OS SALTEADORES DO PAÇO
O que se viu nas últimas eleições
– e de quem para elas se marimbou (80% de
abstenção nos Açores – bonito sinal de cidadania
autonómica, sem dúvida, e a merecer foguetório de “vitória”!) –, foi de tal
dimensão que devemos retomar o que merece
ser pensado, tanto mais quanto a antes citada caixa de pesadelos e maldições de Pandora está já a deixar sair
vários daqueles sintomáticos fantasmas –
muitos deles previsíveis... – que a
velha, cega e cínica Europa, com muitas das suas regiões, vem gerando em suicidário bojo...
– Dito e redito isto (conquanto não
estando em causa a invocada e real
necessidade de revisão de
processos, ideários e práticas dos partidos, cá e lá obviamente, mas desde
há muito!), como não pasmar das neo-patéticas cenas de perfeito desvario – despeito fratricida, ambição pessoal ou
atracção pelo abismo? – que o País inteiro testemunha face à fria e calculista
consumação das puras jogadas de ponta e
mola nas duras hostes de Costa contra
as maviosidades tácticas de Seguro (às quais por certo sucederão almejadas minagens
aos trilhos para Belém...), e onde nem faltaram, em indigente coro ilhéu (41 em 20% de eleitores!), tremendas
vociferações e demolhadas prosas de casticismo inócuo carpindo sobre tão
(mal)dita e pirrónica “vitória bisonha” – “uma alcatra sem Jamaica, um verdelho
a 10 graus” (sic) –, ali à porta desta expiatória ultra-perifericidade, hoje pseudo-democrática
e pseudo-autonómica ainda, cívica e
culturalmente ébria de ficções e mitos enganadores, como se tudo se resumisse
(na Europa, no País, nos Açores e em
todos os quadrantes político-partidários) a uma pugna de garotos armados
com fisgas, ou a chusma de velhacos metralhando a frio, e desleais, aos tombos e empurrões extemporâneos, qual
bando de salteadores, cada um a correr para sua banda nas escadas, salas e
varandas do Paço, todos à procura de um (talvez agora mais remoto!) buraco na despensa ou na sala do trono, cujos actuais e coligados
reis e xerifes, em confrangedor protectorado euro-luso, podem assim gerir na recuperação da sua derrota,
como se esta fosse, ou tivesse sido, uma inesperada e dadivosa vitória à outrance...
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Em "Azores Digital":
e "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 31.05.2014):