos de esquerda, a seu modo e ciclicamente, vem reclamando por reais ruturas democráticas e tempos novos, – coisas e valores aliás
bem necessários para esconjurar
fatalidades e favas supostamente contadas na triste e
resignada vida dos portugueses, enquanto tardam, neste Maio de giestas, outras
e mais justas florações (esquecidas ou apenas adiadas no nosso País…).
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Publicado em:
Azores Digital. http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2221&tipo=col;
“Diário Insular” (28.04.2012), "Diário dos Açores" (28.04.2012),
e RTP-A: http://tv2.rtp.pt/acores/index.php?headline=14&visual=10
e RTP-A: http://tv2.rtp.pt/acores/index.php?headline=14&visual=10