As Tribos da Capital
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Os
recentes acontecimentos de violência e destruição que ocorreram em Lisboa e
Guimarães por ocasião das comemorações da conquista do campeonato português de
futebol constituíram novamente manifestações de toda uma complexa situação social que ciclicamente aflora e explode um pouco por toda a parte (e entre nós também,
como se verificou agora), com as
consequências e os custos que todos conhecemos e que constituíram motivo de
informação, transmissão ou cobertura mediáticas para grandes audiências, às
quais não faltaram amplas perorações do habitual e interessado nacional-comentarismo mais ou menos
passional e epidérmico que temos, num quadro quase idêntico àqueles que vem
galvanizando a nação e preenchendo manchetes, paixões míticas e arroubos de
patriotismos, regionalismos ou clubismos mais ou menos de substituição ou transferência, numa série de mecânicas do imaginário
em consonância com euforias de alienadas massas, de modo totémico…
– Ora
apesar de continuarmos a não exercer sobre tal fenómeno uma urgente e
aprofundada reflexão, e de persistirmos em não procurar implementar as medidas
que, mesmo que em parte ou pontualmente apenas, o prevenissem ou minorassem, o
certo é que as tribos do futebol
(como Desmond Morris lhes chamou num livro famoso, bem a par das temáticas por
ele confluentemente abordadas no Zoo Humano e no Macaco Nu e louco...), o que vemos é instalar-se
somente uma polémica política e
securitária entre hostes partidárias, forças policiais e poderes
autárquicos, qual deles procurando maiores dividendos ou passa-culpas que os
desresponsabilizem desta barbárie real, simbólica, cívica e desportiva a que
especialmente na capital a populaça ensandecida se entregou, instigada!
Porém
o mal tem raízes profundas e vem de longe, pelo que deste neo-tribalismo sistémico aonde nos atolámos dificilmente nos
livraremos dentro do sistema e dos valores que estão na sua própria
génese, e na lógica inerente ao hibridismo decadentista que aliás o
perpetuará sempre em cadeia, em todas as práticas do nosso quotidiano cultural
e civilizacional, e nos espaços e discursos públicos
e privados que nos cercam.
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 23.05.2015):
RTP-Açores:
"Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 23.05.2015):
e Azores Digital
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=2900:
e Azores Digital
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=2900: