Ao longo da sua multissecular
existência, Portugal e os Portugueses tem sido reféns de toda uma série de factores condicionantes, acontecimentos,
acções individuais e outras determinantes humanas, histórico-políticas, geo-económicas
e mentais que sempre lhes moldaram a identidade, os rumos societários e as
próprias figuras, valores e modelos com os quais a mesma viabilidade do País e
o carácter da sua Grei se foram cimentando, construindo, desconstruindo e
reconstruindo ao longo dos tempos e das gerações.
– De resto, assim também
aconteceu evolutivamente em quase todos os actuais Estados, Nações e Regiões do
Mundo, desde os mais primitivos agrupamentos gregários, tribos ou hordas, até
às mais juridicamente consolidadas comunidades vigentes, sejam elas pré ou pós-modernas,
hegemónicas, dependentes, falhadas ou insularmente párias…
Por outro lado, a partir de
pressupostos filosóficos, doutrinais, ideológicos e até poéticos (alguns deles
pouco racionais ou racionalizados, míticos, oníricos ou somente retóricos…),
esta fundamental questão da identidade nacional, do direito (enquanto granjeado
mérito…) à independência, e até da própria legitimidade histórico-cultural e
civilizacional de Portugal como Pátria e País soberano – ou apenas, que fosse
ou seja, realmente autónomo… –, tem constituído um daqueles motivos mais
angustiada e recorrentemente pulsáteis
(diga-se, mais precisa e exactamente aqui, intrincados em e como pulsão) na consciência nacional lusíada, ao menos tal como ela ocasionalmente
(porém sempre obsessivamente!) tem
aflorado à auto-consciência crítica, à inteligência reflexiva, ao discurso
tematizador e à sensibilidade estética ou ficcionalmente representativa dos
nossos maiores pensadores, poetas e artistas, conquanto, igualmente, às vezes
(mas bem mais amiúde, infelizmente, como por estes vertiginosos dias todos os
Portugueses puderam constatar…), pela
negativa, na primária, esquizofrénica, irresponsável, incompetente, leviana
e objectivamente criminosa actuação dos malfadados principais actores institucionais que temos, com os seus abjectos
próceres político-partidários, em cujas comuns, enlameadas e irmanadas mãos e
cegas mentes todo um desgraçado Povo, falido, hipotecado (a termo incerto e em
cada vez mais longínquo horizonte), e descrente, agoniza, noite após dia,
naquele fatídico domínio do poder e do “gosto da cobiça e […] rudeza/ duma
austera, apagada e vil tristeza”, com que sucessivas vagas de canalha como “gente surda e endurecida”,
sem vergonha e impunemente, enganaram e querem persistir em ludibriar toda a
esperança de Liberdade e de Justiça.
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Publicado em Azores Digital,
RTP-Açores,
e "Diário dos Açores".
Outra versão em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 06.07.2013).