Entrevista
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AÇORES SEM EURODEPUTADOS
FICAM MAIS ADJACENTES
Os
Açores estão sem Representação no Parlamento Europeu. Como analisa este
problema?
EDUARDO
FERRAZ DA ROSA (EFR) – O desaparecimento prematuro de André
Bradford, único açoriano então eleito, representa uma perda para os Açores e
para a percepção crítica, o continuado enfrentamento situado dos problemas e a
proclamação e defesa das legítimas e legitimáveis aspirações na nossa Região,
nos círculos de poder, trabalho e debate parlamentar dos problemas regionais,
nacionais e europeus, e outrossim de comparticipação activa nas decorrentes
decisões, pronunciamentos ou meras recomendações possíveis, nas instâncias
referidas, nas comissões sectoriais e seus relatos, etc., enfim, na
visibilidade e na mediatização adequadas e diligentemente procuradas da defesa
dos nossos interesses específicos…
Quais
as consequências que se perspetivam?
EFR
– Parece-me, em qualquer caso, serem consequências negativas para os Açores (e
para o nosso País), desde logo porque a Região fica sem uma desejável presença
parlamentar formal a nível europeu, e por isso mesmo destituída da
possibilidade de uma voz autónoma e própria (conquanto nacional e
político-partidariamente integrada, quando não subordinada ou dependente…).
– Todavia sempre seria
um receptáculo, veículo e ponte de passagem, nos dois sentidos, entre os Açores
e a Europa, e também dentro da representação nacional portuguesa, no seu grupo
parlamentar e não só…
É claro que ninguém
estaria à espera do triste falecimento de André Bradford. Porém, a verdade é
que nas listas do PS não só nenhum outro lugar elegível foi acautelado para os
socialistas açorianos, o que teria sido previdente e merecido.
– Mas, pior do que
isso, foi a inclassificável atitude do PSD nacional, a reboque das
plenipotenciárias e discricionárias bitolas de avaliação e partilha de
cadeirinhas, cadeirões, bancos e bancarrotas da sua confrangedora e misérrima
companhia e compaginação de lideranças e serventias intestinas, cujos
resultados estão à vista de todas as
províncias continentais, das ilhas adjacentes e dos seus descrentes e
desmotivados eleitores, cá e lá…
À vista, digo, e no ouvido também, porquanto o eco de
tais arrebites (alguns inicialmente
esboçados, mas logo arrumados em saco
roto), numa grande ribanceira de
descredibilização generalizada, ainda estão e vão continuar a dar que
falar, eventualmente nem sequer como Oposição,
quanto mais em posição de mérito ou
merecimento democráticos!
– Enfim, uma vergonha
para os reais e legítimos herdeiros de Sá Carneiro… E por aqui ainda pior, para
os apenas nominais autonomistas,
social-democratas de nunca e pequenos
actores e autores de uma ridícula dança de madraços cívicos e
culturais, e de pares político-partidários ainda menores!
Como
é que toda esta situação poderá ser resolvida ou atenuada?
EFR
– É possível e desejável que – no âmbito do PS – se consiga compensar, em
parte, a perda de Bradford …
Veremos, por exemplo,
qual a competente e firme dedicação
às questões e desafios insulares
entre os deputados portugueses no PE; qual o projecto e destino interventivos de Carlos César (ministro de
Estado ou dos Negócios Estrangeiros, como subtilmente foi já sugerido?); quais
as atenções e acompanhamentos dos
socialistas dos Açores e dos demais tribunos em funções laterais, aqui no
arquipélago e em S. Bento (no que especialmente relembro a escolha de Lara
Martinho para uma vice-presidência da Comissão de Assuntos Europeus, ou as
cruzadas ilhoas de António Ventura…).
Todavia, não é fácil
imaginar aonde tudo isto nos levará pela certa (ou à certa…), num quadro complexo e volátil, perigoso e exigente, por
entre brexits pendentes,
nacionalismos crescentes, xenofobias galopantes, replicação de oligarquias,
afundamentos ou recanalizações de fundos regionais e refundamentos nacionais
hegemónicos, etc., aonde os próprios Parlamentos nacionais vão ficando cada vez
mais subalternizados (como Mota
Amaral bem salientava recentemente).
– Todo este cenário é
assim muito preocupante, tanto mais quanto os Povos europeus, incluindo os das
Ilhas portuguesas, vão ficando novamente mais adjacentes, ou à margem
da Europa e da sua necessária, real e verdadeira construção!
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(*) Texto da Entrevista
concedida ao jornal “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 10 de Agosto de 2019).
Idem, em Jornal "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 13 de Agosto de 2019).