sexta-feira, novembro 02, 2012

As Passarolas Visionárias


Vá lá saber-se se por uma qualquer causa real e efectiva, conquanto desconhecida ou pouco positivamente verosímil, ou se apenas fruto de uma fortuita coincidência de factores mais ou menos aleatórios, mas todavia misteriosamente conjugados – a modos de conjunção escrita nos astros, no destino ou no fado, como diriam certos crentes em ordens sobre e infranaturais (ou em outras disposições mais astralmente próprias de um mundo ainda visto e dito sob modelos aristotelicamente sublunares…) –, a verdade é que parece haver na história dos homens, dos povos, das regiões e das tribos um significativo número e uma espantosa variedade de factos e fenómenos que, aparentemente querendo escapar a uma explicação linear e objectiva (no que respeita à sua origem, instrumentos, formas de manifestação e subjacente finalidade), prestam-se depois aos mais mirabolantes esquemas e propostas de causa/efeito…

– Ora foi isso mesmo que se tornou a verificar com as fúrias do Sandy, tempestade que se abateu nos últimos dias catastrófica e especialmente sobre a costa leste dos Estados Unidos e com emblemático expoente naquela metrópole que ainda não há muitos anos, por outras causas, cérebros e mãos, viu desabar apocalipticamente dois dos seus mais exemplares ícones de negócio e orgulho (ambos, embora confiantes “em Deus”, arranhando o Céu, ou melhor, como bem corrigiria o velho Platão, os céus, entendidos estes como algo cá mais por baixo, com nuvens escuras, visíveis e hodiernamente rasgáveis por naves inter-planetárias, satélites espaciais, mísseis, aviões, balões e outras passarolas voadoras (todas afinal cridas e queridas herdeiras, para elevação do orgulho lusíada, daquela nave do padre Bartolomeu de Gusmão, que Saramago, para nosso regalo de leitura, tão inspiradamente também faria subir, mesmo contra velhas e novas inquisições culturais, lá pelos maravilhosos ventos ficcionais e romanescos do seu Memorial…).

É claro que sobre o furacão Sandy não faltaram genéticas teses surreais, desde as míticas e “religiosas” certezas de um tal McTernan (pregador e invocador de castigos celestes “made in USA”), até às mais tecnologicamente sofisticadas e visionárias teorias energéticas e climatéricas (espécie de feitiço com chuvas, ventos e danças à Obama, nas vésperas da eleição presidencial na nação mais poderosa do planeta Terra)!

– Porém, cá na Ocidental Praia, os vaticínios tem sido bem mais rasteiros, e o grande adivinho de serviço por estes dias de todos os santos e fiéis defuntos (ou a caminho disso, na romaria nacional que orçamentalmente a tanto e tal se perfilha…), foi apenas um baixote, enorme e substancial comentador do PSD, um dos tais que por essas ilhas abaixo (e de baixo!) andaram pregando, sem convencer nem converter ninguém, com as suas dissimuladas, quase extra-terrestres e pueris narrativas!

Agora, que a nova passarola vai levantar voo, veremos todos até onde o seu vespertino rumo a vai levar, com nove ilhas a bordo e algumas asas e penas feridas à nascença…
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Publicado em RTP-Açores:
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e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 04.11.2012).
Outra versão em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 03.11.2012).