Uma Epopeia Governamental
Causou furor e muito comentarismo nos OCS e nas Redes Sociais uma série absolutamente fabulosa de Fotos da Agência LUSA, na qual o Primeiro-ministro (PM) e sua Comitiva aparecem numa visita guiada e interactiva a um recém inaugurado “Museu dos Descobrimentos”.
– E dessas sugestivas e inspiradoras imagens
especialmente apreciadas tem sido aquelas que mostram a selecta e dita
tripulação museologicamente sentada num lindo bote-barca (ver reportagem aqui: http://www.tvi24.iol.pt/fotos/1/351263),
embasbacada toda com tanto exotismo plástico numa tropical cenografia, que só visto...
Deixando porém nos devidos lugares
tanto a iniciativa privada que investiu no dito “Museu”, quanto, no seu
anedótico barco, quem por ali navegou deslumbrado em aventureira fita..., – o
que se espera em sequência é que idêntica atenção e fascínio pela promoção da
Cultura, da Arte, do Pensamento e da Ciência, tamanho incentivo ao Progresso, ao
tão falado “Empreendorismo” e à Criatividade nacionais venham a ser sempre
concedidos pelo Governo (por este ou por outro qualquer de igual jaez!) – sequer
ao menos em parecida
medida e divulgação – aos autênticos Museus de Portugal e seus preciosos
acervos histórico-civilizacionais (ao abandono), aos Institutos de Investigação
Científica (sem verbas suficientes), aos Laboratórios (estagnados ou em retorta
fria), às Universidades (desorçamentadas), às Escolas (degradadas), às
Bibliotecas e Arquivos (com documentação a apodrecer), à preservação urgente
dos nossos verdadeiros Patrimónios monumentais (a perderem-se por esse País
fora), às Galerias de Arte (desamparadas e esquecidas), e – enfim – ao trabalho
credenciado dos nossos Historiadores, Cientistas, Estudiosos, Alunos,
Professores, Escritores, Intelectuais, Trabalhadores a Animadores Culturais, Artistas
e Investigadores portugueses, – tantos deles, amiúde os melhores, condenados
ao ostracismo, ao desalento, à subalternização académica, à estagnação
institucional sistemática e à emigração, ou crescentemente penalizados e destruídos no seu
trabalho e talento por cegueiras, mediocridades instaladas, imprevidências e
ignorâncias políticas projectadas em investimentos de miséria e irresponsáveis
lógicas de planeamento sem prioridades estrategicamente acauteladas, sem
realismo nem imaginário que lhes valha uma artificial espuma de lucidez
governativa e patriótica!
– O resto, como seria de
contra-argumentar, por muito meritório que fosse, pode não ir muito além da
criação de novos modelos privados ou públicos (no caso tanto faz!) para a
proliferação menor de uma espécie supostamente moderna e tecnologicamente
sofisticada de outros, novos ou velhos “Portugal dos pequeninos”, talvez apenas
para turista ou criança lusa ver como quem vai a um Parque de Diversões ou a uma qualquer
Lusolândia
mais ou menos fantasista, virtual ou teatral nos seus discutíveis materiais, símbolos,
pastiches e avalizados conteúdos...
Mas seja como for, nada disso
invalida nem anulará o que, na antecâmara de um surrealismo pueril, está ali em diversa e hilariante
possibilidade de observação:
– Essa mesma, a das ridículas
figuras grupais que deslizam abancadas naquela lancha-batel de plástico museológico,
dentro da qual o PM e a sua selecta Comitiva de improvisados navegantes
governamentais (mais ou menos ciceroniados a preceito e
embevecidamente embasbacados todos...), à medida que vão passando por bichos
medonhos, selvas de arrepiar cabelo, peças armadas e quadros alegóricos das
nossas excêntricas e heróicas viagens de descoberta, conquista e epopeia de antanho,
perante o quase incrédulo, divertidamente contraposto, irreprimível e
espontâneo desejo de tantos Portugueses os verem antes... afundando-se, molhados
até à cintura e esbracejando nas próprias e falsas marés das suas duplas simulações
merecidamente sonorizadas por uma desopilante gargalhada geral, dobrada agora e
ainda mais deliciosa pelo País inteiro, como no lembrado tempo de mestre Gil,
quando eles (os mesmos... ou os seus antepassados ainda próximos?) já então iam
dando pé à prancha do Inferno, “com fumosa senhoria,/ cuidando na tirania/ do
pobre povo queixoso”, assim chamando-os
o próprio Diabo “Á barca, à barca, senhores!/ Oh que maré tão de prata! Um
ventezinho que mata/ e valentes remadores”...
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 10.05.2014):
Em Azores Digital:
RTP-Açores:
http://tv2.rtp.pt/acores/index.php?article=36317&visual=9&layout=17&tm=41:
e "Diário Insular (Angra do Heroísmo, 18.05.2014):
e "Diário Insular (Angra do Heroísmo, 18.05.2014):