A Banalização do Exílio
Mário Soares, ex-PR, ex-PM e
fundador do PS, acaba de ser simbolicamente homenageado em França, tendo-lhe
sido entregue pelo maire da “cidade
luz” a Grande
Médaille de Vermeil de la Ville de Paris.
– A
linda cerimónia, no Hôtel de Ville, contou com a presença, entre figuras
gaulesas e nacionais, de Jospin (ex-PM e ex-líder do PS francês), mas acabou
por ficar, acima de tudo, marcada – embora sem notoriedade externa, mas mesmo
assim como motivo de interesse na velha terra lusitana (agora, nas plagiantes e
delico-doces sentenças do vice-PM, transformada em mísero e dependente
“protectorado”) –, pela mui relevada e prestigiante comparência entre os
convidados (presume-se que por oficioso conchavo protocolar inter-pares) do
também ex-PM e ex-condottieri do
ex-PS de Soares, José Sócrates!
Até aqui tudo estaria nos
conformes, êxtases e desvanecimentos da ilustrada entourage daqueles camaradas euro-socialistas, não fosse o que de
seguida mais assombrou a pompa da dita circunstância, quando Mário Soares, com
a incauta (?) bonomia que é apanágio da sua magnânima personalidade, depois de
evocar os seus propedêuticos e penosos tempos “de exílio” democrático, e após
tanger forte e feio no primo-comissário Durão, na troika, na austeridade, em Merkel e no governo do seu País,
dirigindo-se ao novel “mestre” ali acolhido
– porém mediaticamente não encolhido!
–, resolveu perorar neste laudatório:
– “Sou um grande amigo de
Sócrates e penso que ele está a passar pelo mesmo que eu passei, que vivi aqui
quatro anos no exílio – penso que ele, depois de dois anos em Paris, também é
outro homem, com uma cultura que não tinha antes”...
A tais palavras, parolas (apenas paroles?), hão-de varrê-las, algum dia, limpos e novos ventos em
Portugal (e talvez até no PS)!
Mas a tamanha falta de auto-estima, tão confrangedor aviltamento da imagem pessoal
própria e tão ignóbil torção da
verdade histórica, só a mais abjecta e ofensiva banalização ética de um exílio político poderia ter verbalizado em igual retórica cínica, gerando, no duplo espelhado da respectiva representação,
o fantasma da sua vacuidade.
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Publicado em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 16.11.2013).
Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=2470
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Jornal "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 20.11.2013):
RTP-Açores: