A Saúde da Nação
Embora algumas das principais
abordagens até agora feitas na Comunicação Social e em certos fóruns
partidários a propósito da Política de Saúde – com raras, previdentes e
cautelares excepções individuais – tenham sido especialmente urdidas por força
de meras argumentações tácticas, interesses conjunturais e tendenciosas,
parcelares e obsessivas fixações em questões relativamente pontuais – ou apenas
político-partidariamente usadas como recorrente arma de arremesso
para-eleitoral –, não há dúvida que uma frontal,
isenta e profunda reflexão crítica
sobre esta e outras questões essenciais
da nossa vida institucional e colectiva
(como a Educação, a Cultura, o Trabalho e o Emprego, a Segurança Social, o
Desenvolvimento Económico, o Controlo e o Equilíbrio Financeiro, a
Democraticidade e a Transparência da Governação…) é cada vez mais necessária,
urgente e prioritária!
Entretanto e ainda sobre a dita
problemática da Saúde, novamente nos últimos dias, voltámos a assistir – e
desta feita com grande destaque – na imprensa da capital, a impressivas e empolgantes notícias sobre
aludidas e “catastróficas dívidas” regionais açorianas que, segundo as mesmas
indistintas, pouco clarificadas e clarificantes fontes originais (e secundárias
também…), teriam já atingido “montantes astronómicos”…
E logo, como
seria de esperar, o teor e as
quantificações das referidas “denúncias” – na sequência aliás de outras
identicamente tecidas no Arquipélago desde há algum tempo… – motivaram uma
série de contraposições, cálculos alternativos e contra-fundamentações económico-financeiras,
orçamentais e políticas…
– O problema, quer se queira quer
não, é sério e complexo, pelo que merecia um corajoso levantamento e uma
rigorosa resposta integrada, cujos
perfis e contornos – enquanto os mesmos dizem integral respeito à mesma Política e Gestão da Saúde e dos respectivos
sistemas e subsistemas – deveriam ir desde os financeiros e técnico-científicos
aos da gestão administrativa e da formação profissional dos seus agentes, passando
pelos, amiúde bem díspares, diferenciados, conflituais e até desmemoriados interesses
corporativos, comerciais e deontológicos que neste terreno se digladiam (demasiadas
vezes por cima dos bem sensíveis e reais
corpos sociais e pessoais dos doentes e demais utentes dos serviços públicos e
privados da Saúde …).
Porém, uma coisa seria a análise objectiva, serena e isenta de todas estas importantes e nucleares questões,
e outra, bem diversa, é o aproveitamento
e a distorção táctica das realidades quantitativas e qualitativas que
também neste campo se entrecruzam, com intenções e fins de veracidade e interesse duvidosos para os Açores, para quem aqui
governa e/ou pretende vir a governar (ou continuar a administrar) a nossa
Região Autónoma!
E depois, diga-se já, mesmo que de passagem apenas, que quem se
mostra principalmente direccionado à
destruição gradual, planeada e concertada do próprio Sistema Nacional de
Saúde enquanto tal não parece muito vocacionado para a correcção das suas maleitas,
desvios ou desvarios!
– Finalmente, quanto a certos OCS
e a alguns infames políticos que pululam na choldra em que o País se tornou
desde há muito, já sabemos do que gastam, reproduzem e vendem por lá e por cá,
demasiadas vezes numa espécie de
voyeurismo em marketing vicioso,
impotente e irresponsável, que tanto desnuda e dá desrespeitosa e quase impúdica
capa aos públicos e familiares factos e fatos de banho e toalhas do
primeiro-ministro de Portugal e sua família, quanto oculta, omite ou falseia,
sem dó nem piedade nem compostura solidária (ou apenas ética que fosse!) de qualquer espécie, os mais essenciais
problemas, direitos, deveres, aspirações, medos, impasses e fragilidades dos nossos
cidadãos e das suas vidas a arder ou imoladas nos altares do mais abjecto capitalismo
neoliberal, financeiro, predatório e agiota que devora tudo e quase todos os povos e países do Globo!
A situação não é, infelizmente,
nova, e já Eça, em 1871, testemunhava assim e do que via:
“O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os
costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres
corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há
princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê
na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe
média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na
miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é
considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A
certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências”…
– E como haveria de ser de outro
modo, ainda contemporaneamente, por parte de quem, externa e internamente, ao
longo da História da Nação e da Autonomia, sempre nos tratou sob regimes de canga (ou “como se andássemos
de tanga”…), e nos pretendeu institucional,
material e simbolicamente submissos, incautamente
alinhados ou politicamente coniventes com os alienantes e conhecidos ditames de controlo e exploração em múltiplos terreiros (nacionais e regionais) do
Poder, sem a devida e proporcionada partilha de custos e culpas a pagar pelas afinal comuns e discriminatórias heranças, a par de outras equivalentes menoridades histórico-geográficas,
político-ideológicas, mentais e morais?!
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