Arquitecturas de Felicidade
Alain de Botton é um dos
escritores nossos contemporâneos (nasceu em 1969) cujos ensaios sobre algumas
das formas quotidianas e geralmente
ditas “pós-modernas” de viver, de pensar e de agir tem granjeado bastante
popularidade em todo o mundo (e mais recente e editorialmente também em
Portugal), talvez por constituírem uma espécie de escrita intertextual e disciplinarmente
eclética, onde diferentes conteúdos psico-existenciais e múltiplos registos socio-experienciais,
afectivo-vivenciais, discursivos, éticos e estéticos aparecem articulados de
modo sugestivo (conquanto às vezes mais ficcionalmente reconfigurados, aplicados
ou acomodados metodicamente de forma nem sempre muito rigorosa ou fiel
relativamente às respectivas matrizes, tradições ou universos conceptuais
específicos…).
De entre os vários títulos de
Alain de Botton traduzidos em português contam-se Alegrias e Tristezas do Trabalho, O Consolo da Filosofia, A
Arte de Viajar, Como Proust pode
mudar a sua Vida, Religião para Ateus
e Arquitectura da Felicidade (original
de 2006).
– Esta última e muito sugestiva
obra, que também contém muitas ilustrações apropriadas ao deveras fascinante
assunto ali tratado, conforme a recente edição da Leya/D. Quixote (2013)
precisamente salienta, parte do direccionamento
intencional de olhares e da formulação
de perguntas filosóficas sobre
toda uma série de fenómenos estéticos, simbólicos e existenciais (pluriculturais
e inter-civilizacionais) ligados à Arquitectura e ao seu Significado, ao Estilo
e ao Gosto, à Construção Material, à Ordem do Edifício e ao Ideal de Casa,
trabalhando assim questões aparentemente
tão simples, mas afinal tão potencialmente
complexas e virtualmente incondicionadas,
como:
– “O que faz verdadeiramente uma
casa ser bonita?”, “Porque existem tantas casas feias?”, “Porque discutimos tão
amargamente sobre sofás e quadros?”, ou “Poderá o minimalismo fazer-nos mais
felizes que a ornamentação?”.
Ora é para procurar respostas a
“estas e outras perguntas” que Alain de Botton olha para “edifícios dispersos
pelo mundo inteiro, das casas de madeira medievais aos modernos arranha-céus;
examina sofás e catedrais, serviços de chá e centros empresariais, ao mesmo
tempo que tece um conjunto de surpreendentes provocações filosóficas, “convidando-nos
a viajar” – e a aprofundadamente dialogar, ou chamar ao mesmo diálogo, os
grandes Filósofos que pensaram fenomenologicamente o espaço vivido e as suas estruturas
reais e matérias reais e imaginárias…
–, “através da história e psicologia da arquitectura e do design, permitindo-nos alterar a forma como olhamos para as casas
em que vivemos – e ajudando-nos a tomar melhores decisões”…
– Oxalá que a tanto nos
decidíssemos individual e colectivamente, em todas as áreas onde se constrói a
felicidade (e a infelicidade) dos povos e das gerações, mais que não fosse por
esta última razão de ajuda (que é de
Vida, de Cultura, de Património e de Identidade), cada vez mais necessárias a
um País como o nosso, que empobrece em tudo menos na arquitecturada infelicidade do
presente e na fealdade do seu futuro
próximo!
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 12.10.2013):
RTP-Açores:
Azores Digital:
e "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 20.10.2013):