sexta-feira, março 07, 2014



Quotidianos intemporais




O tradicional costume terceirense de “correr danças e bailinhos” durante o Carnaval, ou agora, talvez melhor, de “esperar por elas e por eles” em salões comunitários ou frente a televisores e outros meios que ao vivo ou mediaticamente os levam e trazem ao interessado acompanhamento dos espectadores, tornou a repetir-se este ano por toda a ilha Terceira (desde clubes, sociedades e agremiações de freguesia, ou mesmo de lugar ou bairro, até às salas, anfiteatros ou auditórios de Angra do Heroísmo e Praia da Vitória, e assim enfim e afinal desde os Açores até às longínquas paragens da chamada diáspora açoriana onde esta quadra popular festiva é também mimada e seguida.


– E para quem, de um ou outro modo, conseguiu assistir a tais espectáculos e exibições certamente não terão faltado motivos vários para apreciação de tão fantástica manifestação da nossa Cultura e Arte Populares, onde Dança, Canto, Teatro, Música, Coreografia, Indumentária, Drama, Comédia, Humor, Cantigas de Maldizer, Crítica Social, Imaginários do Quotidiano, História, Mitos e Desconstrução de Mitos e Mitologias, Hagiografias, Amarguras, Dramas e Esperanças se fundem e confundem numa única e ímpar afirmação de Vida, Sonho e Fantasia, que tanto conseguem potenciar embrionários sentimentos de revolta e anseios de liberdade e justiça, como podem simplesmente servir de escapatória e descompressão de conflitualidades de outro modo não integráveis de modo pacífico (ou pacificado) na controlada ordem e no sistema de valores estabelecidos!



Todavia cá tornámos a ver e a sentir que quase nada escapa à pupila popular e à denúncia que a respectiva verbalização veicula, mesmo que apenas nos à partes ou nos interstícios de uma brilhante, sincopada e musicada declamação, onde as gramáticas se cruzam mas o alvo não escapa à certeira ou matreira rima:


– Talvez porque, como um dos seus mais esmerados artífices poéticos (Álamo Oliveira) tão paradigmaticamente escreveu no seu fabuloso Quixote, também este delírio saudoso de festa e de alegria triste, “nascido no mês intemporal dos homens” deixa sempre “terras de amor embrionário, para que cresça e amadureça e seja colhido ao fim do dia”...
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Azores Digital:
















RTP-Açores:
















“Diário Insular” (08.03.2014):























e “Diário dos Açores” (08.03.2014):