Açores perderam no jogo
de lugares para a FLAD
“Diário Insular” (DI) – Tem acompanhado a problemática da Base das
Lajes numa perspectiva multidisciplinar, e recentemente abordou (*) a
posição da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) no âmbito das
relações Portugal–EUA (*) . Como vê as últimas revelações sobre esta
Fundação e os Açores?
Eduardo Ferraz da Rosa (EFR) – Creio estar a referir-se às escolhas
para os órgãos sociais da Fundação, questão controversa e que pode resumir-se a
isto (ladeando naturalmente o jogo de
interesses político-partidários, estratégico-diplomáticos, pessoais e
outros ali envolvidos e que não vem ao caso retomar (como colaterais e
putativas agências e sociedades; o CPPC – Centro
Português para a Cooperação, que integrou Marques Mendes, Ângelo Correia, Vasco
Rato, Júlio Castro Caldas e outras destacadas figuras do PSD; a Loja “Mozart”,
o IPRI, o IPRIS, etc.):
– A Região pretendia um representante formal, ou alguém que informalmente assegurasse, por via de
uma “especial ligação” ao Arquipélago, a representação
efectiva dos Açores no Conselho
Executivo (CE) da FLAD, embora anteriormente tivessem estado açorianos
(Mário Mesquita e Vasco Pereira da Costa) em vários dos seus órgãos.
Ora com o afastamento da
ex-ministra socialista Maria de Lurdes Rodrigues (então nomeada por José
Sócrates) e sua substituição na presidência da FLAD por Vasco Rato (escolha
directa de Passos Coelho), ficando entretanto imprecisa (insegura?) a posição
de Mário Mesquita e surgindo a indigitação de Miguel Monjardino…
DI – …para que lugar e nomeado por quem?
EFR – …designado e convidado pelo primeiro-ministro Pedro Passos
Coelho, mas para o Conselho de Curadores, provavelmente com acordo tácito do
Governo Regional, porém talvez sem atempada percepção, por parte dos Açores,
das dinâmicas ali impostas, tanto mais quanto a posição de Mário Mesquita acabaria
por oscilar, indefinida e despromovida no seio da Fundação, até finalmente este
açoriano integrar o seu Conselho de Administração, mas não o Conselho Executivo (onde estivera antes, liderando com
dinamismo e reconhecido mérito as áreas de Humanidades, Cultura e Artes, e o
Programa Açores da FLAD).
– De resto, uma leitura atenta (desde
início bem previsível…) dos contornos e percursos deste caso na Assembleia
Regional e em Lisboa apontaria indubitavelmente nesse sentido…
Todavia recorde-se ainda o
sintomático remate – duvidoso para os Açores e não só…– de Ângelo Correia ao
“Expresso” (a propósito da opção Rato: “É uma solução
boa para o primeiro-ministro, boa para o próprio, boa para os Estados Unidos e
boa para Portugal"), sem deixarmos nós de suspeitar que por ali andou
ainda a ressabiada mão do velho Rui Machete, dos Ministérios dos Negócios
Estrangeiros e da Defesa (quando não até Finanças) da governação central do
PSD/CDS-PP…
DI – Como explica o repúdio unânime e suprapartidário na ALRA face à
não integração do açoriano (socialista) Mário Mesquita no Conselho Executivo da
FLAD?
EFR – Tal confluente reacção pode compreender-se, tanto à luz das
actuais e concertadas diligências açorianas de Vasco Cordeiro e Duarte Freitas (com
vista a tentar minorar o impacto negativo da progressiva desactivação ou da
reconversão técnico-operacional e tecnológico-militar em marcha na Base das
Lajes), quanto devido ao granjeado prestígio de Mário Mesquita e ao
reconhecimento daquilo que, também através da FLAD, a sua valorizadora
consciência e consensual entendimento prático da importância dos Açores
poderiam continuar, directa ou indirectamente, a contribuir para o
desenvolvimento desta Região Autónoma, que – postas as coisas no pé em que
estão – sai novamente a perder neste complexo jogo, apesar das qualificações de
Miguel Monjardino na área da geoestratégia e das relações internacionais!
Só que a problemática histórico-política e societária global dos Açores, a cooperação portuguesa com os EUA e
a utilidade da FLAD (criada à sombra financeira das Lajes) permanecem muito
para além disso…
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(*) – Ver em Azores
Digital: http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=2481;
RTP- Açores:
“Diário Insular”
(Angra do Heroísmo, 30.11.2013),
e “Diário dos Açores”
(Ponta Delgada, 03.12.2013).________________________________________
Texto integral da Entrevista concedida ao jornal “Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 09.01.2014) e reproduzida no jornal "Diário dos Açores"(Ponta Delgada, 10.01.2014).
Idem em RTP-Açores:
e Azores Digital: