Os políticos da Política
1. Acaba de ser colocada no mercado a nova obra de Tibério Cabral –
A Política dos políticos, II Volume [Entrevistas] (Angra do Heroísmo, IAC,
2011) –, embora, ao contrário do que acontece com tantos outros autores e
livros (aonde amiúde se forçam e forjam merecimentos…), sem qualquer sessão de
Apresentação e Lançamento que as suas qualidades, especificidades e
potencialidades plenamente justificariam…
O livro – embora sem precisa
referência técnico-editorial – inclui também um sugestivo texto de abertura, a
modos de prefácio (“Antes de ler as entrevistas”), por J. G. Reis Leite,
relevando este conhecido historiador açoriano, com justeza, para além de
algumas questões pertinentes de metodologia
histórica e de crítica
historiográfica, o especial valor das Entrevistas
de Tibério Cabral, enquanto e porque elas constituem precisamente e “acima de
tudo documentos e fontes orais para a
nossa história contemporânea”, inscrevendo-as por isso, e bem, no âmbito das
problemáticas próprias do “uso das fontes” e da consciência (maior ou menor, quando não até nula…) que disso
mesmo os Entrevistados teriam quanto ao seu “papel de actores e construtores de
uma memória”…
2. Neste 2.º Volume de A
Política dos políticos, ao longo das suas 621 páginas, estão assim reunidas
Entrevistas, todas datadas, que o Jornalista terceirense efectuou entre 1984 e
2009, sendo todavia que as mesmas reflectem a bastante diferenciada
qualificação, desigual perfil, formação e estatuto dos seus Entrevistados,
cujos posicionamentos conseguem ganhar aliás, lidos hoje, contornos quase
incríveis ou patéticos, fabulosas (in)coerências de percurso, (in)consequências
e (des)ilusões, a par de outras concatenações cuja comicidade, inverosimilhança
ou futilidade chegam a atingir foros dramáticos…, atendendo às responsabilidade
dos respectivos autores-actores mediáticos (ou apenas mediaticamente
construídos!), e tanto mais quanto alguns dos dialogados discursos estão claramente marcados por naturais
pré-conceitos, circunstancialismos, meras conjecturas de opinião interessada, e
outras conveniências ou oportunidades de juízo volátil…
– Ali e nisso veremos todos enfim
justificados os motivos para a retoma desta questão crítica, porquanto,
sobretudo e de facto, como Reis Leite salientou, “na história política temos
assistido a uma transformação do discurso em retórica memorialista e muitas
vezes justificativa, que oblitera a função primordial da historiografia”!
3. Tibério Cabral, nascido em 1957, na freguesia das Fontinhas
(ilha Terceira), desde cedo mostrou notável vocação para a prática e a escrita
jornalísticas, afirmadas e confirmadas depois e até hoje por uma vasta, rica e
diversificada experiência na Comunicação Social açoriana (Rádio e Jornais),
documentada no seu currículo (também cultural e artístico) e na sua já
significativa e talentosa produção reunida em O que eles disseram (1998), A
Política dos Políticos, I (2001) e Igreja
– Virtudes e Pecados (2004).
– Tal como escrevi anteriormente,
no estudo de Introdução ao igualmente notável 1.º Volume (2001) desta série,
também estas Entrevistas tornam a dar
paradigmática conta, através das palavras ali suscitadas, ditas, entreditas e interditas, tanto da recorrente
ou previsível indigência, quanto da extraordinária reserva e limites de humanidade que nestes
domínios e discursos acolhidos e recolhidos nas nossas ilhas grassam,
exactamente como naqueles parabólicos
campos do trigo e do joio que socio-histórica, cultural e espiritualmente
sempre juntos crescem, mas que o Tempo se encarrega, mais tarde ou mais cedo,
de separar para a ceifa e para a recolha da Verdade …
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Publicado em Azores Digital:
RTP-A:
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Blogs:
e Jornal “Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 11.10.2012):
Outra versão em “Diário Insular” (Angra do Heroísmo,
10.11.2012):