sábado, junho 14, 2014


TESOUROS E OBRIGAÇÕES

O deputado Joaquim Machado apresentou um Projecto de Decreto Legislativo visando atribuir a designação de “Tesouro Regional” à Imagem e Tesouro do Senhor Santo Cristo, sendo que tais objectos, “propriedade da Diocese”, se revestem “de valor especialmente simbólico” e “inequívoco valor regional”.

Ora como ressalta desta bem intencionada iniciativa, o problema da existência e destino desse inalienável património da Igreja poderá tornar-se mais complexo por via da eventual aprovação simplista daquele decreto, que assim – arma de “dois gumes”... – convirá temperar com segurança legislativa e co-responsabilização inter-institucional, por quanto ali constará de matéria jurídico-constitucional, de Direito Canónico e da Concordata (vide arts. 23 e 24), que não fugirá por certo aos consultores da ALRAA, tal como não escapará ao minucioso escrutínio e qualificadas prerrogativas do Representante da República.


 E isto sem falarmos de questões como:

– Que estatuto para as futuras esmolas ou dádivas; implicações que tal classificação trará aos moldes estruturais de arrumo, guarda, conservação e exposição do Tesouro, e aos meios humanos necessários e habilitados para tal; que (des)obrigações para o acalentado Museu de Arte Sacra ligado ao Convento/Santuário; que abdicação, cedência ou compartilha de administração tal categoria originaria na Reitoria do Santuário e na Irmandade; que reservas ou recursos de alçada patrimonial última e sua primacial gestão corrente (artístico-museológica, sacra, litúrgica e festiva) caberiam aos “contratantes” (futuros “sócios” ou “associados” em cultural business, usufrutos possíveis, proventos advenientes), etc.!?

Enfim, temas que terão de ser devidamente equacionados face ao enquadramento legislativo invocado (nº 2 do artigo 10º do DLR nº 29/2004/A, de 24 de Agosto, alterado e republicado pelo DLR nº 43/2008/A, de 8 de Outubro), e cujos potenciais alcances e constrangimentos não devem ser esquecidos por ninguém com inteligência histórica e prudência institucional (quando não com mitra e anel...) na cabeça e no coração dos Açores e da nossa Diocese!
__________

Em RTP-Açores.














Azores Digital:






















e “Diário Insular” (Angra do Heroísmo (14.06.2014):