A Imagem e o Espelho
O Editorial do “Diário Insular”
(DI) de anteontem (07.08.2014) é um excepcional texto de análise e fundamentada
problematização dos modelos hegemónicos da programação televisiva que enxameia e mentalmente
conspurca o nosso espaço público.
– Trata-se de um artigo que honra
este jornal, tanto quanto constitui ensaio
de reflexão e registo crítico
sobre o modo, dimensão e alcance daquela tão massiva exposição mediática “nas tomadas de decisão quotidianas,
quer na vida pessoal [...], quer na vida em comunidade”.
Assim, começando pela questão da influência efectiva que nas percepções e acções do povo terá tão
sistemática e panóptica programação
(“mesmo pimba e mesmo pró reles”), o DI alveja de seguida os agiotas e oportunistas esquemas de negociata de catálogo e pérfido figurino que, sobrepondo-se aliás à já de si amiúde indigente, subserviente e pindérica produção
local, “uma vez por outra aterram [...] aí pelos Açores, certamente onde são
dadas condições (...) para que tais desatinos ocorram. Incautos, como em muitas
outras circunstâncias, os açorianos lá criam as condições, certamente na
esperança de o seu concelho, a sua terra, ganharem notoriedade, serem vistos ou
coisa parecida”...
– E verdade é que o que está “em
causa não é apenas o retorno para os Açores. É também o aleijão ético e moral
de participar num processo que provavelmente estará a transformar este país
numa espécie de ‘freak show’ dos pobrezinhos”!
Ora para quem presenciou o último
“Verão Total” (tele-subproduto, provinciano e rafeiro, vendido à RTP pela
“Coral”, numa tosca e aviltante parceria, neste caso, com a Câmara da Praia e
com a serventia habitual – desde há tempos ainda mais medíocre e subserviente –
da sua Delegação na Terceira), em nada o cenário denunciado pelo DI seria menos adequado!
– E depois, entre as potencialidades imensas de um (ausente e
desperdiçado!) retrato fiel e honroso
da Cidade e do Concelho, das suas gentes, valores e patrimónios, e aquela arrivista e humilhante pimbalhada toda (político-institucionalmente
cozinhada e irresponsavelmente consentida aqui!), a distância é tão grande como
a que separa as imagens reais dos aleijões engendrados à exacta e burlesca
medida dos espelhos que cegamente a
reflectem e pagam...
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Em Azores Digital:
RTP-Açores:
e “Diário Insular” (Angra do Heroísmo (09.08.2014):