sábado, maio 03, 2014



As Redes e as Ratoeiras
da Fundação Luso-Americana




.1. Embora não tenha, por enquanto, suscitado aprofundados comentários e merecidas análises contextualizadas, a renúncia de Miguel Monjardino ao desempenho de Curador da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) – lugar que acabara de ocupar e para o qual fora directamente indigitado pelo Primeiro-Ministro –, não deixou, mesmo assim, como seria e mais será de esperar, de levantar não só grande curiosidade e expectativa, quanto teve o condão de começar já, conquanto em círculos sintomática e discretamente bem informados, a fazer levantar pontas, véus, capas e aventais com que tantos dos misteriosos gabinetes apalaçados, atapetados corredores, artísticas galerias, frondosos jardins e emblemáticos capitais daquela Fundação, desde há muito tempo, vem tecendo em estratégicas molduras e bons préstimos...

– O tema, evidentemente, interessa aos Açores, por um lado porque, tal como Mário Mesquita (que lá permanece...), Monjardino é açoriano – embora não tenha sido nem em condição de representação nossa, nem, que se saiba, para outra qualquer deputação político-governamental que lá foi parar –, e ainda por outro, sendo que, conhecidas as suas qualidades e diplomáticas afinidades (a par de honorabilidade pessoal e qualificação intelectual indiscutíveis!), o seu afastamento da FLAD, na sequência de um pedido consumado há cerca de um mês, porém agora divulgado (por quem e com que intuitos?), pode estar relacionado com algo daquilo que o “Expresso” e a “Sábado”, em articulável concatenação de factos e supostas coincidências – que alegadamente não envolverão os Açores – quiseram publicar! 

Todavia, o que não se narrou é o que talvez se conte amanhã, por entrepostas intrigas, armadilhas e subtis ratoeiras...



2. A FLAD é uma “instituição portuguesa”, “de direito privado”, “financeiramente autónoma” e tendo por missão “contribuir para o desenvolvimento de Portugal através do apoio financeiro e estratégico à cooperação entre a sociedade civil portuguesa e americana”.

Criada em 1985, esta Fundação nasceu assim para promover relações Portugal/EUA e foi logo dotada de cabedais vastos – a partir de um pecúlio inicial (85 Milhões de Euros) constituído “através de transferências monetárias feitas pelo Estado Português, e provenientes do Acordo de Cooperação e Defesa entre Portugal e os EUA (1983)”, isto é, fundamentalmente, ao abrigo ou à sombra, da Base das Lajes! –, declarando-se depois a viver, desde 1992, “exclusivamente do rendimento do seu património” e de valores que recentemente reacenderam polémicas à volta de Rui Machete (que a dirigiu durante cerca de 20 anos) e de velhos dissídios gestionários entre tutelares agentes, confrades, sócios, outros parceiros envolvidos e duros desagrados diplomáticos norte-americanos...

Por outro lado ainda, como já aqui comentámos, as últimas escolhas para os órgãos sociais da FLAD tornaram-se de imediato uma questão controversa e que se pode resumir ao seguinte, no essencial e no que se refere à posição dos Açores, de Mário Mesquita e de Miguel Monjardino – ladeando-se naturalmente o jogo de distintos interesses político-partidários, estratégico-diplomáticos, pessoais e outros que não vem ao caso retomar – por exemplo, as colaterais e putativas acções de várias agências e sociedades, v.g. o Centro Português para a Cooperação (que integrou Marques Mendes, Ângelo Correia, Vasco Rato, Júlio Castro Caldas e outras destacadas figuras do PSD), o IPRI, a Loja maçónica “Mozart”, etc.), e cujo labirinto teve, entre voltas e reviravoltas públicas ou de bastidores, que são relevantes para a nossa Região:

– Os Açores pretendiam um representante formal, ou alguém que informalmente assegurasse uma representação efectiva dos Açores no Conselho Executivo da FLAD (onde tinha estado Mário Mesquita), o que não se conseguiu; e foi depois, com o afastamento forçado da ex-ministra socialista Maria de Lurdes Rodrigues (nomeada por José Sócrates) e sua substituição na presidência da FLAD por Vasco Rato (escolha directa de Passos Coelho), que fomos chegando ao imbróglio actual...

Porém, dizíamos, no que se refere especificamente aos Açores, o assunto parece ter ficado por ali, gerido com algum cuidado e consenso projectivos por Vasco Rato (tanto em Lisboa como nas reuniões mantidas nos Açores com Vasco Cordeiro, e entre os dois na presença de Mesquita, que aliás mantém um asseado gabinete na Fundação).



3. Ora é neste contexto – que aparenta, pretende dissimular ou simula envolver várias vertentes... – que vem à ribalta de alguns OCS: 1) a renúncia e consequente afastamento de Miguel Monjardino; 2) o despedimento de José Sá Carneiro (agravado com a instauração judicial de um processo disciplinar contra este ex-secretário-geral da FLAD), e 3) a dispensa de uma outra Curadora da Fundação, a conceituada cientista Elvira Fortunato (que se tem pronunciado criticamente em relação à política para a investigação imposta pelo governo de Passos Coelho), por alegada “desavença com a novo presidente do Conselho Executivo” da FLAD (Vasco Rato) – ainda segundo fontes invocadas por aquele semanário – manifestada “num episódio [...] muito desagradável, desnecessário, inexplicável e institucionalmente incompreensível”!

– Todavia, pese embora alguma deriva acrescida ou compósita inflexão causal, a verdade é que, conforme já havíamos escrito aqui, a FLAD, ao sabor dos novos (des)alinhamentos e agenciamentos político-partidários e governamentais portugueses, luso-americanos e açorianos continua ainda em parto de profundas e controversas recomposições executivas, curadoras, técnicas e individualmente representativas, quase todas e todos ali se afigurando (ou não!?) pouco claros e justificados, sabe-se lá se numa série em crescendo de (des)acertos ou (des)ajustes de contas, nos quais os melhores róis, como em ratoeira armadilhada, estarão apenas à espreita de quem os desembrulhe, mordendo a isca (ou atirando-a a mar largo, como o dos Açores, mesmo a calhar...), para desvio de rota nas malhas gradas de outras redes, das quais o peixe mais pequeno, previdente e ágil, ter-se-á estrategicamente escapulido a tempo e antes que a embarcação adorne... 
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 06.05.2014):























e RTP-Açores:




















Outra versão em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 03.05.2014):























e "Azores Digital":
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=2619: