As formas da Tortura
Com lançamento anunciado para o
próximo dia 16, a 2.ª edição do livro de José Sócrates A Confiança no Mundo inclui um posfácio novo de Eduardo Lourenço,
texto este que o “Público” divulgou no passado dia 6 sob o título de “O desejo
amoroso do mal”.
– A obra, como é sabido, aborda o
problema teórico e a consumação prática da Tortura em regimes
democráticos, defendendo o autor que esse fenómeno constitui, claro, não só um
atentado à intrínseca e inerente
dignidade dos seres humanos, quanto
é um índice da profunda degenerescência e
falsificação a que todos os regimes políticos – mesmo os liberais ou
jurídico-formalmente estruturados como Estados de Direito – podem estar
sujeitos, no que assim se instituem em aparelhos
destituídos de legitimidade ético-política e de autoridade moral!
A tese – cuja perspectiva crítica
de abordagem, embora não sendo propriamente inédita, traz alguns sugestivos
contributos sintéticos para uma mais articulada questionação do fenómeno da
Tortura no pensamento tradicional e na história política, securitária, colonial
e militar-imperial recente das democracias europeias e norte-americana (aqui,
nomeadamente após aos atentados terroristas do 11 de Setembro, com as
contra-posições tácticas e estratégicas assumidas pelos EUA a nível
jurisdicional, penitenciário e torcionário...).
– Este livro de Sócrates, sendo
agora mais filosoficamente lido (e legível...) de modo generoso, como o faz
Eduardo Lourenço, poderia porém não só trazer à reflexão uma mais ampla e
referencial evocação ética e quase
metafísica do problema (e do Mistério?) do Mal – tanto no que ele absolutamente opõe, ou tenta derivadamente sub-trair, ao Bem...–, quanto
deveria ainda estender a sua mesma visão
criteriosa a tudo o que, por entre a barbárie radical da violência universal sádica e niilista da
Tortura e seus (suposta ou alegadamente) banais (e menores?) actos maléficos quotidianos (a mentira,
a injustiça, a opressão e a simulação ocultante da verdade...) ainda permanece,
quase inocentemente, fruto da tal invocada (desculpabilizante?) inumanidade de que (todos?) somos, ou
parecemos ser, parte integrante...
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 12.04.2014):
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