O Escrutínio
e as Redes
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Com o avizinhar das Eleições –
desde as Legislativas às Presidenciais (estas inevitavelmente em movediço fundo e decisiva perspectivação, tanto mais quanto os campos e os jogos estão a abrir-se nomeadamente com a
proliferação de hipotéticas candidaturas à direita e à esquerda, mas acima de
tudo com as ratoeiras e alçapões que
o PS vai cavando todos os dias à volta de um desprevenido Sampaio da Nóvoa!) –,
começa a surgir e adensar-se nos OCS e nas Redes Sociais toda uma série de
informações, insinuações e factos sobre os principais (ou hipoteticamente mais
relevantes), imediatos ou futuros protagonistas desse cíclico calendário democrático (e outrossim também fabuloso teatro societário) onde, por
entre díspares e contraditórios feitos de verdadeira e consciente Democracia,
coabitam e se digladiam realidades e ficções, discursos, mitos e outras
réplicas ou simulacros daquela ideal
(ou somente idealizada...) forma de organização
política e funcionamento do Estado, com os correspondentes modelos de participação (ou de
alienação) dos cidadãos na vida das suas comunidades.
Foto: António Araújo
Ora na conjuntura das presentes pré-campanha e da já efectiva campanha eleitoral – com a natural e progressiva repercussão que as mesmas vem tendo naqueles
meios de comunicação e circulação de opiniões, e no proliferante espaço público e privado das ditas malhas sociais que o partidarismo aguda
tece... –, o que se vem notando às vezes é uma crescente atenção ao perfil, história e currículos (nalguns
casos mais comparáveis a pouco abonatórios cadastros; noutros absolutamente
idênticos a puros vazios de folha
política...), não só dos candidatos (ou putativos concorrentes), quanto
ainda dos interesses e malabarismos dos aparelhos corporativos e ideológicos
que a tal alinhada condição os atrelou
ou anexou...
– De resto, é isso o que se
constata face ao tipo de referências e ao género de perturbadores elementos que
(re)começam a ser escavados e arremessados, por exemplo, ao presidente do PS,
Carlos César (a propósito da “Globestar Systems”), e ao seu partido também relativamente
a alegados mas coincidentes e fatídicos
aparelhismos clientelares, governamentais ou tutelados pelas várias secretarias,
pessoais e familiares (aliás minuciosamente já organogramados nos Açores), sem sequer
ser preciso chegarmos à conspurcada herança desse eborense recluso 44 que
persiste em atravancar ou enlamear os pés e as mãos dos
“socialistas”... –, ou então, noutro
quadrante do simétrico arco dito “da
governação”, ao revermos as críticas aos “sociais-democratas” de Passos, Durão
e Cavaco, ou chegarmos, aqui também, a esses dourados livros de actos e actas que são a excelsa prosa
e a prosápia de Relvas, Loureiro e respectivos apaniguados, porém a par, diferentemente,
dos pesados exames aos (des)airosos diktats de Portas (dos quais tão cedo não
se livrará o CDS-PP continental que Ribeiro e Castro, em desacordado português, acabou de fustigar)!
E todavia, de tudo isto, em paralelo ou congénere palco de fitas, comédias e dramas deste regime “democrático” – ao qual como da liberdade a que, menos linearmente e olhando de lado, dizia Sartre estarmos condenados... – felizmente talvez, parecem ter-se indo livrando a seu modo o PCP – com aquela (des)conhecida, proverbial e vigiada “superioridade moral dos comunistas” que Álvaro Cunhal paradigmaticamente teorizou e lhes procurou legar, apesar de algumas vicissitudes históricas e individuais de antigos camaradas e seus “compagnons de route” em nubladas rotas e pilotagens...) –, e bem assim os românticos “revolucionários” do BE e do Livre, e os abonáveis e eticamente inspirados animadores do PAN e do NÓS.
Foto: Alfredo Cunha
– Nos Açores o panorama não será
lá muito mais atraente nem promissor, e as últimas marés e travessias
parlamentares, com muitas águas-vivas a boiar (à semelhança do que acontece nas
nossas arquipelágicas águas e baías de veraneio...), persistem em revelar todos
os impasses, desacertos e faltas de senso e consensos da Autonomia, cuja crise
maior ainda virá de viagem, trazendo no bojo, para depois da “silly season”,
derramares do leite e falências na lavoura; infestação e proliferação de
buracos e ratazanas na saúde pública;
divisão bairrista entre ilhas, câmaras de comércio e indústria; soltura
anunciada nas cotas; miragens sobre as Lajes, portos e aeroportos, a alto e
baixo custo; apertos e chacotas de Lisboa face aos incipientes arremedos de
programas revitalizadores deste mundo e do que resta ou falta dos outros; profunda
divisão no PSD-A (completamente à deriva e sem
um único esteio de credibilidade histórico-política regional, depois das navalhadas que foram desferidas à cara e às
costas de Mota Amaral), e logo numa altura de possível e exigente revisão
constitucional; opções arriscadas, ou desperdiçadas, de candidaturas credíveis
e consensuais no PS e no CDS-PP, etc., etc., – enquanto especialmente na Praia
da Vitória o PS já vem traiçoeiramente trabalhando em suspiradas sucessões (afastamentos...), insinuantemente pondo e
repondo mesa e arraial, pratos decorativos
e pires de importação a correr à
frente e ao lado do que resta, apesar de tudo, de um certo assomo (embora apenas pontual ou de fachada táctica...)
do antigo prezamento e orgulho praienses,
conquanto sempre malbaratado na arrogância gratuita, na mais retinta
mediocridade institucional e numa enquistada ignorância político-histórica,
cívica e cultural de bradar aos céus do Ramo Grande (cada vez mais surdos a
tolices e devaneios, e cada vez mais vazios de aviões e viabilidades...)!
Enfim, a coroar todo este triste cenário,
temos a global situação da Região, praticamente a todos os níveis a caminho de
uma proximidade objectivamente análoga
à da Grécia ou à de Porto Rico, quando não de uma africanização ou terceiro-mundismo
regionalista, exactamente opostos, contrários e contraditórios a tudo
aquilo com que os nossos primeiros e grandes Autonomistas um dia sonharam, numa
generosa (ou utópica...) mistura de realismo, esperança de justiça e equidade
para o desenvolvimento dos Açores e a possibilidade de uma vida progressivamente
mais humana e digna para o nosso Povo, em todas as nove ilhas.
– Pese embora a carga de
cepticismo e de pessimismo que de todo este aflitivo estado de coisas e de
impasses realmente ressalta, a verdade é que um atento e aprofundado escrutínio às redes que a este nível nos rodeiam, em vésperas de novos escrutínios, não nos deixa outra
sensação que não esta, que nem sequer é exaustiva nem derradeira...
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Em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 11.07.2015):
"Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 10.07.2015):
e Azores Digital:
http://www.azoresdigital.com/colunistas/ver.php?id=2944: