Origem e Destinos do CDS-PP
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1. Está o CDS-PP comemorando o seu 40.º Aniversário com uma série de iniciativas nacionais e locais, tendo cabido há uma semana a vez aos Açores. Na altura em que escrevi uma primeira versão abreviada deste texto, cumpria-se agenda da visita do seu actual presidente nacional (Paulo Portas) à ilha Terceira (Angra do Heroísmo), durante a qual tiveram lugar visitas de trabalho e reuniões, para além de uma Sessão Solene onde foram homenageados os primeiros dirigentes eleitos em congressos regionais do partido, e bem assim os seus ex-presidentes Rui Meireles, José António Monjardino e Alvarino Pinheiro.
2. Fundado em 19.07.1974 por um referencial
grupo de personalidades situadas numa área que abrangia
democratas-cristãos, conservadores e liberais (v.g. Freitas do Amaral, Amaro da
Costa, Basílio Horta, Sá Machado e Xavier Pintado), a instâncias de diversos
membros das Forças Armadas (nomeadamente de Almeida Bruno, um heróico
combatente da guerra na Guiné e chefe da casa militar de Spínola), o CDS foi
tendo crescente, conquanto não linear,
importância na vida político-partidária, parlamentar e governativa portuguesa, aliás
marcada pela evolução (e também pela regressão...)
da Democracia, pelas trajectórias e dinâmicas conjugadas dos partidos,
movimentos e restantes corpos sociais, a par dos seus sucessivos percursos estratégicos, reconfigurações identitárias e
estilos de liderança (Freitas do Amaral, Lucas Pires, Adriano Moreira, Manuel
Monteiro, Ribeiro e Castro, e Paulo Portas).
Como podemos reler no seu próprio
livro O Antigo Regime e a Revolução:
Memórias Políticas (1941-1975), Freitas do Amaral – cujo pai tinha sido
secretário de Salazar e deputado da União Nacional (UN) e da ANP (Acção
Nacional Popular) entre 1957 e 74 – era na altura no 25 de Abril um jovem
professor de Direito (tendo aliás depois sucedido a Marcello Caetano em cujo
reformismo acreditara e a quem pessoalmente fora leal), após ter sido membro da
Câmara Corporativa, embora tenha sempre recusado aderir àquelas organizações do
Estado Novo, tal como não aceitara o cargo de ministro da Justiça em 1973.
– Porém, na criação deste
partido, como é sabido, a par de Diogo Freitas do Amaral coube a Adelino Amaro
da Costa desempenhar um papel nuclear na orientação
ideológica e estratégica do CDS, dando-lhe, embora em diferentes medidas e
tonalidades, tal como consta do seu primeiro Programa, uma original feição “centrista” e democrata-cristã,
defensora de «uma sociedade mais justa onde as pessoas possam ser tratadas em
pé de igualdade, sem discriminações, nem privilégios», reclamando-se mesmo de inspirações
recolhidas do notável “humanismo personalista” de Mounier – identicamente também
partilhadas por largas faixas do então também recém-criado PPD (06.05.1974) de
Francisco Sá Carneiro – e em parte significativa decorrentes da excepcional e talentosa influência
teórico-prática do próprio Amaro da Costa (membro do Opus Dei).
3. Nos Açores, nos últimos tempos tendo de certo modo elegido a
Saúde, a Educação e os Transportes como áreas preferenciais das suas atenções e
das suas intervenções político-parlamentares regionais, de ilha e autárquicas,
apesar de uma evidente e tendencial
quebra eleitoral, com oscilações de implantação estável no todo do
arquipélago (especialmente em S. Miguel, mas ainda em alguns dos seus
tradicionais “bastiões” concelhios e de freguesia), o CDS-PP nos Açores
continua ainda marcar pontualmente, conforme pode e sabe, certas agendas e
debates importantes.
– E isto apesar de um notório decaimento da sua dinâmica de
participação e reflexão conjuntas a nível interno, e do trânsito, em fuga interesseira e carreirista, ou de
mero deslocamento (v.g. para as hostes “socialistas” do PS!) oportunista, de
descarados trânsfugas inter-partidários
(fauna infelizmente residente em quase
todos, muitos, clientelismos de
partido e seus aparelhos, domínios, serventias e proventos, alguns deles
efémeros e desonrosos, é certo, conquanto conjunturalmente lucrativos enquanto
duram, para mal de todos e descrédito ético e axiológico da Democracia e da
Autonomia...
Todavia, nas ilhas açorianas e
nesta Região Autónoma, é justo lembrar e assim aqui se pretende avivar acima de
tudo – nesta incentivadora passagem do 40.º Aniversário da sua fundação – todos
os empenhos e trabalhos regionais dos centristas e democratas-cristãos, desde
aquele Memorando (30.12.1975) de contra-posição crítica ao Ante-projecto de Estatuto Político-Administrativo elaborado pela
Junta Regional, e logo depois, desde as pioneiras Legislaturas (1976-80, 80-84
e 84-88), então com destaque e méritos
para Rogério Contente, Fernando Monteiro, Rui Meireles e Alvarino Pinheiro
(deputado este entre 1984 e 2006, e grande e incansável impulsionador do
relançamento, consolidação eleitoral e credibilização político-institucional do
CDS-PP no Arquipélago) –, até hoje, que este partido, agora dirigido por Artur
Lima – concorde-se ou não com os seus
ideários e práticas ao longo destes
anos –, tem um passado balanceado de consideráveis
contributos positivos para a construção e defesa da Autonomia e para
o prestígio das instituições insulares, a todos os níveis da nossa vida
colectiva!
– Como se disse antes (e nunca será
de mais repetir...), oxalá assim fosse sempre sobremaneira evocado e
merecidamente reconhecido, talvez desse modo evitando-se algumas detectáveis descoordenações e outros menosprezos de atendimento ou deslizes
de gestão política real e simbólica
que, mais dia menos dia, cairão afinal (como noutros quadrantes partidários identicamente acontece!) em cima das
costas (eleitorais, político-partidárias, profissionais, pessoais e familiares)
de tantos dedicados dirigentes e militantes que convicta e esforçadamente permanecem
no terreno, lutando, contra ventos e marés, por aquilo em que acreditam ser o
melhor para a sua terra, porém bastas vezes em troca de nenhum ganho particular, quando não até penalizados por
revanchismos, olhares displicentes, ouvidos moucos e históricas ingratidões, na
Região e no País, entre os seus próprios camaradas, amigos e companheiros, só aparentemente fiéis aos ideais de origem e raramente
solidários face aos desafios do destino...
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