sexta-feira, novembro 09, 2012

Os políticos da Política



1. Acaba de ser colocada no mercado a nova obra de Tibério Cabral – A Política dos políticos, II Volume [Entrevistas] (Angra do Heroísmo, IAC, 2011) –, embora, ao contrário do que acontece com tantos outros autores e livros (aonde amiúde se forçam e forjam merecimentos…), sem qualquer sessão de Apresentação e Lançamento que as suas qualidades, especificidades e potencialidades plenamente justificariam…

O livro – embora sem precisa referência técnico-editorial – inclui também um sugestivo texto de abertura, a modos de prefácio (“Antes de ler as entrevistas”), por J. G. Reis Leite, relevando este conhecido historiador açoriano, com justeza, para além de algumas questões pertinentes de metodologia histórica e de crítica historiográfica, o especial valor das Entrevistas de Tibério Cabral, enquanto e porque elas constituem precisamente e “acima de tudo documentos e fontes orais para a nossa história contemporânea”, inscrevendo-as por isso, e bem, no âmbito das problemáticas próprias do “uso das fontes” e da consciência (maior ou menor, quando não até nula…) que disso mesmo os Entrevistados teriam quanto ao seu “papel de actores e construtores de uma memória”…


2. Neste 2.º Volume de A Política dos políticos, ao longo das suas 621 páginas, estão assim reunidas Entrevistas, todas datadas, que o Jornalista terceirense efectuou entre 1984 e 2009, sendo todavia que as mesmas reflectem a bastante diferenciada qualificação, desigual perfil, formação e estatuto dos seus Entrevistados, cujos posicionamentos conseguem ganhar aliás, lidos hoje, contornos quase incríveis ou patéticos, fabulosas (in)coerências de percurso, (in)consequências e (des)ilusões, a par de outras concatenações cuja comicidade, inverosimilhança ou futilidade chegam a atingir foros dramáticos…, atendendo às responsabilidade dos respectivos autores-actores mediáticos (ou apenas mediaticamente construídos!), e tanto mais quanto alguns dos dialogados discursos estão claramente marcados por naturais pré-conceitos, circunstancialismos, meras conjecturas de opinião interessada, e outras conveniências ou oportunidades de juízo volátil…

– Ali e nisso veremos todos enfim justificados os motivos para a retoma desta questão crítica, porquanto, sobretudo e de facto, como Reis Leite salientou, “na história política temos assistido a uma transformação do discurso em retórica memorialista e muitas vezes justificativa, que oblitera a função primordial da historiografia”!


3. Tibério Cabral, nascido em 1957, na freguesia das Fontinhas (ilha Terceira), desde cedo mostrou notável vocação para a prática e a escrita jornalísticas, afirmadas e confirmadas depois e até hoje por uma vasta, rica e diversificada experiência na Comunicação Social açoriana (Rádio e Jornais), documentada no seu currículo (também cultural e artístico) e na sua já significativa e talentosa produção reunida em O que eles disseram (1998), A Política dos Políticos, I (2001) e Igreja – Virtudes e Pecados (2004).

– Tal como escrevi anteriormente, no estudo de Introdução ao igualmente notável 1.º Volume (2001) desta série, também estas Entrevistas tornam a dar paradigmática conta, através das palavras ali suscitadas, ditas, entreditas e interditas, tanto da recorrente ou previsível indigência, quanto da extraordinária reserva e limites de humanidade que nestes domínios e discursos acolhidos e recolhidos nas nossas ilhas grassam, exactamente como naqueles parabólicos campos do trigo e do joio que socio-histórica, cultural e espiritualmente sempre juntos crescem, mas que o Tempo se encarrega, mais tarde ou mais cedo, de separar para a ceifa e para a recolha da Verdade …
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Publicado em Azores Digital:
RTP-A:
Networked Blogs:
e Jornal “Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 11.10.2012):
Outra versão em “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 10.11.2012):