Acaba de ser publicado (Círculo
de Leitores/Temas e Debates, abril de 2012) um novo livro de José Mattoso,
figura justa e sobejamente conhecida, respeitada e conceituada em todos os
meios intelectuais, académicos, políticos, culturais e religiosos portugueses.
– Intitulada Levantar o Céu, a obra, dividida em duas partes (sintomaticamente
enunciadas “Sabedoria e razão” e “Sabedoria e fé”), reúne quinze textos,
“escritos [entre 1994 e 2011] ao sabor de solicitações variadas” e às quais o
autor tentou responder segundo as suas “convicções pessoais”, sendo que desses
temas uns são “mais ‘cívicos’, outros mais espirituais; uns inspirados no senso
comum, outros na mensagem evangélica; uns recorrem à História, outros a
princípios intemporais”.
Pretendendo assumidamente
“contribuir em alguma coisa” para aquilo mesmo que o respetivo título indica e indicia – e que José Mattoso sugestivamente recolhe e retém tanto
da denominação dada a um dos principais exercícios
psicofísicos dos mestres de chi kung/tai chi, quanto “como metáfora de uma atitude de vida que dá a
primazia ao Céu” (no sentido que esta
palavra tem na cultura chinesa e na nossa) –, o livro, tal como também nas
últimas entrevistas o historiador acrescidamente explicitou, documenta a sua filiação existencial e intelectual na
mais luminosa e grande Tradição filosófica e teológica do Cristianismo, e num
vasto e profundo horizonte englobante
de ortopraxia espiritual e eticidade sapiencial, porém sem deixar,
na mesma e implicada medida sistémica e sistemática (ontológica e cósmica), de
percorrer e enfrentar – com um misto de ceticismo
realista e de esperança redentora
… – as cisões e as duras e decaídas realidades e contingências terrenas
(morais, cívicas, sociopolíticas, ideológicas, ecológicas, culturais, etc.)!
– Ao ler este livro, cuja
reflexão (casualmente no actual envolvimento do 13 de Maio em Fátima e das
nossas Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres…) vivamente recomendo, não
pude deixar de recordar, para além de toda a notável produção histórica,
historiográfica, geo-antropológica e cultural do Prof. José Mattoso, o
magnífico convívio e diálogo-debate que com ele mantivemos no Departamento
Cultural do Colégio Universitário Pio XII, em Lisboa, nomeadamente sobre
comummente admirados Pensamento, História e Arte Medievais (desde S. Tomás de
Aquino até às mais controversas críticas nominalistas e contemporâneas de
Umberto Eco…), sob a égide e o tão lúcido empenho, previdente e prospetivo
labor histórico-cultural do nosso saudoso Padre Joaquim António de Aguiar, e
aonde tantos dos idênticos temas e cruciais problemas, aqui ainda presentes,
foram também então confluente e harmoniosamente aflorados, em linhas de vida sapiente e sabedoria vivida que continuam, hoje
como sempre, exemplarmente testemunhadas e coerentemente consubstanciadas
nesta, tal como em todas as outras suas obras, trabalhos, afetos, narrativas e
preces…
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Publicado em “Diário Insular”
(Angra do Heroísmo, 12.05.2012),
“Diário dos Açores” (Ponta
Delgada, 13.05.2012),
Azores Digital:http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2225&tipo=col