Uma Estrela de Redenção
Presença basilar, fortemente simbólica
e significativa no Calendário festivo, religioso e comemorativo dos Povos,
Civilizações e Culturas da Era Cristã – embora provavelmente com raízes na
festa pagã do renascimento cíclico do “Sol Invicto” (isto é, do culto da vitória
cósmica do Sol sobre as Trevas no Solstício de Inverno) –, desde sempre, ou
pelo menos bastante remotamente, todos os anos por esta altura, e sempre cada
vez mais em crescente dimensão planetária, aos mais diversos níveis e nos mais
variados campos da existência humana, constituiu o Natal motivo para variadas celebrações,
evocações e inspiração para a criação de categorias de Pensamento, concretização de Acções e figurações
de Utopia ou Imaginação.
Ora este nosso Natal,
– para além
das tradicionais vivências profanas
ou de marcado cunho mercantilizante (bem enxutas aliás, estas, devido aos
flagelos da austeridade e aos cautelares medos e crises das anunciadas falências de
trabalho, saúde e economia que já dobraram em Portugal – para não falarmos
do Terceiro Mundo ali e aqui cada vez mais vizinho e batendo à nossa porta… – na esquina alienada do suportável com
dignidade, ou, até, do mínimo de possibilidade de subsistência e de existência humama!);
– para além
das comemorações familiares,
socioculturais, artísticas e musicais que dão alguma graça, brilho,
inocência ou enlevo à alma, aos olhos e aos ouvidos das crianças e dos adultos
comovidos ainda pela saudade do Passado ou pela esperança do Futuro;
– para além,
enfim, das celebrações religiosas ou propriamente litúrgicas, ou das encenadas representações
da vária etnografia da Natividade de Jesus, em manjedoura deitado junto a Maria e José,
entre pastores, anjos, simbologias animais e ecológicas, bucólicos franciscanismos de Natureza e reverentes Magos...
Para além, de tudo isto – dizia –, que vem
entretecendo há séculos a Memória, a História, a Poética, a Filosofia, a
Teologia e a Fé no mais profundo sentido redentor do
Nascimento do Menino-Deus
(“mensageiro dum Deus universal”), bem lembrado (“Nas ondas do mar de Inverno”), como utópica,
angustiada e comovidamente escreveram Aquilino e Nemésio, – talvez que este
Natal possa e consiga, apesar de tudo, guardar e reflectir renovadamente todas
as coisas e seres, com o Espírito daquela Luz que se abriu e
manifestou como Espera ou Estrela de Redenção – oprimida
mas resistente ainda a Terra perante o mundo iconoclasta, cruel e
injusto que a cegou e continua escurecendo… –, para que também tudo possa vir
a ser redimido e salvo dos sacrifícios e sofrimentos, mitos,
injustiças e violências, pecados ou esquecimentos do próprio Homem.
________________________
Publicado em RTP-Açores:
Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/
e Jornal "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 22.12.2012).
Outra versão em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 22.12.2012).