Eça, Clássico e Crítico
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Há livros e autores aos quais
sempre se volta, por dever e cumprimento
de ofício ou pelo simples prazer de
leitura e busca de reconfigurações para as suas tessituras de sentido. E
depois, tais obras, por tudo aquilo que exprimem, e sempre e mais podem
manifestar, fazer descobrir ou revelar, constituem peças de Cultura e de
Pensamento daquele património clássico que assim vai sendo guardado,
transmitido e revisitável na vida das
comunidades e nos tempos interiores ou íntimos dos leitores. Ora no caso que
tenho em vista é precisamente isso que acontece com um Autor e um livro ao qual
de modo cíclico retornamos, ou não fossem eles um Escritor clássico, no âmbito canónico
da Literatura Portuguesa e Universal, e uma obra
aberta...
– Refiro-me ao nosso Eça de
Queirós e à sua Correspondência de
Fradique Mendes, livro acabado de publicar (2014) numa edição preparada por
Carlos Reis, Irene Fialho e Maria João Simões. – Ora não tem faltado elogios
criteriosos e construtivas apreciações teoréticas, filológicas e formais a este
meritório projecto da INCM, onde, para além de Carlos Reis e das suas
Colaboradoras neste volume, merecem referência Elena Soler, Ana Peixinho, Maria
Helena Santana e Rosário Cunha, para além do excepcional desempenho de Fagundes
Duarte a quem coube a dificílima incumbência de estruturar a edição crítica de A Capital! (mas que mais tem produzido –
com o grande e maior especialista queirosiano que é Carlos Reis – uma reflexão teórico-crítica sobre o mesmo trabalho crítico subjacente às textualidades e
às suas edições histórico-críticas).
É claro que especialmente no caso
do Eça de Fradique Mendes, também por
via deste regresso a essa figura semi-ficcional, semi ou proto-heteronímica
mais se acentuam os traços, heranças e vigências de uma espécie de recorrente Modernidade, ainda criticamente nossa contemporânea
(Cesário e Pessoa, Mário Cláudio, Agualusa e Saramago...), como se tem
procurado pensar, repensar e (des)construir desse “homem genial” cujas “auréolas
mais refulgentes”, como ele(s) escrevem, “vincam a alma – e jamais esquecem”!
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Em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 30.05.2015):