Uma Ecologia Integral
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A nova Encíclica do Papa
Francisco (*), Laudato si’ (assim
denominada a partir da conhecida e graciosa exclamação de um cântico de S.
Francisco) – “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos
sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”...
– e programaticamente destinada ao “cuidado da casa comum” que é a nossa criada Terra, surge e desenvolve-se
assumidamente na sequência de abordagens disseminadas por múltiplos documentos
da História do Pensamento (S. Basílio, S. Tomás de Aquino, Dante, Teilhard de
Chardin, Romano Guardini, Paul Ricoeur...), de Papas anteriores (nomeadamente João XXIII, Paulo
VI, João Paulo II e Bento XVI) e do Magistério Social da Igreja, ou recolhidas
nas reflexões de “cientistas, filósofos, teólogos e organizações sociais” –, é
um texto inovador, rigoroso e incisivo, tanto por tudo o que objectiva e empiricamente detecta,
diagnostica e denuncia, como pelo carácter
fundamental e sistemático dos horizontes, princípios e valores que propõe e
assume teórica e praticamente.
Teológica, moral, filosófica e
poeticamente muito marcada de novo pela particular e específica formação
religiosa, espiritual e intelectual, e pela sensibilidade social,
ético-política, cultural e civilizacional deste Papa (numa linha de leituras e
de tematizações que reúnem, harmoniosa e profeticamente, componentes próprias
das suas heranças jesuíticas, franciscanas e latino-americanas), esta Encíclica
retoma “argumentações que derivam da tradição judaico-cristã, a fim de dar
maior coerência ao nosso compromisso com o meio ambiente”, procurando “chegar
às raízes da situação actual, de modo a individuar não apenas os seus sintomas,
mas também as causas mais profundas”...
– E logo depois, o documento
papal propõe, em consequência e coerência
sistémicas, “uma ecologia que, nas suas várias dimensões, integre o lugar
específico que o ser humano ocupa neste mundo e as suas relações com a
realidade”, segundo tão críticos eixos
como “a relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção
de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do novo
paradigma e das formas de poder que derivam da tecnologia, o convite a procurar
outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada
criatura, o sentido humano da ecologia, a necessidade de debates sinceros e
honestos, a grave responsabilidade da política internacional e local, a cultura
do descarte e a proposta dum novo estilo de vida”!
Perfeitamente organizada numa
sequência temática dividida em 6 Capítulos – “O que está a acontecer à nossa
Casa”; “O Evangelho da Criação”, “A raiz humana da crise ecológica”; “Uma
ecologia integral”; “Algumas linhas de orientação e acção” e “Educação e
espiritualidade ecológica” –, a Encíclica Laudato
si’ aborda assim, entre outras complexas
e graves problemáticas planetárias e ecológicas, a Poluição e as Mudanças
Climáticas; a Perda da Biodiversidade; a Desigualdade entre Povos e Nações; o
Mistério do Universo e o Destino Comum dos Bens; o Poder, a Globalização e o
Paradigma Tecnocrático; o Antropocentrismo Moderno e suas Consequências; a
Ecologia Ambiental, Económica, Social, Cultural e da Vida Quotidiana; a Justiça
Intergeracional e o Meio Ambiente; o Diálogo para novas políticas nacionais e
regionais; as Religiões e a Ciência; a Transparência nos processos decisórios,
e a Conversão ecológica, salientando que tudo isto não é de ordem opcional mas sim uma “questão essencial de
justiça”, – porque o Ambiente “situa-se no âmbito da recepção. É um empréstimo
que cada geração recebe e deve transmitir à geração seguinte”, como exortava a
Conferência Episcopal Portuguesa na sua Carta
Pastoral “Responsabilidade solidária pelo bem comum” (15.09.2009), citada
aqui pelo Papa Francisco...
– Por todas estas razões, esta Encíclica Laudato si’ – Sobre o Cuidado da Casa Comum é na verdade um
magnífico, exigente e responsabilizante Tratado
de Ecologia Integrada, aplicável àquele mesmo, único e universal Bem Comum de
todas as formas de Vida e Consciência que é o nosso Planeta Terra, e que merece
assim, por isso mesmo, de todos os Homens e Povos, uma prudencial e profunda
meditação e a mais corajosa e urgente tradução prática!
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(*) Texto integral da Encíclica disponível aqui:
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html
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(*) Texto integral da Encíclica disponível aqui:
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 23.06.2015):
e RTP-Açores:
http://www.rtp.pt/acores/comentadores/eduardo-ferraz-da-rosa/uma-ecologia-integral_47216:
e RTP-Açores:
http://www.rtp.pt/acores/comentadores/eduardo-ferraz-da-rosa/uma-ecologia-integral_47216:
Outra versão em "Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 20.06.2015):
e Azores Digital: