terça-feira, agosto 20, 2019


Entrevista
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AÇORES SEM EURODEPUTADOS
FICAM MAIS ADJACENTES



Os Açores estão sem Representação no Parlamento Europeu. Como analisa este problema?

EDUARDO FERRAZ DA ROSA (EFR) – O desaparecimento prematuro de André Bradford, único açoriano então eleito, representa uma perda para os Açores e para a percepção crítica, o continuado enfrentamento situado dos problemas e a proclamação e defesa das legítimas e legitimáveis aspirações na nossa Região, nos círculos de poder, trabalho e debate parlamentar dos problemas regionais, nacionais e europeus, e outrossim de comparticipação activa nas decorrentes decisões, pronunciamentos ou meras recomendações possíveis, nas instâncias referidas, nas comissões sectoriais e seus relatos, etc., enfim, na visibilidade e na mediatização adequadas e diligentemente procuradas da defesa dos nossos interesses específicos…




Quais as consequências que se perspetivam?

EFR – Parece-me, em qualquer caso, serem consequências negativas para os Açores (e para o nosso País), desde logo porque a Região fica sem uma desejável presença parlamentar formal a nível europeu, e por isso mesmo destituída da possibilidade de uma voz autónoma e própria (conquanto nacional e político-partidariamente integrada, quando não subordinada ou dependente…).

– Todavia sempre seria um receptáculo, veículo e ponte de passagem, nos dois sentidos, entre os Açores e a Europa, e também dentro da representação nacional portuguesa, no seu grupo parlamentar e não só…

É claro que ninguém estaria à espera do triste falecimento de André Bradford. Porém, a verdade é que nas listas do PS não só nenhum outro lugar elegível foi acautelado para os socialistas açorianos, o que teria sido previdente e merecido.

– Mas, pior do que isso, foi a inclassificável atitude do PSD nacional, a reboque das plenipotenciárias e discricionárias bitolas de avaliação e partilha de cadeirinhas, cadeirões, bancos e bancarrotas da sua confrangedora e misérrima companhia e compaginação de lideranças e serventias intestinas, cujos resultados estão à vista de todas as províncias continentais, das ilhas adjacentes e dos seus descrentes e desmotivados eleitores, cá e lá…



À vista, digo, e no ouvido também, porquanto o eco de tais arrebites (alguns inicialmente esboçados, mas logo arrumados em saco roto), numa grande ribanceira de descredibilização generalizada, ainda estão e vão continuar a dar que falar, eventualmente nem sequer como Oposição, quanto mais em posição de mérito ou merecimento democráticos!

– Enfim, uma vergonha para os reais e legítimos herdeiros de Sá Carneiro… E por aqui ainda pior, para os apenas nominais autonomistas, social-democratas de nunca e pequenos actores e autores de uma ridícula dança de madraços cívicos e culturais, e de pares político-partidários ainda menores!

Como é que toda esta situação poderá ser resolvida ou atenuada?

EFR – É possível e desejável que – no âmbito do PS – se consiga compensar, em parte, a perda de Bradford …



Veremos, por exemplo, qual a competente e firme dedicação às questões e desafios insulares entre os deputados portugueses no PE; qual o projecto e destino interventivos de Carlos César (ministro de Estado ou dos Negócios Estrangeiros, como subtilmente foi já sugerido?); quais as atenções e acompanhamentos dos socialistas dos Açores e dos demais tribunos em funções laterais, aqui no arquipélago e em S. Bento (no que especialmente relembro a escolha de Lara Martinho para uma vice-presidência da Comissão de Assuntos Europeus, ou as cruzadas ilhoas de António Ventura…).

Todavia, não é fácil imaginar aonde tudo isto nos levará pela certa (ou à certa…), num quadro complexo e volátil, perigoso e exigente, por entre brexits pendentes, nacionalismos crescentes, xenofobias galopantes, replicação de oligarquias, afundamentos ou recanalizações de fundos regionais e refundamentos nacionais hegemónicos, etc., aonde os próprios Parlamentos nacionais vão ficando cada vez mais subalternizados (como Mota Amaral bem salientava recentemente).


– Todo este cenário é assim muito preocupante, tanto mais quanto os Povos europeus, incluindo os das Ilhas portuguesas, vão ficando novamente mais adjacentes, ou à margem da Europa e da sua necessária, real e verdadeira construção!   

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(*) Texto da Entrevista concedida ao jornal “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 10 de Agosto de 2019).


 

Idem, em Jornal "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 13 de Agosto de 2019).