sexta-feira, julho 05, 2013

Um País e um Povo Reféns



Ao longo da sua multissecular existência, Portugal e os Portugueses tem sido reféns de toda uma série de factores condicionantes, acontecimentos, acções individuais e outras determinantes humanas, histórico-políticas, geo-económicas e mentais que sempre lhes moldaram a identidade, os rumos societários e as próprias figuras, valores e modelos com os quais a mesma viabilidade do País e o carácter da sua Grei se foram cimentando, construindo, desconstruindo e reconstruindo ao longo dos tempos e das gerações.

– De resto, assim também aconteceu evolutivamente em quase todos os actuais Estados, Nações e Regiões do Mundo, desde os mais primitivos agrupamentos gregários, tribos ou hordas, até às mais juridicamente consolidadas comunidades vigentes, sejam elas pré ou pós-modernas, hegemónicas, dependentes, falhadas ou insularmente párias…

Por outro lado, a partir de pressupostos filosóficos, doutrinais, ideológicos e até poéticos (alguns deles pouco racionais ou racionalizados, míticos, oníricos ou somente retóricos…), esta fundamental questão da identidade nacional, do direito (enquanto granjeado mérito…) à independência, e até da própria legitimidade histórico-cultural e civilizacional de Portugal como Pátria e País soberano – ou apenas, que fosse ou seja, realmente autónomo… –, tem constituído um daqueles motivos mais angustiada e recorrentemente pulsáteis (diga-se, mais precisa e exactamente aqui, intrincados em e como pulsão) na consciência nacional lusíada, ao menos tal como ela ocasionalmente (porém sempre obsessivamente!) tem aflorado à auto-consciência crítica, à inteligência reflexiva, ao discurso tematizador e à sensibilidade estética ou ficcionalmente representativa dos nossos maiores pensadores, poetas e artistas, conquanto, igualmente, às vezes (mas bem mais amiúde, infelizmente, como por estes vertiginosos dias todos os Portugueses puderam constatar…), pela negativa, na primária, esquizofrénica, irresponsável, incompetente, leviana e objectivamente criminosa actuação dos malfadados principais actores institucionais que temos, com os seus abjectos próceres político-partidários, em cujas comuns, enlameadas e irmanadas mãos e cegas mentes todo um desgraçado Povo, falido, hipotecado (a termo incerto e em cada vez mais longínquo horizonte), e descrente, agoniza, noite após dia, naquele fatídico domínio do poder e do “gosto da cobiça e […] rudeza/ duma austera, apagada e vil tristeza”, com que sucessivas vagas de canalha como “gente surda e endurecida”, sem vergonha e impunemente, enganaram e querem persistir em ludibriar toda a esperança de Liberdade e de Justiça.
___________________
Publicado em Azores Digital,
RTP-Açores,
e "Diário dos Açores".
Outra versão em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 06.07.2013).