As declarações do
primeiro-ministro e líder do PSD sobre as exemplares
e resignadas virtudes da paciência
(ou de submissão pacífica e
pacificada?) – que o povo português, segundo ele, tem vindo a demonstrar
perante a crescente tortura de vida,
a situação de transe (como muito bem
a classificou Medeiros Ferreira) e a galopante
agonia económica, social, laboral e psicológica em que o país vive –,
tornaram a ultrapassar os limites do razoável e do decente, tanto mais quanto
se revestem de uma hipocrisia moral e
política de que não há memória tão insultuosa
e cínica nos tempos da Democracia, e que até parecem realmente saídas
daquela obscura, triste e opressiva era política que dominou Portugal até ao 25
de Abril!
– Revelando, mais uma vez,
completa ausência de senso e tino de linguagem, no que amiúde se
assemelha ao pior dos talentos e à fria desfaçatez do seu ministro Relvas
(figura, de resto, a quem tem, partidária, executiva e parlamentarmente adubado
com uma piedosa cobertura, só
equivalente ao brilho confiante e
confiado que baila agora no olhar vivaço, conquanto algo petrificante e
reptilário, desse seu homem de mão…), Passos Coelho conseguiu logo reacender
fogos e graus de indignação, suscitando até desejos de apelo à revolta (mansa,
por enquanto, mas na rua…).
E um Bispo católico foi até ao ponto de dizer que
os nossos concidadãos estavam a ser tratados como “povo amestrado” e “tão dócil
que merecia estar num jardim zoológico”…
Ora estas trocas de mimos chegam
numa altura em que no PSD cresce a divisão e mais vozes desafinam da política
económica, social e salarial do governo/troika, como se viu a propósito dos
últimos alvitres de António Borges e Vítor Gaspar.
– Assim sendo, é fundamental que
a agora emblemática vontade de construção (análoga
à nacional?), pelo PSD, dos Açores como “região económica”, seja mesmo
competente e efetivamente complementada e
garantida, pelo e com o PS, como Região
também socialmente justa!
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Publicado em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 09.06.2012): http://www.diarioinsular.com/
e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 10.06.2012):