segunda-feira, janeiro 28, 2013

Um patético Relambório




1. Tal como vinha dizendo no DI do passado sábado, é quase inacreditável o que se lê num patético relambório sobre a Base das Lajes – verdadeiro, aflitivo e desolador testamento e atestado de mediocridades e de irresponsabilidades político-institucionais e socioculturais passado à nossa terra –, de tal modo que só folheando integralmente o dito “Relatório” (disponível em http://www.azoresdigital.com/relatampv.baselajes.pdf) será possível avaliá-lo em toda sua objectiva gravidade e significado profundo!

– Recapitulando: Conforme deliberação unânime (15.06.2012) da Assembleia Municipal da Praia da Vitória (AMPV), foi a sua Comissão Permanente (CP) encarregada de elaborar “um trabalho” para definir a “posição abrangente e, se possível, unânime, dos Órgãos de Poder Local da Praia da Vitória sobre a Base das Lajes”! E assim foi logo decidido “realizar audições a várias entidades e personalidades que têm como área de intervenção e de investigação os assuntos relacionados com a presença Norte-Americana na Base das Lajes, nas suas diversas vertentes”, – levando-se depois a cabo (entre 30.07.2012 e 09.11.2012) quatro das ditas sessões, nas quais participaram, a consabidos e diferentes títulos, as seguintes personalidades: Armando Mendes, Berto Messias, Emiliana Silva, Francisco Oliveira, Francisco Tavares, José Adriano Borges de Carvalho, João Manuel Barcelos, João Ormonde, José Paim, José Parreira, Norberto Messias, Paula Ramos, Paulo Borges, Paulo Ribeiro, Roberto Monteiro, Rui Castro e Victor Silva.

– De seguida, após solicitação (certamente técnica e metodologicamente pensada, adequada, acautelada e competente…), lá o presidente da CP pediu ao presidente da AMPV que – sublinhemos aqui … – “disponibilizasse os serviços de gravação dos (…) trabalhos, para que depois, para efeitos de relatório, pudéssemos ter todas as transcrições, para que possam também constar desse relatório final. Nós definiremos, depois das audições, quais os procedimentos a adotar, mas a ideia é, como foi deliberado e definido na última Assembleia Municipal, que seja elaborado um documento que será a posição oficial, digamos assim, dos órgãos do poder local da Praia da Vitória, posição essa também a ser considerada no âmbito de um processo negocial, que se avizinha, em torno da já anunciada intenção de redução do contingente estacionado na Base das Lajes” (sic)!


E note-se: – Sem prejuízo da gramática, da ortografia e, evidentemente, da mais marcante e espontânea oralidade (que lá ficaram também gravadas para os anais e actas da nossa melhor literatura democrática e parlamentária…), deve já ser referido que todas as transcrições aqui tomadas (e aquelas que, por pudor, não cito!) reproduzem exactamente o que está publicado no dito “Relatório” institucional, o qual – após as ditas “consultas” e superiormente modelado (pois como não havia de ser?!) sob a sábia orientação da tal CP – foi dado ao conhecimento (?) da AMPV, que o aprovou, a 14.12.2012, por unanimidade reiterada e com a conivente anuência de todos os partidos que lá tem assento parlamentar municipal (como agora se diz)!




Mais tarde, como foi publicitado, da mesma triste crestomatia praiense, foi feita solene e oficial dádiva em mão (11.01.2013) ao presidente do Governo Regional, só não se sabendo, entrementes, quando ou se será a dita e selecta antologia de depoimentos pomposa e formalmente também entregue, como também intencionado pelos seus obreiros, ao próprio Governo da República Portuguesa…

2. Ora, independentemente daquilo que sobre tal ilustrado rebento municipal terá de ser posteriormente dito, mas porque se trata de reais imagens e imediatos interesses nossos (açorianos e portugueses!), não posso deixar de confessar ter sido com um misto de vergonha e de indignação que li semelhante e suposto “Relatório”, para mais numa altura histórico-diplomática e com um destino negocial, estratégico e de soberania que, ainda por cima, lhe pretenderam e pretenderão dar…


– Bem sei (calculo...) que o dito “Relatório” não fará propriamente História (embora talvez provoque alguma mossa conjuntural, ou suscite dobradas e piedosas risotas historicamente humilhantes para todos nós!). Todavia, e para além disso, que aquelas espantosas letras e folhas hão-de certamente ficar para a contemporânea história local dos Açores (e de Portugal no seu todo, desde a mais humilde freguesia à mais científica e distinta Academia…), como um datado e pequeno monumento (significante na sua insignificância…)  à menoridade, à irresponsabilidade e ao nosso comprometedor e degradante retrocesso político, institucional, social, cultural e mental –, lá disso não haverá a mínima dúvida!


E mais: – Quando o que ali fica arquivado para a posteridade provém de quem teve, e/ou tem, algumas (grandes e graves) responsabilidades políticas (e partidárias) na nossa vida colectiva, por maioria de razão, o caso torna-se sobremaneira preocupante e angustiante, na exacta medida em que o ultrajante e incauto conteúdo daquele tão comprometedor, indiscreto, insólito, confrangedor e patético relambório, somente terá paralelo nas suas quase inacreditáveis formas,  (i)literacias e arrojadas pretensões!

Tudo isto, na verdade, é muito desolador (e seria carnavalesco, se não fosse dramático). – Porém, sinceramente, ao fim de todos estes anos (de Democracia, de Autonomia e até de Escolaridade...), chegarmos a tanto e a tão pouco, é mesmo de partir a alma!




Sem antecipar nada do que crítica e detalhadamente dir-se-á mais tarde, noutro contexto e no domínio de abordagens críticas e socio-históricas – que é aquilo que fundamentalmente me interessa focalizar nesta problemática –, apenas quero hoje adiantar que – desde a inconcebível e desadequada “metodologia” usada, até à analfabeta transcrição técnica dos palavreados gravados; desde o embaraçoso e escusado registo de afirmações (algumas individualmente penalizadoras…), desabafos de estados viscerais e (até) acusações ultrajantes para o Estado Português, para o País e para muitas das suas instituições, representantes e órgãos; desde as mais mirabolantes, desinformadas, superficiais ou apenas levianas análises, até às mais imprudentes ou inconsequentemente formuladas defesas de vários dos nossos (esses sim, justos e razoáveis!) direitos e deveres, – quase nada do que ali consta abona substancialmente a favor da Praia da Vitória, da mínima e exigível qualificação interna e externa dos seus órgãos e actores municipais, políticos e técnicos, até porque a todos e à nossa terra expõe ao mais alto nível, e mais do que o imaginável, a um atroz e ridículo estatuto institucional, pessoal, sociocultural e ético!

– Finalmente, ainda por cima, ter-se pretendido provocar a chamadapedra, à pedrada ou às lajes do Poder Local?), para depois, formalmente, perante a sua sensata recusa, manifestar e fazer inscrever no texto das Conclusões e Recomendações deste tosco testamento “praiense” – que permanece aliás e todavia apenas da exclusiva e total responsabilidade daquela confrangedora, auto-suficiente e comissariada instância municipal! – que se lamentava “o facto de o Comando Português e Comando Americano da Base das Lajes terem recusado ser ouvidos”, francamente, nem sequer merece qualquer comentário…


3. Tudo isto, como escrevi antes – evidentemente não invalidando o mais importante que naquelas reuniões, em bruto, foi dito –, o que se questiona e renovadamente rejeita é acima de tudo o modo impensado, improvisado e presumido como tudo foi ali congeminado e depois tombado na rústica (e nem sequer corrigida…) prosa do suposto “Relatório”, chegando-se, também com isso, ao ponto de fragilizar e desacreditar o que lá fora eventual, esparsa mas validamente reflectido (ou apenas irreflectidamente desabafado…), na mais ridícula, leviana e improcedente demonstração narrativa do nosso subalterno estatuto regional, nacional e internacional!




E é ainda por estas razões e pela insuspeitada (?) e revelada desqualificação técnico-política da CP, da AMPV e da CMPV – que pouco escrupulosa e perigosamente tornaram a deslustrar as populações que dizem representar, minorando o seu histórico brasão e o seu nome, e desproporcionadamente comprometendo as suas legítimas expectativas – que, a um preciso nível, toda uma perplexa, pequena e humilde comunidade local ficará agora ainda mais desiludida e irremediavelmente mais fragilizada no contexto regional e nacional, sob o olhar pragmático (calculista, cuidadoso e displicente…) da “real policy” do velho amigo, hóspede e aliado norte-americano, e daquilo que (de há muito) esta hegemónica potência vem preparando e consumando sobre tantas das nossas desatentas, ignorantes ou preguiçosas cabeças de vento…



Desta brincadeira, toda de mau gosto, com coisas sérias à mistura; deste presente envenenado aos seus próprios artífices; desta oportunidade perdida; desta ridícula manifestação de paroquialismo e de incompetência institucional, técnica, política, social e científica – enfim –, só se aproveitará talvez uma coisa:

– Ficámos todos a saber melhor, se dúvidas houvesse, caso a caso, a verdade nua e crua daquilo que cada um (nas semelhanças e nas diferenças manifestadas) pensa, sabe, diz, vale, descura ou ignora enquanto “representante” municipal praiense, terceirense e açoriano, líder, mentor político-partidário ou dirigente associativo e sindical, nestes tristes tempos que correm, sem quase ninguém autenticamente capaz de olhar pela nossa terra e pela nossa gente, aqui e além, nas velhas e novas capitais dos impérios do globo…
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Publicado em “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 29 de Janeiro de 2013);
RTP-Açores:
http://www.rtp.pt/acores/index.php?article=30722&visual=9&layout=17&tm=41;
Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2329&tipo=col.

sexta-feira, janeiro 25, 2013

O testamento das Lajes



– Lê-se e quase não se acredita no que ali está, mas aqui fica o texto disponível para consulta aberta e livre, neste endereço: http://www.azoresdigital.com/relatampv.baselajes.pdf.

Na verdade, na sequência de uma deliberação tomada, por unanimidade, na Assembleia Municipal da Praia da Vitória (AMPV), a 15.06.2012, foi a respectiva Comissão Permanente (CP) encarregada “de elaborar um trabalho para definir uma posição abrangente e, se possível, unânime, dos Órgãos de Poder Local da Praia da Vitória sobre a importância da presença Norte-americana na Base das Lajes […], bem como o grande impacto económico e social que esta presença tem para a Ilha Terceira e para os Açores”. 

E assim, nesse âmbito, foi decidido “realizar audições a várias entidades e personalidades que têm como área de intervenção e de investigação os assuntos relacionados com a presença Norte-Americana na Base das Lajes, nas suas diversas vertentes”…

Dito e feito: – Entre 30 de Julho e 9 de Novembro de 2012 a dita Comissão Permanente da AMPV promoveu quatro reuniões (sob a forma de “Audições”), nas quais participaram, a conhecidos e consignados títulos, as seguintes personalidades: Armando Mendes, Berto Messias, Emiliana Silva, Francisco Oliveira, Francisco Tavares, José Adriano Borges de Carvalho, João Manuel Barcelos, João Ormonde, José Paim, José Parreira, Norberto Messias, Paula Ramos, Paulo Borges, Paulo Ribeiro, Roberto Monteiro, Rui Castro e Victor Silva. 

Após tais consultas e o documento final elaborado, da responsabilidade da dita CP, dele foi dado devido conhecimento à AMPV, que o aprovou, a 14.12.2012, por unanimidade também!

E depois, ainda desta mesma crestomatia praiense foi feita solene e publicitada dádiva, no passado dia 11 do corrente, ao presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, só não se sabendo, entrementes, quando ou se será entretanto a dita antologia de depoimentos também pomposa e formalmente entregue, como acordado, ao Governo da República!

Ora, independentemente daquilo que sobre tal ilustrado rebento municipal sobre a Base das Lajes terá de ser posteriormente dito, mas porque se trata de reais interesses e de imagens nossas (açorianas e portuguesas!), não posso deixar de confessar já ter sido com um misto de vergonha e de indignação que li semelhante e suposto "Relatório", para mais numa altura histórico-diplomática e com o destino estratégico e de soberania que, ainda por cima, lhe pretenderam e pretenderão dar…

– Bem sei (calculo...) que o dito “Relatório” não fará propriamente grande história (embora talvez provoque alguma mossa conjuntural, ou suscite dobradas e piedosas risotas historicamente humilhantes para todos nós!).

Todavia, e para além disso, que aquelas espantosas páginas hão-de certamente ficar para a História das nossas ilhas dos Açores (e de Portugal no seu todo, desde a mais humilde freguesia à mais científica e distinta Academia…) como um datado e pequeno monumento (significante na sua insignificância…)  à nossa menoridade, à nossa irresponsabilidade e ao nosso comprometedor e degradante retrocesso político, institucional, social, cultural e mental –, lá disso não haverá a mínima dúvida!

E ainda por cima quando o que ali fica arquivado para a posteridade provém de quem teve, e/ou tem, algumas (grandes e graves?) responsabilidades políticas (e partidárias) na nossa vida colectiva, por maioria de razão, o caso torna-se sobremaneira preocupante, angustiante e gerador de grande indignação, na exacta medida em que, em tão insólito, confrangedor e patético documento, o seu ultrajante e incauto conteúdo somente terá paralelo nas respectivas e quase inacreditáveis formas,  (i)literacias e arrojadas pretensões!

– Tudo isto, na verdade, é muito desolador (e seria carnavalesco, se não fosse dramático). Porém, francamente, ao fim de todos estes anos (de Democracia, de Autonomia e até de Escolaridade Básica...), chegarmos a tanto e a tão pouco, é mesmo de partir a alma!

Sem antecipar nada do que crítica e detalhadamente direi mais tarde, como me pedem, em contexto académico e no domínio de um estudo e abordagem crítica e socio-histórica – que verdadeiramente é aquilo a que me interessa especialmente atender nesta vasta problemática –, apenas quero hoje adiantar que – desde a inconcebível e desadequada metodologia usada, até à analfabeta transcrição técnica dos palavreados gravados; desde o comprometedor e escusado registo de afirmações e desabafos de estados viscerais e ultrajantes para o País e para as suas instituições e órgãos; desde as mais mirabolantes, desinformadas, irresponsáveis ou apenas levianas análises, até às mais inconsequentemente formuladas defesas dos nossos, esses sim, justos direitos, – quase nada do que ali consta abona a favor da Praia da Vitória, da mínima e exigível qualificação dos seus órgãos municipais, políticos e técnicos, até porque a todos eles e à nossa terra os expõe, mais do que o imaginável, a um atroz e ridículo estatuto institucional, pessoal, ético e cultural!

– E finalmente, ainda por cima ter-se pretendido provocar a chamada, e depois formalmente fazer inscrever nas Conclusões e Recomendações deste tosco testamento praiense sobre a Base das Lajes (da exclusiva e inconsciente responsabilidade daquela confrangedora e comissariada instância concelhia!) que se lamentava “o facto de o Comando Português e Comando Americano da Base das Lajes terem recusado ser ouvidos no âmbito deste trabalho”, francamente, nem sequer merece qualquer comentário sério…

Tudo isto que aqui adianto, evidentemente, não invalida o muito e importante que naquelas reuniões, em bruto, foi dito; o que questionamos e rejeitamos de todo é o modo como tudo isso foi tão mal e indevidamente trabalhado e relatado, chegando-se ao ponto de revestir o que ali foi validamente reflectido, ou irreflectidamente desabafado, na mais ridícula, leviana e improcedente demonstração narrativa da nossa dramática (e histórico-político-culturalmente imerecida?) condenação à subalternidade internacional e nacional, em conjugação com o nosso recorrente destino de menoridade e de exploração regional e local!
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Publicado em “Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 27.01.2013);
RTP-Açores:
e Azores Digital:
Outra versão em “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 26.01.2013).


sexta-feira, janeiro 18, 2013


DOIS RELATÓRIOS LETAIS




A Praia da Vitória está manifestamente atolada num perigoso paul, cujas verdadeiras e reais dimensões histórico-políticas, socioeconómicas, financeiras e estruturais não podem ser escamoteadas a nenhum título nem por nenhum cidadão ou organismo, sob pena de irresponsável cobertura, indigna conivência, abdicação de leitura e cidadania críticas, ou desonroso silenciamento dos mais elementares deveres e direitos de participação consciente e livre na vida actual e nos rumos determinantes do futuro colectivo e individual das nossas comunidades de origem ou adopção, suas organizações e seus múltiplos corpos sociais e políticos (aí incluídos todos os partidos).

– Assim, diga-se já, sem timoratos subterfúgios ou acomodados expedientes, que os dois últimos Relatórios vindos a público e respeitantes à Praia da Vitória constituem documentos altamente letais ou, pelo menos, dolorosa e penosamente confrangedores, quando não até comprometedores e vergonhosos para a sua população, para os seus órgãos representativos e – mais ainda – para os seus instalados governantes, putativos dirigentes, líderes e demais agentes e actores institucionais!



Na verdade, como se não bastasse o Governo Regional dos Açores (1) – a propósito da anunciada e próxima visita de uma delegação económico-militar norte-americana à Base das Lajes – ter vindo, com todas as letras oficiais, classificar de mentirosas, ou falsárias, as abusivas e imprevidentes declarações do prezado, mas politicamente incauto, jovem presidente da Câmara da Praia da Vitória (2), – agora foi a vez do Tribunal de Contas competentemente emitir uma arrasadora e impiedosa Auditoria (3) sobre o calamitoso estado financeiro e a gestão político-económica daquela autarquia terceirense, desmontando contas, desnudando erros e escalpelizando verbas, riscos, escritas e contos e descontos de palmatória ou leviano manejo de enquadramento legal, para – sem apelo nem agravo, nem encobrimento possível… – fazer a síntese criteriosa da dramática situação ali comprovada, pura e simplesmente deste feitio e nestes termos:

–“ A dinâmica imprimida à gestão orçamental no triénio 2009-2011, caracterizada por significativos défices, é incompatível com a evolução controlada da dívida municipal e com a reposição do equilíbrio das finanças municipais a curto prazo”! E para dizer tudo, por ora – estando o texto integral do resultado da Auditoria disponível na Página do Tribunal de Contas, em http://www.tcontas.pt/ –, isto basta...


Quanto ao outro “Relatório” – não menos aflitivo, humilhante (quase patético!) e penalizador para a imagem, as compreensíveis mas bem mal fundamentadas (contra)argumentações, razões e pretensões, realidades objectivas, interesses pragmáticos e direitos da governação e da soberania portuguesa (e norte-americana…), a par das diferenciadas expectativas e contrapartidas legítimas para a Praia da Vitória, para os Açores e para Portugal –, ficará o mesmo para a semana, que o dito não perde pela demora na leitura e na sua conveniente, merecida e pendente análise!
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(1)http://www.azores.gov.pt/GaCS/Noticias/2013/Janeiro/Esclarecimento+do+Governo+dos+A%C3%A7ores+sobre+visita+de+empres%C3%A1rios+dos+EUA.htm.

(2)http://www.acorianooriental.pt/noticia/governo-espera-que-empresarios-potenciem-valencias-da-base-das-lajes.

(3)http://www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2012/sratc/audit-sratc-rel016-2012-fs.shtm

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Publicado em RTP-Açores:
Azores Digital:
e Jornal “Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 20.01.2013).
Outra versão em “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 19.01.2013).


sábado, janeiro 12, 2013


As Lajes em Fogos de Alto



Desmentindo e corrigindo uma anterior (talvez bem intencionada, mas pressurosa…) afirmação adiantada, incorrecta e precipitadamente – e até de modo algo abusivo, incauto, imprevidente e comprometedor …– pelo presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, o Governo Regional dos Açores (GRA) entendeu “útil e necessário esclarecer”, em Nota Oficial (1), ser falso, e assim contrário ao referido pelo jovem autarca, que “o interesse dos empresários norte-americanos na ilha Terceira” resultasse “do trabalho desenvolvido pelo presidente do Governo Regional dos Açores (…) durante uma viagem aos Estados Unidos, no qual manteve contactos com políticos federais e estaduais com raízes açorianas, no sentido de encontrar soluções que minimizem o impacto da redução militar norte-americana na Base das Lajes” (2)…



Depois – porque o autarca ainda dissera que “esta informação lhe foi transmitida pelo próprio presidente do Governo…” –, o Gabinete de Vasco Cordeiro mais quis acentuar, “Em relação às notícias relativas à visita aos Açores de um grupo de empresários dos EUA”, ser a mesma “uma iniciativa do Governo dos EUA, promovida pela Embaixada dos EUA em Portugal em conjugação com o Comando Europeu há já algum tempo, como foi, de resto, publicamente anunciado pelo Embaixador dos EUA em Lisboa, em dezembro passado”!

– E finalmente, mais sublinhou e concluiu o GRA, para que não houvesse qualquer dúvida local (terceirense e/ou concelhia): “O programa da visita e as atividades a decorrer na Região estão a ser trabalhadas entre as autoridades dos EUA e o Governo dos Açores, sendo que, através deste, é promovida a participação das entidades representativas dos empresários da Ilha Terceira e o Município da Praia da Vitória”…



Ora estes sintomáticos câmbios, toques e retoques de argumentos, posições e mediações, ocorreram mesmo nas vésperas e coincidentes alturas de Vasco Cordeiro, na Praia da Vitória, receber um “Relatório” (3) da Comissão Permanente da sua Assembleia Municipal (sobre a importância e impacto da presença americana na Base das Lajes), logo depois de – para bons entendedores regionais e ilhéus… – ouvirmos todos ser-lhe afiançado, quase afrontosamente para os pequenos (dos) Açores, pela melíflua e soberana autoridade político-militar e diplomática do Ministro Branco, que as relações de Portugal com os USA (como se isso fosse novidade táctica ou estratégica actual de Lisboa…) iam poderosamente muito para além dos doirados “peanuts” (ou autóctones espécimes?) do Campo das Lajes...




Tudo isto tem muito que se lhe diga – e há-de chegar a ser dito, mais dia menos dia! –, muito para além daquelas peregrinas ideias e areias, propostas e mirabolantes cantilenas que agora (nos) fervem de todos os lados, modos e feitios, atiradas ao vento, às marés e às costas dobradas das nossas cada vez  mais novamente adjacentes e impotentes ilhas…


– E pudéssemos nós cantar-lhes hoje as mesmas Cantigas de outrora, como se pela voz do nosso Poeta: “Tanto caga-fogo de alto! / Tanto bidom, tanto prigo! / Cimento não dá pão alvo/ Como dava o nosso trigo.
RTP-Açores:
e Azores Digital:
Outra versão em “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 12.01.2013).

sexta-feira, janeiro 04, 2013

As terras de Pessoa



Destinado anualmente a “pessoa de nacionalidade portuguesa que durante esse período – e na sequência de uma actividade anterior – tiver sido protagonista de uma intervenção particularmente relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país” –, o Prémio Pessoa 2012 acaba de ser atribuído a Richard Zenith –, cidadão de Portugal por dedicação e louvor  a uma Obra, a de Fernando Pessoa, uma Literatura, a nossa, e uma Língua, a portuguesa, conforme justificadamente explicou e explicitou Pinto Balsemão, ao anunciar o nome daquele último agraciado com o referido e prestigiado Prémio.


– “Não é por acaso – citemos do respectivo Regulamento – que o prémio se chama Pessoa e não Fernando Pessoa. A Unisys e o Expresso criaram, intencionalmente, uma certa ambiguidade entre a figura do grande poeta – que, aliás, nunca foi premiado em vida – e a pessoa, a personalidade portuguesa que, no ano relativo ao prémio, tenha assumido um papel importante para a sociedade em geral”…

E depois, o Prémio Pessoa “pretende […] ir contra a corrente de uma velha tradição nacional, segundo a qual o reconhecimento da importância da obra de algumas pessoas só foi verdadeiramente feito postumamente – tendo sido esse, precisamente, o caso de Fernando Pessoa”.

Mais: “Acreditando cada vez mais na necessidade de intervenção da sociedade civil na regulação do futuro do nosso País, a organização pretende com este Prémio contribuir anualmente para o alargamento e o aprofundamento da obra de tantas pessoas portuguesas, umas mais conhecidas outras menos, que necessitam e merecem ser encorajadas para fazer mais e melhor”!



– Norte-americano, natural de Washington, D.C.; formado em Letras pela Universidade da Virgínia; radicado em Lisboa desde 1987 após ter vivido na Columbia, no Brasil e em França; investigador apaixonado, estudioso e rigoroso tradutor de Literatura Portuguesa (especialmente de Fernando Pessoa, mas também de Camões, Antero e Sophia), – Richard Zenith tem tido na verdade um imenso labor cultural e literário, produzindo e divulgando obra geradora de “entendimento mais consistente” em “domínios relativamente inexplorados”, v.g. os da “aventura pessoana, registados e fixados nos escritos autobiográficos e na fotobiografia de Pessoa” (de quem tem aliás sido editor, “explicador da heteronímia, mas também o grande tradutor da sua poética para a língua inglesa", conforme se lê ainda na Acta do Júri do Prémio que lhe foi agora atribuído).

De resto, a lista sequenciada dos ilustres premiados com esta distinção, desde 1987 até 2012, é bem significativa e merece tornar a ser registada aqui, pelo que revela e exemplarmente sinaliza…

– Assim, são eles: José Mattoso, António Ramos Rosa, Maria João Pires, Menez, Cláudio Torres, António e Hanna Damásio, Fernando Gil, Herberto Hélder, Vasco Graça Moura, João Lobo Antunes, José Cardoso Pires, Eduardo Souto Moura, Manuel Alegre e José Manuel Rodrigues, Emanuel Nunes, João Bénard da Costa, Manuel Sobrinho Simões, José Joaquim Gomes Canotilho, Mário Cláudio, Luís Miguel Cintra, António Câmara, Irene Flunser Pimentel, João Luís Carrilho da Graça, D. Manuel Clemente, Maria do Carmo Fonseca, Eduardo Lourenço e Richard Zenith.


Mas agora, ao reler e fechar este texto, como não tornar a dever sublinhar aquilo que, não há muitas semanas, nestas colunas explicitamente reevoquei e sugeri de Fernando Pessoa e dos Açores:

– Angra do Heroísmo (por ele visitada, há 110 esquecidos e praticamente desperdiçados anos…); a genealogia real: ascendência jorgense (avó e tias-avós) e ramo materno (angrense) da família do Poeta; as casas e as gentes açorianas que conheceu e com quem conviveu (aqui, em Lisboa e na África do Sul); o seu notabilíssimo correspondente micaelense (Armando Cortes-Rodrigues), e – enfim, evidente e reconhecidamente –, os seus vários e diligentes editores, estudiosos e divulgadores açorianos!?

E todavia, que mais se há-de persistir em sinalizar, propor e dar a pensar, conhecer e ver, como no Livro do Desassossego – e também hoje, olhando para o nosso Presépio e para o Menino-Deus de sua Mãe, Pai e Homens seus Irmãos (que continuam, em alegria, a contemplá-lo junto à Manjedoira, na presença mansa do Burrinho, da Vaca, das Ovelhinhas, dos virtuosos Pastores e dos Reis Magos que nos chegam a caminho, na persistente noite que nos cerca e oprime sob o brilho esperançoso de alguma Estrela …) –, quando o próprio Poeta (não qualquer ambígua, presunçosa ou medíocre pessoa de figuração política, antes ele mesmo, o próprio!), reflectia deste modo, ali na sua melancólica e filosófica reclusão:


–“Chove, nesta tarde fria de inverno triste, como se houvesse chovido, assim monotonamente, desde a primeira página do mundo. Chove, e meus sentimentos, como se a chuva os vergasse, dobram seu olhar bruto para a terra da cidade, onde corre uma água que nada alimenta, que nada lava, que nada alegra”…
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Publicado em RTP-Açores:

Azores Digital:
e Jornal “Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 06.01.2013).
Outra versão em “Diário Insular” Angra do Heroísmo (05.01.2013).