O 1º. de Maio deste ano –
efeméride mundialmente consagrada à Comemoração do Trabalho e à evocação das
históricas lutas e conquistas dos Povos da Terra em prol do universal
reconhecimento da dignidade, dos direitos e dos deveres dos Trabalhadores –,
ficou marcado entre nós, para além das habituais manifestações sindicais e de
outras mais ou menos festivas animações de salão, praça ou rua, por três
acontecimentos cujo simbolismo e conteúdo reais merecem registo; a saber:
1) Os sucessivos atos de puro
vandalismo (mutilação, destruição, roubo e incêndio!) de que foi vítima uma Exposição de Maios tradicionais
esmeradamente trabalhada pelos alunos e professores das turmas de Educação
Tecnológica da Escola Jerónimo Emiliano de Andrade, numa cinta urbana de Angra
do Heroísmo aliás já useira e vezeira em destemperos, despautérios e
criminalidades que crescem e conspurcam cada noite que se abre nas imediações
do Corpo Santo, EDA, DI, Avenidas e ditas “docas” e locas do Porto das Pipas,
em zona para-turística da desamparada e desalmada urbe Património Mundial…
2) O espantoso e degradante
cenário de quase saque a prateleiras de todos os tipos de produtos de uma
cadeia de supermercados – conquanto bem concorrencial e promocionalmente
vendidos a saldo, ou facultados à carenciada mas legítima e compreensível
compra por pobres e médias bolsas e por conta de uns apelativos descontos de
50% –, naquilo que nacional, humilhante e pouco docemente pingou como que em
traslados de miséria, pré-catástrofe socioeconómica, açambarcamento de
aflições, penúrias e prenúncio de armazenamento de rações para antecipatórios
medos de sítio ou cerco…
3) A divulgação de um muito atento
e crítico documento (intitulado Desemprego
e Confiança) da Comissão Nacional Justiça e Paz de Coimbra, onde são
detetadas e denunciadas muitas das angustiantes
feridas e sinais do tempo que vivemos (desemprego, violência, falta de
confiança, solidão, perda da autoestima, insanidade mental, implosão e
instabilidade da estrutura familiar, desinformação, agiotagem financeira,
despesismo e injustiças sociais, instabilidade legislativa, legislação laboral inadequada,
condicionantes e penalizações empresariais, morosidade judicial, deficientes
fiscalizações, debilidade empresarial, desarticulação governamental e
estratégica, etc.), – tudo isto contra
o verdadeiro Bem Comum mas a favor e ao
serviço da “manutenção de privilégios abjetos a uma ‘nomenklatura’ que, como
sempre, situada na órbita ou dentro do poder político, se mantém incólume nos
sacrifícios que são exigidos aos outros”, fazendo de Portugal um país anestesiado e adiado!
Ora todos estes fenómenos e
indicadores, cada um ao seu nível de impacto e grau de gravidade local, regional
e nacional, devem fundar outros tantos motivos
de reflexão e um apelo também pessoal e ético a cada um dos nossos
concidadãos, porquanto também e como, sem ilusões, retoma a CNJP da Carta Octogesima adveniens,
podem-se “alterar estruturas e criar novos métodos de
gestão e decisão”, o que sendo “necessário nunca será suficiente, enquanto não
percebermos o quanto as soluções dependem da conversão
pessoal em mentalidade e nos comportamentos”. E assim então:
– “Seria bom que cada um
procurasse examinar-se para ver o que é que já fez até agora e aquilo que
deveria fazer. Não basta recordar os princípios, afirmar as intenções, fazer
notar as injustiças gritantes e proferir denúncias proféticas; estas palavras
ficarão sem efeito real se não forem acompanhadas, para cada um em particular,
de uma tomada de consciência mais viva da sua própria responsabilidade e de uma
ação efetiva. É por demais fácil alijar sobre os outros a responsabilidade das
injustiças se se não dá conta, ao mesmo tempo, de como se tem parte nelas e de
como a conversão pessoal é algo necessário, primeiro que tudo o mais”.
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Publicado em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 05.05.2012); “Diário dos
Açores” (Ponta Delgada, 05.05.2012);
e Azores Digital: http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2223&tipo=col.