sábado, abril 20, 2013


50 Anos de Ultreias
nos Açores

Cumprindo-se este ano a passagem de meio século sobre a realização dos primeiros Cursos de Cristandade nos Açores, tal como assinalámos aqui na nossa Crónica anterior (“Reencontros com a História”), justo e devido é realçar esta efeméride, que aliás – e bem – vai ser comemorada, nos próximos dias 26 a 28 do corrente, na ilha Terceira, com a realização, no dia 27 de Abril, da VII Ultreia Nacional (subordinada ao tema “Fé: Experiência de um Amor Recebido e Comunicado”) do MCC (Movimento dos Cursilhos de Cristandade) de Portugal, de acordo com o Programa estabelecido para o efeito e que integra também diversos convívios, visitas e passeios turísticos, para além de uma Eucaristia na Sé de Angra e de outros encontros de reflexão, estudo e meditação.




– Idealizado e dinamizado por um grupo de leigos e responsáveis eclesiásticos católicos espanhóis muito ligados à Acção Católica, com destaque para Eduardo Bonnin Aguiló (1917-2008) e D. Juan Hervás y Benet (1905-1982), estes Cursilhos tiveram início na década de 40 do século passado, num contexto muito marcado pelo tradicionalismo católico, que procuraram ultrapassar através de novos processos evangélicos, pastorais e espirituais, de opções existenciais, valores e métodos de auto-análise de vida e da sociedade circundante, segundo métodos e modelos que fundiam diversas linhas de meditação, oração, reconversão, acção e compromisso eclesial e comunitário, alguns deles sincreticamente, mas de modo inovador, marcados ou reconhecíveis também nos Exercícios Espirituais inacianos, no método de Cardijn e em certas vivências próximas dos carismas e práticas do Opus Dei (de cujo fundador, Josemaria Escrivá de Balaguer, Juan Hervás, aliás, foi bastante próximo…).



Nos Açores, tal como no País em geral, mas também um pouco por todo o Mundo, os Cursos de Cristandade – num quadro especial e específico de renovação do Catolicismo na acção e na espiritualidade laicais – desenvolveram, logo de início, um trabalho que proporcionou realmente uma dilatada partilha de vida e de experiências cruciais cristãs, naqueles anos marcados pelo Concílio Vaticano II e pelo aggiornamento proposto pelo Papa João XXIII, tendo os dois primeiros Cursos para Homens tido lugar em Angra do Heroísmo, e o 3.º Regional (Homens), 1.º em S. Miguel – documentado na Foto que ilustra este texto – ocorrido nas Furnas, em Dezembro do mesmo ano (1963).

– Todavia, o primeiro Curso de Cristandade que teve a presença de açorianos, a convite e por incentivo do Prelado Diocesano de então, foi o 14.º Curso Nacional, realizado no Porto, e que contou com a ida dos Cursistas pioneiros regionais Hernâni Mendonça e Cunha, António Braz e Dr. Henrique Braz, nele tendo também participado militantes empenhados e de grande projecção católica posterior no País, como o Arq. Nuno Teotónio Pereira.

No Curso referido, que teve como Director Espiritual o então Padre Januário dos Reis Torgal (actual Bispo das Forças Armadas), estiveram também presentes o Cónego José Garcia e o Dr. Cunha de Oliveira (que viria depois a ser uma das suas figuras cimeiras e dinamizadoras).

– Por seu lado, o Dr. António Rosa (da Clínica do Bom Jesus) foi, na mesma altura, um dos primeiros animadores dos mesmos Cursos em S. Miguel, juntamente com sua esposa, D. Maria Luísa Rosa (primeira reitora dos Cursos de Senhoras, com a terceirense D. Aurora Braz).

Assim sendo, talvez se possa mesmo dizer que, ao seu nível de objectivos próprios, a par das Semanas de Estudo, os Cursos de Cristandade nos Açores foram, no seu sucesso e impacto globais, desse modo e com as suas propostas de análise e estudo do sentido dos casos, concretizações privilegiadas de momentos ímpares de consciencialização privada e de elaboração do pensamento e da vida da nossa sociedade, umas e outros preponderante e identificadamente com declaradas (e até complementares...) referências doutrinárias, teoréticas, axiológicas e práticas herdeiras da tradição do Humanismo Personalista, da tensão profética do Cristianismo e da Doutrina Social da Igreja.

– Todas estas dinâmicas, com uma feição inter-ilhas, foram – esperançosa e felizmente naquela época… – geradoras consequentes de renovadas consciências sociais, societárias, intelectuais e espirituais, com uma liderante e notabilíssima componente local e regional que – apesar de divergências, concorrências e divisões nos penhascos... – ajudaram decisivamente a pensar e a preparar o nosso Arquipélago para a formulação de novas metas a todos os níveis, nos anos subsequentes e de um modo simultaneamente realista, generoso e utópico, talvez nunca mais igualado até hoje…

19.04.2013
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Em RTP-Açores:
Azores Digital:
e Jornal “Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 21.04.2013).
Outra versão em "Diário Insular" (20.04.2013).