sábado, junho 21, 2014



O Reino e as Festas


  Como antigamente era sempre considerado no estudo da História dos séculos XVI e XVII, e de alguns dos seus antecedentes lendários e narrativos medievais que remontam ao século XI e à 1.ª Cruzada, uma das razões ali apontadas para as várias e mutuamente implicadas demandas exploratórias, missionárias, comerciais, expedicionárias e geo-imperiais portuguesas em África e no Oriente (v.g. na Etiópia e Índia) foi a procura peregrina de um imaginário ou imaginado (miticamente verdadeiro ou verdadeiramente mítico) “Reino do Preste João”, fantástico e mais ou menos fantasiado rei-sacerdote aliado da Cristandade para a defesa da Terra Santa e bloqueio aos ímpetos muçulmanos.




 Nesse contexto, notícias desse suposto imperador e seus domínios, por tentativas de achamento empírico ou simples (re)criação literário-ficcional, foram chegando ao Ocidente (nomeadamente através de Marco Polo) e assim também a Portugal através de relatos de viajantes, mercadores, aventureiros e embaixadores, com destaque para os informes recolhidos pelo infante D. Pedro, por Afonso de Paiva, por Pêro da Covilhã e pelo Padre Francisco Álvares (deixando-nos este, em 1540, a Verdadeira Informação das Terras do Preste João das Índias).


 – Todavia, inesperadamente hoje, fomos reencontrar esse velho tema histórico num recente livro de Umberto Eco (Sobre Literatura), acabado de editar pela Relógio D’Água (Lisboa, 2014), encontrando essa referência ao Preste João precisamente no capítulo “A força da falsificação” (texto que reproduz a Lição Académica Inaugural do Ano de 1994-95 proferida pelo famoso filósofo, escritor e semiólogo italiano na Universidade de Bolonha).

Porém, sendo muito sugestiva tal evocação de Umberto Eco, sobremaneira logo a mesma nos chamou a atenção por inserir-se no âmbito de uma curiosa abordagem à Questio quodlibetalis XII de S. Tomás de Aquino (ou não fosse o autor de O Nome da Rosa um profundo conhecedor da sua obra) e onde o Angélico, respondendo a uma pergunta sobre qual dos factores – o poder do rei, a influência do vinho, o fascínio da mulher ou a força da verdade – seria o mais forte, convincente e coactivo agente para motivar os homens, e logo começando por notar que, não sendo aqueles comparáveis, porque de géneros diferentes, podiam todavia, todos eles, “mover a algumas acções o coração humano”...


– Resposta sem dúvida sensata e avisada também para estes dias angrenses de bem preste festa, entre os novos guiões municipais, as abancadas tasquinhas, as crepitantes fogueiras de S. João e esquecimento da real crise do nosso sazonal e efémero reino são-joanino, aquele último, pela pesada força da verdade que esta contém, constituindo factor inquestionavelmente mais decisivo para as tais acções de constrangimento (no coração e na bolsa) dos moradores e dos sempre bem-vindos forasteiros (apesar das penalizações saturantes da SATA e de outros despudorados e impunes “inconseguimentos”, para usarmos léxico da recriadora linguagem da nossa presidente Assunção, cujos pares, esses, já lá em Lisboa se puseram au point, auto-tabelando-se de pronto e vantajosamente, à beira da estação calmosa e sem necessidade de mais informes de quem quer que fosse...)!
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RTP-Açores:



























e "Diário dos Açores" (24.06.2014):






















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Primeira versão em"Diário Insular",
Angra do Heroísmo (21.06.2014):