VITORINO NEMÉSIO:
Breve reflexão de Memória
nos 41 Anos da sua Morte
Em 1999, intervindo numa
Vídeo-Conferência nacional a partir da Praia da Vitória e justamente evocativa
da passagem dos 21 anos da morte de Vitorino Nemésio, pude testemunhar uma vez
mais do valor cultural, literário (poético, romanesco e contista), ensaístico,
crítico, sociológico, antropológico, etnográfico e estético da sua vasta e
diversificada Obra, naqueles vários géneros, estilos, conteúdos e horizontes de
sentido que a integram e constituem como uma das mais ricas produções criativas
e originais da Língua e da Cultura portuguesas.
– Hoje, 20 de Fevereiro,
quadragésimo primeiro aniversário do seu falecimento, relembro novamente a sua
vida e aquela obra, nesta ainda retomada memória de outros textos e reflexões
anteriores:
Nascido em 1901, na Praia da Vitória
– essa terra que na sua escrita será sempre tanto uma entidade real quanto uma
entidade imaginada em afectos, temporalidade e pensamento, tal como, de resto,
a sua própria auto-descoberta construída “peça a peça/ De saudade, vagar e
reflexão”... –, este Açoriano passou ali
a sua infância, antes de estudar nos Liceus de Angra do Heroísmo (1912) e da
Horta (1918).
Partindo depois para o Continente, primeiro para cumprir serviço
militar (em 1919) e depois, sucessivamente, para completar os estudos
secundários e frequentar as Universidades de Coimbra e de Lisboa, licenciou-se em Filologia Românica
(1931) na Faculdade de Letras da capital. Leccionando já nesta última, viria a
doutorar-se (1934) com uma inovadora Tese sobre Alexandre Herculano.
Prémio Ricardo Malheiro Dias da
Academia das Ciências de Lisboa pelo romance Mau Tempo no Canal (1944); Grande Prémio Nacional de Literatura
(1965); Prémio Internacional Montaigne da Fundação F.V.S. de Hamburgo (para
Humanistas dos países românicos da Europa); Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Montpellier e Ceará; Professor
Universitário também na França, Bélgica, Inglaterra, Holanda, Luxemburgo,
Alemanha, Suíça e Espanha, – Vitorino Nemésio desenvolveu, ao longo de toda a
sua vida, um notável e sistemático diálogo crítico e um vasto trabalho de
leitura, de meditação e de assimilação compreensiva, interior, académica e
histórico-civilizacional com os mais importantes parâmetros da Portugalidade em
todos os Continentes, com especial destaque para a Cultura Luso-Brasileira.
– Pelo verbo luminoso e iluminado
da sua Poesia, nunca será demais reafirmá-lo – desde a sua última Sapateia Açoriana (1976) ao debutante Canto Matinal (1916); pela procura
diligente e sincera das possíveis respostas às mais necessárias e eternas
perguntas do Homem e da Humanidade – desde Era
do Átomo/Crise do Homem (1976) até O
Poeta Povo (1917); da Crónica e do Artigo de Jornal ao Ensaio Histórico; da
Poesia à Crítica Literária e à Teoria da Ciência; da Antropologia Cultural à
Novela, ao Conto e ao Romance; da Estética à Religião e à Teologia; enfim, do
Memorialismo e da Literatura de Viagem à Filosofia e à Teoria da Cultura e da
Sociedade, – de tudo isso se entreteceu o poderoso discurso nemesiano.
A grande riqueza literária e
humana de todas as facetas de Nemésio advém bastante da grande ligação e da
mútua pertença que nele se foi criando entre a Vida e a Obra, de tal modo que
esta é mesmo a melhor revelação dos percursos daquela.
– A vida vivida, os problemas que
sentiu, as questões que pensou, as dúvidas, as crises e os mistérios que se lhe
depararam, a par das esperanças mais íntimas e profundas que o moveram, estão
bem reflectidas em tudo o que disse, escreveu e impressivamente legou ao seu
tempo e ainda ao nosso.
Neste mesmo dia 20 de Fevereiro
de 2019, tal como naquela efeméride de há vinte anos, e com as mesmas palavras
de então em plena vigência nos dias que correm, bom seria retermos ao menos um
dos discursos de Nemésio e a sua metódica e sistemática atitude atencional – “Parar,
reparar e admirar. Fazer isto às pessoas, como fazemos às coisas” – como norma de humanidade e testemunho do autêntico, como ele
recomendou e o exerceu.
– Assim, a melhor homenagem que lhe
podemos continuar a prestar será a da releitura
potenciadora de sentido e o estudo
crítico das suas obras e do seu pensamento nelas plasmado, no
aprofundamento e no aproveitamento pleno das suas insuspeitadas dimensões, em múltiplos,
convergentes e complementares ramos disciplinares, e nas suas conectáveis
integrações de saber, aí incluída uma espécie de arte de viver e assumir uma renovada e mobilizadora Açorianidade
alternativa, social, cultural e cívica, cuja falência prática em modelos de
auto-governação diariamente falida é o contemporâneo contra-testemunho diário
de muito do que havíamos todos esperado em anteriores épocas e graus autónomos
de consciência histórica da vida nacional e regional...
Angra do Heroísmo, 20.02.2019
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Publicado em Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=3376,
e em "Correio dos Açores" (Ponta Delgada, 20.02.2019):
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e em "Correio dos Açores" (Ponta Delgada, 20.02.2019):