As Danças da Cadeira
No dia 19.08.2012 publicava-se
aqui no “Diário dos Açores” um texto com título quase idêntico ao desta Crónica
(então chamada “A Dança das Cadeiras”...), mal sabendo-se porém que passados cerca
de dezoito meses haveríamos de ser levados a retomar a sua leitura, – tão actualizada e premonitória fora a
respectiva escrita, e mais actual ainda o ali vislumbrado –, que nem valia
sequer a pena reinventar outro discurso para reflectir o mesmo...
– E assim lá então se constatava
que Berta Cabral ao ser confrontada (e fazendo frente a um gesto-alvitre nada inocente…) com a possibilidade de
Maria do Céu Patrão Neves vir a deixar o lugar para que fora eleita no
Parlamento Europeu (como é sabido, naquela altura em substituição inusitada, forçada e então muito mal aceite, de Duarte
Freitas), de modo a poder vir a integrar
um eventual futuro Executivo regional social-democrata, logo a dita antiga
presidente do PSD-A se apressou a afastar
tal hipotético cenário, dizendo mesmo que aquela (ainda actualmente em
funções) deputada europeia permaneceria mas era muito bem onde estava, e que o seu casual ingresso num governo do partido de Passos Coelho nos Açores,
presidido por si, lhe estaria, portanto, vedado!
O caso, na altura, não trazia
novidade por aí além e teria importância nula, porquanto Patrão Neves, quiçá
injustamente, por razões várias e impressões pessoais, nunca fora figura implantada no PSD local, porventura devido a uma
certa grassante inveja ou ciumeira pouco institucionalmente abonatórias, mas
acima de tudo porque muitos membros do PSD-A ainda não se haviam esquecido de todo o processo que levara à
candidatura daquela predilecta ex-mandatária e conselheira de Cavaco Silva…
– Todavia, por outro lado ainda,
a ninguém que conhecesse minimamente Patrão Neves passaria pela cabeça imaginar
aquela tão activa, insinuante e cativante nova especialista e tirocinada
deputada europeia em Agricultura e Pescas comunitárias, depois de uma tão afanada
e agenciada prestação política nacional e internacional, regressando a prazo
certo, de humilde pastinha debaixo do braço, aos seus pequenos, conquanto
luzidios canteiros departamentais e púlpitos na Universidade dos Açores
(excepção naturalmente feita a uma, não tão mirabolante quanto isso, subida à magnificência reitoral da dita agremiação
ilhoa de Ensino Superior, mal surgisse a oportunidade estratégica, recursiva ou
eleitoral para tanto...)!
Ora não é que, tenha lá sido como
foi ou tenham as coisas andado e desandado nos jogos internos de uns e outros, o que importava retirar da lógica
inerente àqueles sinais e premonitórias peripécias pretéritas bem ficou à vista
agora, com o duplo, simultâneo e letal afastamento tanto de Patrão Neves quanto
de Berta Cabral (igualmente na anunciada linha da mesma corrida...) e das suas alternativamente hipotéticas, tão
faladas e muito apontadas quase como nacionalmente
prováveis candidaturas ao Parlamento Europeu, e em lugar selecto e elegível
na lista da Coligação PSD-CDS/PP, tanto mais quanto era preciso ou conveniente
lá meter-se um nome feminino, de preferência fora dos dominantes gineceus reinantes, ou a reinar, nos redutos da Lapa e
nos assomos do Caldas...
– Mas depois foi o que se viu:
Para surpresa (?) das
interessadas e dos interessados, cá e lá, com um firme quero, posso e mando, sai-se Duarte Freitas com a jovem
sindicalista Sofia Ribeiro – e logo para aquele relevante e nunca dantes
concedido 3.º lugar nas listas nacionais para o PE... – à frente de outros
esforçados e nobres barões e reforçadas e defendidas baronesas, que assim se
viram todos ultrapassados por uma como que jovenzita
plebeia e fresquinha nestas andanças,
aonde, no catedrático juízo de Patrão Neves só põem o pé ligeiro, o assento e a
saia elegantes ou a mão em finesse de
salon, antigos ministros e altas sumidades, que é como quem retrata
experimentados cosmopolitas e europeístas convictos, poliglotas retóricos e outras
gargantas de funda lábia técnica (ou sofística...), – tudo puras castas de infantes
luzidios e cultíssimos, princesas de escorridas melenas e alta cerebração... – que
não, que nunca à dimensão curricularmente depreciada de uma suposta imitação
menor de alguns daqueles outros politiqueiros de Estrasburgo e Bruxelas..., e
logo por uma quase desconhecida e humilde gatinha
borralheira da Política, ainda um pouco juvenil e até proveniente dessa
sempre duvidosa maltinha dos sindicatos (e logo dos professores abaixo do
Ensino Superior...)!
– Despeito maior – oh! –, francamente,
não era possível deixar escapar em certos remoques de má perdição... E logo
então, por isso mesmo, é que estalou o verniz a muitos coligados
correligionários dessa incensada Europa, num retorcido esgar de nervos e
derramamento de lágrimas (quando não, como diz o povo, “de baba e ranho”...),
numa queda em dominó de patrões e patroas da política regional e nacional, e desde
algumas das mais primitivas vozes
insulares (que em surdina engoliram colheradas de malagueta curtida, ou
afogaram despeitos em cabisbaixas indignações...), até às mais tonitruantes e oleadas solturas analíticas
de velhos Ângelos & Demónios lusitanos, estafadas correias da mais saloia
(querendo-se sábia) e da ressabiada (mascarando-se de pura) prosápia
político-partidária que a panela da Democracia à portuguesa caldeou para desgraça e desencanto do nosso subjugado,
tutelado, parasitado e sonâmbulo País!
É claro que nada disto, nas
reacções aqui e ali figuradas e na prosa que as deixa esboçadas – ao que cremos
e queremos – envolverá nada de pessoal, embora nenhum observador nisso
acredite, antes quase todos apontando já o dedo a Duarte Freitas para acusá-lo
de “vingança” e “retribuição de saneamento” pelo que lhe fizeram atrás, a mando
ou sob magistraturas de supremas influências na Nação e no seu fatídico PSD...
– Porém outros há que também já
vão sentindo, ou pressentindo, em tudo isto os ares e inspirações que sobem dos
novos talentos e rebentos com visão de futuro e em ascensão renovadora à volta
do actual presidente do PSD-A, sejam eles os dos seus conselheiros privados e/ou
independentes, sejam outros que ninguém imagina quem serão nem quanto tem ou
valem nos seus currículos e testemunhos de cidadania activa...
Agora (mas anuindo em que todos
foram ou serão novatos alguma vez em certas artes e ofícios...), no que a Maria
do Céu Patrão Neves ainda diz respeito – e para além de simpatias ou antipatias
particulares ou generalizadas, que não vem ao caso –, a verdade é que o que lhe
fizeram, daquele jeito, não deixa de ser humilhante, aparentemente injusto, possivelmente
imerecido e mesmo individualmente penalizador, além de poder, à primeira vista,
vir a não fortalecer em nada a posição e a pretendida
influência insular açoriana nas instâncias decisivas da União Europeia, até
porque esta eleição ocorre num contexto de crises comunitárias delicadas,
grandes e mais exigentes, num enquadramento nacional altamente imprevisível e comprometedor,
e num cenário regional (político-económico e financeiro, técnico-governamental,
parlamentar, cívico, cultural e até universitário...) bastante oscilante,
resvaladiço e criador de uma série de
anti-corpos à unidade interna das ilhas, à credibilidade das instituições
autonómicas e à qualificação da actividade político-partidária, parlamentar,
executiva e... sindical!
– Finalmente e perante a
conjugação de todos estes factores e factos, há quem arrisque a previsão de
alguma próxima agitação intestina no PSD-A, tanto mais quanto, tanto a
composição do dito “Conselho Consultivo” privado de Duarte Freitas, quanto a
escolha de Sofia Ribeiro – com tudo o que isso significa ou revela... – aparece
quer a contra-ciclo daquilo que o projecto liderado pela equipa de Carlos
Pacheco Amaral (ainda por especial relação à problemática europeia...) vinha
começando a construir e que, doravante, poderá perder muito do seu mais
fundamental sentido e dimensão, quer no que diz respeito a um mais sólido e
prospectivo posicionamento nacional e europeu do PSD-Açores, quer ainda no que
ao trabalho de reflexão interna, participada, amadurecida, convincente e
mobilizadora dos seus quadros, militantes, simpatizantes e potenciais eleitores
em todas as nossas ilhas concerne...
Por tudo isto, talvez, é que da antiga dança de 2012 às novas danças
da cadeira em 2014, a distância pode não ser quase nenhuma, nem valer sequer
o texto de nova Crónica! A ver vamos...
– Porém e seja lá como for, o que
importa outra vez, como se salientou há meses, é concluir que, mais do que
antecipar ou atender a novos ou repostos ensaios
para certas carreiras no Poder estabelecido, mais valerá pensar, fazer pensar, decidir e trabalhar autenticamente e em conjunto
para os Açores e com os Açorianos – com verdade, inteligência, isenção e
generosidade –, naquilo que a Autonomia, a Democracia e o Desenvolvimento de
nós exigem reforçadamente hoje, deixando o resto e o ajuste das contas da
mercearia insular para último plano de intenções, ou para o balcão do fundo da
estufa ou da adega político-partidária…, – se é que esses inferiores níveis de
compra e venda de títulos passageiros
e bugigangas institucionais já não
desterraram ou usurparam de vez (em todos os partidos e nas suas listas...) a
real importância do melhor que, a seguir-se por essas vias passionalmente
enquistadas, clientelarmente obscurantistas ou apenas pessoalmente caprichosas,
com toda a certeza faltará depois sempre em créditos éticos, decisivas competências,
indiscutíveis credibilidades e solidários méritos mutuamente complementares, para o que verdadeiramente interessa
defender, justamente consolidar e fazer progredir na nossa terra!
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 15.03.2014):
e "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 16.03.2014):