segunda-feira, fevereiro 10, 2014



Um Sentimento de Pertença


1. Já depois de escrito e publicado no DI o texto da habitual Crónica de sábado, tive oportunidade de assistir, com gosto e por amável convite do Organização, ao Colóquio “Evolução e Futuro da Autonomia Açoriana”, promovido pelo PSD-A em Angra do Heroísmo e que contou, nos respectivos Painéis, com os apreciáveis e mutuamente complementares contributos de Álvaro Monjardino, Carlos Raulino, Cunha de Oliveira, Dionísio Sousa, José Decq Mota, Mota Amaral, Reis Leite e Weber Machado, com moderação de José Lourenço e Vítor Alves.

– Pelo nível intelectual e cordialidade política e democrática, pertinência crítica, seriedade cívica e sinceridade pessoal dos trabalhos ali apresentados, não posso deixar de pronunciar aqui uma palavra de justo reconhecimento e justificado louvor a Duarte Freitas e ao meu colega e amigo Carlos Pacheco Amaral, empenhado Coordenador deste positivo e motivador projecto do PSD-Açores.

Independentemente de posteriores considerações possíveis – algumas mais globalmente apenas balanceáveis a quando da publicação integral em livro (de Actas, digamos assim, ou similar, dos textos lidos e das comunicações orais proferidas nesta Conferência sobre Evolução e Futuro da Autonomia Açoriana, conforme muito recomendado entre nós todos assistentes e participantes, e depois confirmadamente anunciado por Carlos Amaral) –, algumas breves notas finais quero todavia e a propósito ainda adiantar já hoje.


2. Assim, o primeiro registo que faço é para a feliz constatação de que, pesem embora todos os acidentes, avanços, recuos, impasses, erros, discordâncias internas e conquistas externas da progressiva caminhada autonómica açoriana no pós-25 de Abril de 1974, permanece e sente-se em ocasiões como aquela que se viveu naquele Colóquio um intenso sentimento de pertença aos Açores e ao Povo Açoriano (conceito aliás ali aflorado), – sem esquecer porém os desafios insulares cruciais que a Autonomia teve de enfrentar (e enfrenta novamente agora, mas noutros termos...) a todos os níveis, desde os bem lembrados primeiros embates e rebates constituintes e político-constitucionais sobre o Estado Unitário e as Autonomias Regionais, passando pelas várias configurações pensadas ou propostas sobre um (in)desejado Estatuto Político-Administrativo para o nosso Arquipélago (como Região a construir...), até aos entraves e contrariedades de toda a ordem porque passámos aqui, com tentativas de bloqueio e garrotes que correram pelas – esquecidas ou escamoteáveis? – campanhas nacionais e regionais da famosa 5.ª Divisão, do Copcon, dos cercos a assembleias e congressos, do arbítrio de patrulhas militares e para-policiais, tentações totalitárias, prisões e detenções abusivas do Direito e à revelia da Justiça, atentados bombistas e expatriações de cunho separatista, processos contra a liberdade de Imprensa e de Opinião – que nós próprios pessoalmente sentimos e também um dia destes haveremos de recordar (como aqueles, entre outros conhecidos, que sobre o “Diário Insular” se abateram...) –, enquanto no então recém-eleito Parlamento Constituinte acesos eram os debates em Plenário e dentro dos vários Partidos e sectores político-partidários sobre tanto e muito de tudo aquilo que também respeitava aos Açores e que temos bem presente, documentado e sempre novamente analisável (como algo historicamente situado e ao final democraticamente superado por todos, ou quase todos...).


3. Finalmente, não pude deixar de ouvir com emoção a referência feita pelo Dr. Cunha de Oliveira a uma viagem de estudo e trabalho (para a então Junta Regional dos Açores) que ele fez, em meados da década de 70 e em lembrada companhia de meu pai, às laboriosas e prósperas Comunidades Portuguesas na Califórnia, tal como ficou aliás assinalado na elucidativa série de Crónicas (depois reunidas em livro prefaciado por Jorge de Sena e posfaciado por Eduardo Mayone Dias), que o jornalista Hélder Pinho produziu para o jornal “A Capital” (Lisboa, Editorial Notícias, 1978).

– Aí, mais do que aquilo que familiarmente nos foi dado recordar, está também, acima de tudo e para além do resto que se omite agora, paradigmaticamente assinalado muito daquilo com que sucessivas (quase já três...) gerações de Açorianos sucessivamente idealizaram, diligenciaram, trabalharam e tentaram (tantas vezes ingloriamente, em vão, sem autêntico aproveitamento pragmático, nem reconhecimento de quase ninguém!) fazer implementar nas nossas ilhas com a Autonomia Constitucional democrática que o Povo Açoriano (com o seus melhores líderes, esclarecidas elites e cidadãos empenhados...) tanto vinha (e continua ainda...) apenas sonhando (des)acordado ou – como foi ali incisivamente dito – sonâmbula e abulicamente sempre e sempre tropeçando na História, qual cego conduzido por outros não só ainda mais cegos quanto voluntária e culpadamente néscios e impunes!
_______________

Em RTP-Açores:
http://tv2.rtp.pt/acores/index.php?article=35335&visual=9&layout=17&tm=41:



















e "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 11.02.2014):