Os Animais de Ulisses
Jean-Léon Gérôme, “Diogène”
(1860)
Após anos a observar rendas escorrendo
noutras gaiolas e tertúlias, acaba a Associação
Amigos dos Animais da Ilha Terceira de ver justamente reconhecidos pela
Câmara Municipal de Angra do Heroísmo alguns nobres propósitos seus, que nunca dantes
mereceram consentâneo apoio.
– E assim tão louváveis gestos e
respectivas mediatizações mais propiciaram urgente
chamada de atenção para complexas e interligadas questões psicossociais,
culturais, político-jurídicas, filosóficas, técnico-científicas e ecológicas que
integram não só a chamada Causa Animal
quanto a realidade crua, diariamente constatada, do degradante modo como animais domésticos
são tratados entre nós, aumentando constantes
abandonos e pungentes e quase
inimagináveis “maus tratos por toda a ilha”..., factos que aliás reclamam
outras e mais moralizadoras medidas!
De resto, não fosse suficiente
ver pessoalmente essas recorrentes e
dramáticas barbaridades, bastaria consultar as redes sociais, que tão aviltantes e sintomáticos actos denunciam,
para aferir dos níveis de desumanização
ou regressão embrutecedora onde caímos, e dos quais (in)conscientemente toda a
sociedade, directa ou indirectamente, é sujeito activo ou cúmplice passivo…
Ora sabendo-se que tudo isto, sem sofismas nem subterfúgios, é revelador do grau de subdesenvolvimento ou decadência civilizacional historicamente atingíveis por comunidades com tipologias comportamentais, economias emocionais e paradigmas imaginários, axiológicos, racionais e espirituais oscilantes – quando não patológicos –, vale lembrar, como dizia Jeffrey M. Masson ao estudar o mundo das emoções dos animais domésticos, que “devemos a nós mesmos, aos animais que domesticámos e às gerações futuras” uma profunda e ordenada mudança de pontos de vista e do agir pessoal e colectivo, de modo a procurarmos minorar, no que estiver ao nosso alcance, o peso total da crueldade, do sofrimento e da dor na Terra que gerou todos os sistemas e formas de Vida, Psiquismo e Consciência que nos envolvem e dos quais somos uma das partes constituintes!
Ora sabendo-se que tudo isto, sem sofismas nem subterfúgios, é revelador do grau de subdesenvolvimento ou decadência civilizacional historicamente atingíveis por comunidades com tipologias comportamentais, economias emocionais e paradigmas imaginários, axiológicos, racionais e espirituais oscilantes – quando não patológicos –, vale lembrar, como dizia Jeffrey M. Masson ao estudar o mundo das emoções dos animais domésticos, que “devemos a nós mesmos, aos animais que domesticámos e às gerações futuras” uma profunda e ordenada mudança de pontos de vista e do agir pessoal e colectivo, de modo a procurarmos minorar, no que estiver ao nosso alcance, o peso total da crueldade, do sofrimento e da dor na Terra que gerou todos os sistemas e formas de Vida, Psiquismo e Consciência que nos envolvem e dos quais somos uma das partes constituintes!
– Recordando que foi o animal Argos aquele que primeiro
reconheceu o homem Ulisses – “só que
já não tinha força para se aproximar do dono”/ “ [que] olhou para o lado e
limpou uma lágrima” (*) …–, como esperar porém que quem nem sequer se indigna já, e não rejeita a maior desumanização dos humanos, se insurja depois contra a violência sobre os animais?
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(*) Cf. Homero, Odisseia, Canto XVII. Trad. Frederico Lourenço.
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(*) Cf. Homero, Odisseia, Canto XVII. Trad. Frederico Lourenço.
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Azores Digital:
RTP-Açores:
“Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 28.01.2014):
Outra versão:
“Diário Insular” (Angra do Heroísmo, 25.01.2014):