Assombrações e Ardis do PS
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O que se passou no Museu de Angra
(MAH) com o fatídico episódio das
“danças do ventre”, e tudo o que a partir daí veio à baila político-institucional
e ao conhecimento e debate públicos, revela uma série de (des)assombros e algumas renitentes e persistentes assombrações (vocábulo que sempre me
lembra o título de um talentoso livro de Fagundes Duarte publicado pela Caminho
em 1988).
– Ora também a ensombrar esta trama de indícios, factos e
acontecimentos (em crescente mediatização e doravante não escamoteáveis) estão
em sequenciais reportagens, notícias, crónicas e até “recados com amor” vindos a lume (Cf. DI, RDP-A, DA
e CA) após a “audição” parlamentar à
qual, por justificada iniciativa do
PSD, foi levado Avelino Meneses (cujos desempenhos
políticos tem sido lamentavelmente assaz confrangedores, – desde inocentadas insciências, manipulados logros
e inércias em que se tem deixado cair, até presunçosos passa-culpas arremessados aos seus dessolidarizados antecessores, passando por insinuações
desajeitadas, quando não auto-referencialmente desatentas, como os toscos remoques
desferidos a propósito do passado executivo-partidário de Jorge Paulus Bruno
(JB) e seu anterior e remoto alinhamento partidário (percurso
incoerente mas afinal generalizado e mais do que patente, desde há muito, em
tantas outras organizações e em quase todo o leque partidário, desde ex-pupilos
do CDS-PP e do PS a doutrinadores dos caminhos das autonómicas terras chãs do
PSD, até às mais remotas e juvenis lajes para caminhos do MRPP...), e sobre os
quais os actuais “camaradas” e “socialistas” do PS (e de Avelino Meneses também agora?) serão certamente os
últimos a terem esquadro ético ou malhete limpo nas mãozinhas e punhos de
cera para arrojar às janelas, pedras brutas ou colunas das lojas dos
vizinhos...
Entretanto, perante estes dados –
no sentido do apuramento da verdade integral e da necessária transparência dos actos políticos,
administrativos e pessoais deste vasto imbróglio, e já acrescidamente na medida
em que começaram a ser parcialmente divulgados
o teor genérico e a nula lisura do lacunarmente admitido percurso
político-administrativo e jurídico do confirmado Parecer da autoria do ainda Director
Regional da Cultura (DRC), a par do comprovado e assumido Despacho do ex-secretário da tutela sobre a mesma substância em
análise –, devem agora ser colocadas, mais imperativamente, as seguintes questões:
1. Quais, de que tipo e envolvendo que entidades foram as aludidas prestações do director do MAH à
Câmara da Madalena no caso do Anteprojecto
das “Memórias da Casa do Canal”, sendo que esta iniciativa municipal picoense
mereceu divulgação na Página da autarquia e no jornal “Incentivo” (12.09.2013)?
2) Em que moldes e/ou porque foram (ou não?) accionados os
disponíveis mecanismos
político-administrativos e/ou
inspectivos regionais, para um devido apuramento de responsabilidades “disciplinares”,
ou outras de índole alegadamente
“ilegal” ou “ilícita”, porém, segundo tenta dizer-se hoje, ocultadas,
proteladas ou (quem sabe!?) já pragmaticamente prescritas? Todavia, por estes dias, foi deste modo que o DRC
tentou relatar o assunto no seu bem apanhado
e curioso depoimento radiofónico:
– “Tendo havido situações de
eventuais irregularidades, (...) foi feita uma informação jurídica, para
solicitar ao titular da Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura o
apuramento destes factos. Não havendo um despacho direito sobre a matéria que
tinha sido solicitada para decisão (...), o assunto ficou encerrado
momentaneamente”...
E logo a seguir Nuno Ribeiro
Lopes declara: “Dado o tempo que passou, eu entendi na altura que a questão era
dentro da minha competência (...), – [mas] tinha havido um despacho no sentido
[de ser considerado] extemporâneo (...) cessar as funções do Dr. Paulus Bruno,
digamos 10 meses antes delas poderem ser avaliadas. Nessa medida, quando foi
[agora] questionada a substituição ou continuação do actual director do Museu
de Angra, eu propus, por minha iniciativa, ao senhor secretário [Avelino
Meneses], a recondução do director do Museu de Angra. E, portanto, as
declarações do senhor secretário correspondem à verdade”... Ou seja, o que o DRC
tenta explicar é o facto de, na
prática, já que o anterior secretário tinha considerado “extemporâneo”, em
certa data, fazer JB “cessar as funções” que exercia, pois que continuassem
doravante as mesmas...
Ora, apesar desta lengalenga um
pouco embrulhada e cheia de hiatos, a verdade é que se percebe que o DRC em
funções está ali a querer assacar
responsabilidades a Fagundes Duarte pela não cessação imediata da comissão de serviço (então em vigor) de JB
– então julgada “extemporânea” pelo ex-secretário –, ao contrário do que propunha o DRC – no seu Parecer, fundamentado em “eventuais irregularidades” (não efectivamente apuradas, mas apuráveis?) e que estaria a sugerir o imediato termo da dita “comissão”... E
aliás o DRC faz esta esperteza de
malabarista, como é evidente, para tentar ganhar duas vazas com o mesmo
trunfo...
– Assim, embora realmente reconhecendo ou alegando ter omitido
(para mal menor e abonado...) o seu anterior Parecer a Avelino Meneses (ilibando-o
logo da suspeita de perjuro, e identicamente a si próprio de deslealdade, falta de confiança ou destituição de
zelo...), vem agora o DRC justificar esse
seu gesto (tomado a 01.08.2014) com o facto de Fagundes Duarte não ter accionado o que ele outrora lhe
tinha proposto, em vez disso despachando no sentido de se aguardar pelo final da comissão de serviço do director do MAH!
Todavia Nuno Lopes parece esquecer
que o seu antigo superior hierárquico havia, no mesmo Despacho, também mandado
abrir concurso para aquele lugar (ao qual, provavelmente, JB nunca teria
acesso...).
De resto, Nuno Lopes vem parecendo querer simular alguma isenção
político-administrativa e jurídica própria, não hesitando em instaurar, nas
últimas semanas, um Inquérito ao MAH
(por causa da dança das “danças do ventre”), sindicância, ao que consta, já em
fase de consequente Processo Disciplinar...
E neste volteio de cintura e véu, como o povo diz, lá vai o DRC escapando na pá de um remo, deixando a dois secretários regionais (e ao
Governo e ao PS!?) a tarefa de pôr a água
suja fora do bote!
– Esta leitura do ardiloso discurso do DRC é consentânea
com o testemunho de Fagundes Duarte à RDP-Açores, quando este declara
precisamente que “nada impediria que se avançasse, ou não, com um processo de
inquérito, mas numa fase subsequente”...
3) Depois, neste contexto, foi
(ou não?) dado conhecimento superior
(político-governamental, político-parlamentar e político-partidário...) –
nomeadamente, como seria normal num caso
destes, a Vasco Cordeiro (Presidente do Governo) e a Sérgio Ávila
(Vice-Presidente, com tutela da Inspecção Regional da Administração Pública...)
– ou de algum de modo a outrem, e com que acolhimento
ou (in)viabilização face ao
constante do Parecer e do Despacho em causa, nas datas das
respectivas elaborações, ou posteriormente, até hoje?
4) Confrontando-se as ditas incriminações,
propostas pelo actual DRC, com o dossier curricular
do seu antecessor (relembre-se, nomeado por Carlos César através do Despacho n.º 1165/2009 de 09.09.209...),
poderão (ou não) ter co-existido entretanto outras actividades, estatutos ou
desempenhos públicos e institucionais do
director do MAH, ou de JB enquanto
DRC, na Região ou fora dela, (in)compatíveis entre si e/ou ainda não
apurados? Por exemplo, perspectivando o
que é exactamente uma misteriosa Agência
de Desenvolvimento Sustentável de Cabo Verde (ADASCAVE), cuja vice-presidência coube àquele
“dirigente” açoriano...
5) Enfim, que relevância, objectos ou veracidade terão as acções, em hipotético processo, envolvendo alvitradamente
a DRC e o Tribunal de Contas, cujas existências, mesmo que não especificadas, mas politicamente
inquiríveis em si mesmas e in
abstractus, foram articuladamente tentadas, pelo PSD através de António
Ventura, conquanto sem acolhimento na
agenda, e assim logo com bloqueamento
formal do PS, na audição parlamentar a Avelino Meneses?
– Por todas estas razões, é
notório que só um apuramento exacto
de datas, contornos, andamentos da gestão política, matéria de facto e textos
integrais do Parecer e do Despacho em vislumbre permitiria esclarecer cabalmente todo este
processo, – o que só poderia ser feito numa nova
audição em que Fagundes Duarte pudesse ter direito e dever de
testemunhar (e até de defender-se!),
tal como foi proposto pelo PSD ao decidir convidá-lo para um debate político aberto e democrático em sessão pública (e não “em privado” como a RDP-A, erradamente, reportou)!
6) E finalmente, mais agora ainda, a derradeira pergunta: – Que
espera o PS ganhar, ou quem imagina incautamente
proteger a termo certo, tentando
ardilosamente escamotear toda esta questão, recorrendo antidemocraticamente ao
silenciamento injusto e discricionário do seu ex-secretário Luiz Fagundes
Duarte?
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 28.10.2014):