terça-feira, janeiro 21, 2014


Olhos e areia na Praia da Vitória
sob ventos e marés da FLAD

Por ocasião do II Fórum Roosevelt, promovido pela FLAD em 2010, no discurso ao Plenário que decorreu a 15 de Abril na Praia da Vitória, o seu principal responsável, meritório organizador e efectivo coordenador – Mário Mesquita – teve a sinceridade e nobre gentileza de confessar (nomeando-me de surpresa e publicamente) que aquela sessão sobre “As relações transatlânticas e os equilíbrios internacionais emergentes” ocorria precisamente ali devido a um crítico reparo feito no meu artigo “Os Senadores e as Poldras do Atlântico”, publicado anos antes (25.07.2008), e onde, apreciando os modelos projectados para tal tipo de encontros, sublinhei esperar-se – “certamente”! – que a Praia da Vitória não fosse esquecida e justificadamente figurasse de modo visível no Fórum seguinte; o que de facto aconteceu!


– Ora vem esta memória a respeito da diligente proposta, aprovada em 16 de Janeiro, que o deputado Aníbal Pires (PCP) levou à ALRAA, exigindo que a FLAD – criada, como é sabido, à sombra financeira e diplomática das Lajes mas desde sempre palacianamente sedeada em Lisboa – abrisse uma delegação ou sucursal nos Açores, mais precisamente na Praia da Vitória….

E vai daí, os partidos, com destaque para o PSD e o PS, surfando a maré fladista em cavadela, logo vieram à liça, qual deles o mais inspirado, subscrevendo e cobrindo o oportuno lance do PCP com tal aparato tribunício e destreza reivindicativa que certas notícias quase nem deixavam perceber de quem partira a concretização de tal ideia que – não sendo nova nem modelarmente consensual – nunca fora formalmente levada a tão alta e significativa reclamação …

– É claro que nada nos garante (como se pressentiu) que a proposta do PCP, que agora passa a ser do próprio Parlamento açoriano, venha a ter concretização cabal, muito menos nos moldes e para os fins idealizados por alguns líderes partidários locais, até porque o seu estatuto, duvidosa estatura e rodopiante credibilidade, com antecedentes de (in)conveniência (reveja-se aquele famoso “Relatório” que ficará para a posteridade como patético relambório e paradigmático testamento sobre a Base das Lajes), –  arremessos ardilosos e recorrentes despautérios que deram aos olhos de todos a mais desabonatória e areada imagem que desta terra imaginar se podia ver (desperdiçada), e aos quais também aqui fiz várias referências nos finais de Janeiro do ano passado, acentuando então, a  dado passo, o seguinte:

“Ora, independentemente daquilo que sobre tal ilustrado rebento municipal terá de ser posteriormente dito, mas porque se trata de reais imagens e imediatos interesses nossos (açorianos e portugueses!), não posso deixar de confessar ter sido com um misto de vergonha e de indignação que li semelhante e suposto “Relatório”, para mais numa altura histórico-diplomática e com um destino negocial, estratégico e de soberania que, ainda por cima, lhe pretenderam e pretenderão dar…

 

“ – Bem sei (calculo...) que o dito “Relatório” não fará propriamente História (embora talvez provoque alguma mossa conjuntural, ou suscite dobradas e piedosas risotas historicamente humilhantes para todos nós!). Todavia, e para além disso, que aquelas espantosas letras e folhas hão-de certamente ficar para a contemporânea história local dos Açores (e de Portugal no seu todo, desde a mais humilde freguesia à mais científica e distinta Academia…), como um datado e pequeno monumento (significante na sua insignificância…)  à menoridade, à irresponsabilidade e ao nosso comprometedor e degradante retrocesso político, institucional, social, cultural e mental –, lá disso não haverá a mínima dúvida!”…

Porém, hoje, não posso deixar de terminar esta Crónica sem uma outra palavra final, de maior louvor esta, para João Ormonde, representante da Comissão de Trabalhadores da Base das Lajes, que tão dignamente se firmou e afirmou em Lisboa, junto de sindicatos solidários, de partidos diversamente vigilantes e dos balofos e arrogantes senhorios (provisórios) dos destinos do nosso pobre e subjugado País, aonde, como nos tempos de Eça, a alegada ciência de governar se tornou “uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse”!
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Publicado em "Diário dos Açores" 
(Ponta Delgada, 22 de Janeiro de 2014):



Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=2519:


Primeira versão publicada em "Diário Insular" 
(Angra do Heroísmo, 18 de Janeiro de 2014):