sábado, outubro 27, 2012

O Vazio da Sala




Das muitas imagens mediaticamente divulgadas, daquilo que elas traduzem de significativas perspectivas do mundo político-partidário, psicossocial e ético que nos cerca, e das confluentes realidades e valores em que vivemos e vegetamos, constituiu amostra bem documentativa as que foram transmitidas, a partir da sede do PSD, em Ponta Delgada, no passado dia 14, data das últimas eleições regionais.

De facto, foi algo de muito evidente e revelador o que foi possível visualizar daquele ambiente, quando – sabendo-se já dos mais que comprováveis e fracassados resultados nas urnas para os ditos social-democratas ilhéus –, as câmaras de televisão e a vacilante reportagem do jornalista para ali destacado deram conta da constatável e quase embaraçosa e confrangedora atmosfera naquele recinto: um fantástico cenário de deserto pessoal (e de pessoais deserções!), – tão pesada e densa que os experientes e benevolentes homens dos OCS presentes nem jeito ou ânimo tiveram para exibir, em toda a sua escancarada crueza, semelhante descida a tão gélido purgatório nocturno que – mais do que surpreendente, inacreditável até – naquele patético salão, patente estava…

E assim se foi esperando e fazendo esperar, e circundando a cobertura, e apenas fazendo-se chegar a substancial conteúdo de anúncio verbal a chegada dos poucos vultos que por ali, salientes e despontando, a soluço assomavam, excepção feita a Mota Amaral (em dignidade, ainda e sempre, o primeiro!).

Mas logo depois, então, foi o que à exaustão, à mostração nua e dura, se viu e transmitiu para quem tanto e mais quis acompanhar e sentir, por esse atónito arquipélago adentro…E lá começaram os penosos reconhecimentos da derrota, os agradecimentos da praxe, as respostas evasivas, as suspensivas reservas e omissões, e o realinhamento (com acenos de aflitiva chamada à linha ou à cara) do cabisbaixo entourage mais firme e proximal da grande candidata e timoneira desta mal fadada campanha; e pouco mais!

– Dos rostos e saracoteamentos arrogantes ou gananciosos de outrora, da evanescente e lesmática claque de ontem, dos ilustrados e recorrentes capangas de “olho na faca, olho na lapa”, ouvidos sempre na onda e no calhau para o salto oportunista, como dizia o outro, nem sombra; nicles!

O resto, que não se conta aqui por pudor (e quase vergonha pelas culpas e pecados alheios, mas que de algum modo a todos nós devem fazer reflectir…) ficará para depois. E todavia, a cumprir-se o maldoso (e talvez injusto, porque genérico) chiste açórico, da actual toca do Coelho, “nem por carta nem por escrito”!

– Por isso mesmo, não será talvez tão cedo que aquela sala e aquelas cadeiras, agora medonhamente vazias, desguarnecidas e desguardadas, tornarão a encher-se com gente capaz, esperançosa e honrosamente perfilhada em defesa da nossa terra, pacificamente construindo e partilhando o pão do Povo em Liberdade, como no seu antigo, porém agora desbaratado e desafinado hino de glórias passadas e novas ilusões futuras…

E assim as mesmas salas, cadeiras e câmaras, de mal a pior, vão continuar provavelmente ainda mais ocas e irrelevantes, sem a mínima presença que mereça crédito limpo, generoso empenhamento político-partidário ou confiança ética!
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Em  Azores Digital:
RTP-Açores:
"Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 28.10.2012);
Outra versão em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 27.10.2012).