Os Idiomas e as Labaredas
Denominada “silly season”, esta
época é assim chamada para adjectivar o Verão e os seus ritmos calmosos, como se existências
activas e consciências despertas ficassem tolhidas por sonolências lentas ou abúlicas, com perda de noção das realidades e alienação de problemas quotidianos.
– Porém, nesta altura em que
muitos procuram usufruir de retemperante e merecido descanso, aquela denominação
é sobretudo usada na gíria social e
jornalística para designar uma quadra em que nada de importante e decisivo supostamente se mostraria, ou aparenta (não) acontecer, enquanto a
classe política (capital actora da
dita silliness, idiotia ou folly, quando não crónica loucura…) vai a
banhos ou vem de vilegiaturas desopilantes, até ao inescapável regresso àquela prudente queda na real (que dá pelo teatral nome de
“rentrée”).
Ora neste final de Agosto, com o
País ardendo e queimando vidas e bens, por cá (onde fica, accionável a todo o momento, a Base das Lajes…) – para não falarmos
já das frenéticas ideias, peregrinas mensagens e belas declarações de intenção
autárquica (das quais os discursos e
cartazes vão ficando já recheados e as
labaredas do inferno estão sempre cheias…) –, aquilo a que de mais
dramático vamos assistindo – não tanto de palanque (como nas nossas remansosas
touradas) quanto possivelmente a caminho de mundialmente tornarmos o orbitar aquele
olho do furacão muito bem analisado
no Editorial do jornal terceirense “Diário Insular” de 30 de Agosto – é o que
sobre a Síria cresce a todo o segundo, por entre desencontradas e contraditórias versões diplomáticas e estratégicas,
enquanto se aguarda o resultado das investigações da ONU e crescem contestações
e reservas relativamente às inclinações, ditas “punitivas” do regime
totalitário de Assad, pelos teleguiados drones,
mísseis e aviões dos EUA e da França, conquanto ambos vacilantes (ou
retardatários…) e em impasse (isolamento…) acelerado face ao recuo britânico,
às demarcações árabes, russas e iranianas, às cautelas israelitas e às incertezas e riscos globais de tal campanha
militar!
– Por tudo isso é que convém
permanecermos atentos e críticos, por entre todos os idiomas alheios e as labaredas próprias deste final de Verão que não augura nada de bom…
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Em Azores Digital:
Jornal “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 31.08.2013);
RTP-Açores:
http://tv2.rtp.pt/acores/index.php?headline=14&visual=10
e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 03.09.2013).
http://tv2.rtp.pt/acores/index.php?headline=14&visual=10
e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 03.09.2013).