sábado, julho 26, 2014


Os Leiloeiros da Pátria


As últimas semanas – tão recheadas de episódios cujo significado real só terá paralelo na sua confluente significação simbólica –, se vistas pelos olhos de um ficcional viajante planetário que resolvesse seguir sincrónica e diacronicamente o trânsito secular e os momentos pontuais dos calendários solares ou lunares das diferentes civilizações e povos da Terra – desde as sólidas mas misteriosas e enleantes muralhas da China até às decadentes matrizes da tardo-imperial Razão europeia, ou logo um pouco abaixo e para diante até aos frágeis e minúsculos ilhéus vulcânicos que emergem das cicatrizes da grande dorsal do Atlântico... –, não deixariam por certo de pô-lo de olhos em bico (irados ou lacrimejantes, conforme o teor das suas pupilas histórico-culturais, ético-espirituais e geopolíticas)!




 – Todavia, deixado entre parênteses tudo aquilo que nestes dias ter-se-lhe-ia mostrado como mais digno de registo e reflexão universais (desde os horrores bélicos nos trovejantes e mortíferos céus euro-asiáticos da Ucrânia até às reacendidas fogueiras dos para-bíblicos, sangrentos e sanguinários massacres e contra-terrores no Médio Oriente), talvez não escapassem a tal observador (quem sabe se por natural afinidade histórica ou reminiscência de leitura de algum clássico da literatura dos ancestrais filhos de Luso...) algumas das mais edificativas cenas e peripécias tragicómicas que se vem desenrolando nas marés e areais pantanosos de um quotidiano Alcácer-Quibir interno onde jazem destroços e pastam os gusanos da agiotagem, impune corrupção político-financeira, imperante garotice e baixeza de carácter das castas e aparelhos sociais ali e aqui promovidos à custa da exploração do Povo e das despudoradas fragilidades de uma “democracia” apenas nominal, disfuncional e acéfala, enquanto tudo e (quase) todos são compráveis ou vendidos neste babélico mercado de interesses, onde, desde a mercenária cacofonia político-partidária nacional e regional até ao internacional tilintar argentário das línguas na CPLP, cabem todos os leiloeiros das nações e da Pátria, de cara ao léu ou travestidos de “governantes”...

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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 26.07.2014):