quinta-feira, janeiro 09, 2014


Açores perderam no jogo

de lugares para a FLAD




“Diário Insular” (DI) – Tem acompanhado a problemática da Base das Lajes numa perspectiva multidisciplinar, e recentemente abordou (*) a posição da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) no âmbito das relações Portugal–EUA (*) . Como vê as últimas revelações sobre esta Fundação e os Açores?

Eduardo Ferraz da Rosa (EFR) – Creio estar a referir-se às escolhas para os órgãos sociais da Fundação, questão controversa e que pode resumir-se a isto (ladeando naturalmente o jogo de interesses político-partidários, estratégico-diplomáticos, pessoais e outros ali envolvidos e que não vem ao caso retomar (como colaterais e putativas agências e sociedades; o CPPC – Centro Português para a Cooperação, que integrou Marques Mendes, Ângelo Correia, Vasco Rato, Júlio Castro Caldas e outras destacadas figuras do PSD; a Loja “Mozart”, o IPRI, o IPRIS, etc.):

– A Região pretendia um representante formal, ou alguém que informalmente assegurasse, por via de uma “especial ligação” ao Arquipélago, a representação efectiva dos Açores no Conselho Executivo (CE) da FLAD, embora anteriormente tivessem estado açorianos (Mário Mesquita e Vasco Pereira da Costa) em vários dos seus órgãos.

Ora com o afastamento da ex-ministra socialista Maria de Lurdes Rodrigues (então nomeada por José Sócrates) e sua substituição na presidência da FLAD por Vasco Rato (escolha directa de Passos Coelho), ficando entretanto imprecisa (insegura?) a posição de Mário Mesquita e surgindo a indigitação de Miguel Monjardino…

DI – …para que lugar e nomeado por quem?

EFR – …designado e convidado pelo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, mas para o Conselho de Curadores, provavelmente com acordo tácito do Governo Regional, porém talvez sem atempada percepção, por parte dos Açores, das dinâmicas ali impostas, tanto mais quanto a posição de Mário Mesquita acabaria por oscilar, indefinida e despromovida no seio da Fundação, até finalmente este açoriano integrar o seu Conselho de Administração, mas não o Conselho Executivo (onde estivera antes, liderando com dinamismo e reconhecido mérito as áreas de Humanidades, Cultura e Artes, e o Programa Açores da FLAD).

– De resto, uma leitura atenta (desde início bem previsível…) dos contornos e percursos deste caso na Assembleia Regional e em Lisboa apontaria indubitavelmente nesse sentido…

Todavia recorde-se ainda o sintomático remate – duvidoso para os Açores e não só…– de Ângelo Correia ao “Expresso” (a propósito da opção Rato: “É uma solução boa para o primeiro-ministro, boa para o próprio, boa para os Estados Unidos e boa para Portugal"), sem deixarmos nós de suspeitar que por ali andou ainda a ressabiada mão do velho Rui Machete, dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Defesa (quando não até Finanças) da governação central do PSD/CDS-PP…


DI – Como explica o repúdio unânime e suprapartidário na ALRA face à não integração do açoriano (socialista) Mário Mesquita no Conselho Executivo da FLAD?

EFR – Tal confluente reacção pode compreender-se, tanto à luz das actuais e concertadas diligências açorianas de Vasco Cordeiro e Duarte Freitas (com vista a tentar minorar o impacto negativo da progressiva desactivação ou da reconversão técnico-operacional e tecnológico-militar em marcha na Base das Lajes), quanto devido ao granjeado prestígio de Mário Mesquita e ao reconhecimento daquilo que, também através da FLAD, a sua valorizadora consciência e consensual entendimento prático da importância dos Açores poderiam continuar, directa ou indirectamente, a contribuir para o desenvolvimento desta Região Autónoma, que – postas as coisas no pé em que estão – sai novamente a perder neste complexo jogo, apesar das qualificações de Miguel Monjardino na área da geoestratégia e das relações internacionais!

Só que a problemática histórico-política e societária global dos Açores, a cooperação portuguesa com os EUA e a utilidade da FLAD (criada à sombra financeira das Lajes) permanecem muito para além disso…
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RTP- Açores:
“Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 30.11.2013),
e “Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 03.12.2013).
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Texto integral da Entrevista concedida ao jornal “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 09.01.2014) e reproduzida no jornal "Diário dos Açores"(Ponta Delgada, 10.01.2014).

Idem em RTP-Açores:

















e Azores Digital: