As Passarolas Visionárias
Vá lá saber-se se por uma qualquer
causa real e efectiva, conquanto desconhecida ou pouco positivamente verosímil,
ou se apenas fruto de uma fortuita
coincidência de factores mais ou menos aleatórios,
mas todavia misteriosamente conjugados
– a modos de conjunção escrita nos
astros, no destino ou no fado, como diriam certos crentes em ordens sobre e infranaturais (ou em
outras disposições mais astralmente
próprias de um mundo ainda visto e dito sob modelos aristotelicamente sublunares…)
–, a verdade é que parece haver na história dos homens, dos povos, das regiões
e das tribos um significativo número e uma espantosa variedade de factos e
fenómenos que, aparentemente querendo escapar a uma explicação linear e
objectiva (no que respeita à sua origem, instrumentos, formas de manifestação e
subjacente finalidade), prestam-se depois aos mais mirabolantes esquemas e
propostas de causa/efeito…
– Ora foi isso mesmo que se
tornou a verificar com as fúrias do Sandy, tempestade que se abateu nos últimos
dias catastrófica e especialmente sobre a costa leste dos Estados Unidos e com
emblemático expoente naquela metrópole que ainda não há muitos anos, por outras
causas, cérebros e mãos, viu desabar apocalipticamente dois dos seus mais
exemplares ícones de negócio e orgulho
(ambos, embora confiantes “em Deus”, arranhando o Céu, ou melhor, como bem
corrigiria o velho Platão, os céus, entendidos
estes como algo cá mais por baixo, com nuvens escuras, visíveis e hodiernamente
rasgáveis por naves inter-planetárias, satélites espaciais, mísseis, aviões,
balões e outras passarolas voadoras (todas afinal cridas e queridas herdeiras, para elevação do orgulho lusíada,
daquela nave do padre Bartolomeu de Gusmão, que Saramago, para nosso regalo de
leitura, tão inspiradamente também faria subir, mesmo contra velhas e novas
inquisições culturais, lá pelos maravilhosos ventos ficcionais e romanescos do
seu Memorial…).
É claro que sobre o furacão Sandy
não faltaram genéticas teses surreais, desde as míticas e “religiosas” certezas
de um tal McTernan (pregador e invocador de castigos celestes “made in USA”),
até às mais tecnologicamente sofisticadas e visionárias teorias energéticas e climatéricas
(espécie de feitiço com chuvas,
ventos e danças à Obama, nas vésperas da eleição presidencial na nação mais
poderosa do planeta Terra)!
– Porém, cá na Ocidental Praia,
os vaticínios tem sido bem mais rasteiros, e o grande adivinho de serviço por
estes dias de todos os santos e fiéis defuntos (ou a caminho disso, na romaria
nacional que orçamentalmente a tanto e tal se perfilha…), foi apenas um baixote,
enorme e substancial comentador do PSD, um dos tais que por essas ilhas abaixo
(e de baixo!) andaram pregando, sem convencer nem converter ninguém, com as
suas dissimuladas, quase extra-terrestres e pueris narrativas!
Agora, que a nova passarola vai
levantar voo, veremos todos até onde o seu vespertino rumo a vai levar, com
nove ilhas a bordo e algumas asas e penas feridas à nascença…
__________________
Publicado em RTP-Açores:
__________________
Publicado em RTP-Açores:
Azores Digital:
Networked Blogs:
e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 04.11.2012).
Outra versão em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 03.11.2012).