A Cultura do Refugo
Sem ser necessário recorrer às
sugestivas propostas de Italo Calvino sobre as virtualidades múltiplas de um regular convívio, ou, pelos menos, de um
periódico retorno à leitura dos
chamados Clássicos … – tanto dos Antigos como dos Modernos e dos Contemporâneos,
sejam eles do Pensamento e da Literatura Universal ou apenas da circunscrita
Cultura Portuguesa (ou em Língua Portuguesa) que de tal estatuto plenamente
forem dignos segundo minimamente exigentes cânones formais, materiais e estilísticos,
e conformes ao exercício lúdico, reflexivo e histórico-hermenêutico da prática
da Leitura, evidentemente… –, a verdade é que nada haverá de tão proveitoso (mesmo
que dramático ou hilariante…) como dirigirmos hoje o nosso atento e informado olhar
crítico para comparar a realidade circundante com o que está guardado
(mas suficientemente disponível e vivo!) em muitas e tão ricas páginas do
verdadeiro património memorial e imaginário de tantos Livros, Revistas e
Jornais...
– Ora é novamente para este tema
e para aquilo tudo que nele está ainda fundamentalmente em confluente questão,
enquanto e na medida em que a sua mesma problemática entronca na Filosofia da
Cultura e na Teoria Social, que se dirige a obra A Civilização do Espetáculo (Lisboa, Quetzal, 2012), de Mario
Vargas Lhosa, que acaba de ser editada em Portugal.
Ali, como entendida pelo escritor
peruano – Nobel da Literatura (2010), político de centro-direita e novel marquês (título hereditário que lhe foi concedido, em 2011, pelo rei de Espanha)
… –, é feita uma acerba crítica à banalização global das artes e da literatura,
ao triunfo do jornalismo sensacionalista, à frivolidade da política e ao
desvirtuamento da Cultura como consciência
da realidade e forma de
autoconhecimento...
– E a essas decadentes formas e
figuras de distracção alienada e de entretenimento alienante, opõe precisamente
Vargas Lhosa os notáveis exemplos de Walter Benjamin e de Karl Popper, depois
de ter perspectivado a sua própria reflexão pessoal face às posições, conquanto
diferenciadamente aduzidas, de T. S. Eliot, George Steiner, Guy Debord, Gilles Lipovetski,
Jean Serroy e Frédéric Martel …
Não há dúvida que este livro tem pertinência, neste advento de novas amarguras
culturais, socioculturais, educativas e científicas no refugo circense, mediático e trágico-cómico
em que se tornou a contumaz choldra
nacional (já justamente zurzida pelo nosso clássico Eça, porém às vezes tão
esquecida por alguns zelosos amanuenses institucionais e obscuros políticos…),
ali mesmo com as tuteladas abas dos
seus mediáticos sombreiros viradas para o mais que fosco vidro da sua indisfarçável mediocridade, incoerência,
pressurosa submissão e infame cobardia!
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