A Continência dos Rasos
Muito usada na gíria castrense,
mas igualmente vulgarizada na linguagem popular, a expressão soldado raso – ou, às vezes, em pouco
mais graduada patente baixa, a quase
equivalente nomeação de cabo raso –, poderia
servir para sugestivas figurações de um qualquer paradigmático estatuto
(voluntário ou involuntário, consciente, subconsciente ou inconsciente) de rebaixamento, despromoção ou recorrente falta
de carácter...
– E sem valer a pena entrarmos
aqui em cogitações de psicologia das
profundidades, não deixaria de ser pertinente levantar até a hipótese de alguns
sujeitos que fizeram serviço obrigatório
(ou forçado) terem ficado para a vida toda com uma espécie de reflexo
condicionado, trauma, complexo ou mania de bater
continência, baixar cerviz, ajoelhar-se, acocorar-se, pôr-se em sentido (ou
noutra pose de subserviente postura e toada…) logo que presentes a reais ou
substitutivos superiores (transaccionais
objectos mais ou menos totémicos,
afinal), chefes de partido, caudilhos, patrões, capatazes, vozes de coligado senhorio, cabecilhas políticos, grão-mestres, veneráveis camaradas ou irmãos de seita religiosa, secretaria, loja, confraria ou lobby…
De resto, idênticos mecanismos
psico-comportamentais (institucionalmente situados…) poderiam ainda ser
detectados em certos indivíduos fracos, eticamente invertebrados, passionalmente
desviantes, problemáticos ou descompensados, tais aqueles que tiveram trajectos
marcados por experiências pouco gratificantes naquelas conhecidas e já chamadas
instituições sociais totais (v.g. quartéis,
seminários, colégios internos, prisões e hospitais, mas também clubes e
claques, quadrilhas, partidos e grupos políticos…), especialmente quando os
seus percursos e currículos ficaram tingidos por dependências despersonalizantes, atitudes passivas (amiúde ainda
bipolares), algumas até mesmo candidatas a foro psico-patológico!
Ora entre nós também temos
ultimamente assistido, em tribunas, parlamentos e palcos mediáticos, a várias dessas marciais,
lacrimejantes ou sáurias (in)continências, muitas das quais, assim, só poderão ser
explicadas por mecanismos como os acima descritos…
– Ou não estivessem novamente Eleições à porta de armas, e eles, rasos, amestrados à chibata, trémulos e
acobardados, já prontos para bater
novamente a pala aos sicários do Poder e aos gestores e ecónomos dos seus vendidos,
pobres e ensandecidos espíritos.
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Os Sinais da Escrita:
RTP-Açores:
Azores Digital:
“Diário Insular” (Angra do
Heroísmo, 15.06.2013),
e “Diário dos Açores” (Ponta
Delgada, 16.06.2013).