O Reino e as Festas
Como antigamente era sempre
considerado no estudo da História dos séculos XVI e XVII, e de alguns dos seus
antecedentes lendários e narrativos medievais que remontam ao século XI e à 1.ª
Cruzada, uma das razões ali apontadas para as várias e mutuamente implicadas
demandas exploratórias, missionárias, comerciais, expedicionárias e geo-imperiais
portuguesas em África e no Oriente (v.g. na Etiópia e Índia) foi a procura peregrina de um imaginário ou imaginado (miticamente verdadeiro
ou verdadeiramente mítico) “Reino do
Preste João”, fantástico e mais ou
menos fantasiado rei-sacerdote aliado
da Cristandade para a defesa da Terra Santa e bloqueio aos ímpetos muçulmanos.
Porém, sendo muito sugestiva tal
evocação de Umberto Eco, sobremaneira logo a mesma nos chamou a atenção por
inserir-se no âmbito de uma curiosa abordagem à Questio quodlibetalis XII de S. Tomás de Aquino (ou não fosse o
autor de O Nome da Rosa um profundo
conhecedor da sua obra) e onde o Angélico, respondendo a uma pergunta sobre
qual dos factores – o poder do rei, a
influência do vinho, o fascínio da mulher ou a força da verdade – seria o mais forte, convincente
e coactivo agente para motivar os homens,
e logo começando por notar que, não sendo aqueles comparáveis, porque de
géneros diferentes, podiam todavia, todos eles, “mover a algumas acções o
coração humano”...
– Resposta sem dúvida sensata e
avisada também para estes dias angrenses de bem preste festa, entre os novos guiões
municipais, as abancadas tasquinhas,
as crepitantes fogueiras de S. João e
esquecimento da real crise do nosso
sazonal e efémero reino são-joanino, aquele último, pela pesada força da verdade que esta contém, constituindo factor inquestionavelmente
mais decisivo para as tais acções de constrangimento
(no coração e na bolsa) dos moradores e dos sempre bem-vindos forasteiros (apesar
das penalizações saturantes da SATA e de outros despudorados e impunes
“inconseguimentos”, para usarmos léxico da recriadora linguagem da nossa
presidente Assunção, cujos pares, esses, já lá em Lisboa se puseram au point, auto-tabelando-se de pronto e
vantajosamente, à beira da estação calmosa e sem necessidade de mais informes
de quem quer que fosse...)!
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RTP-Açores:
e "Diário dos Açores" (24.06.2014):
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Primeira versão em"Diário Insular",
Angra do Heroísmo (21.06.2014):