O Retorno de Mota Amaral
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Ao terminar o mandato na AR (Assembleia
da República), decidiu Mota Amaral, deputado social-democrata (eleito pelo
PSD), convocar os OCS para uma Conferência de Imprensa na qual procedeu a um
balanço das suas lides, intervenções e participações nos trabalhos da cessante
Legislatura, mormente naquilo que disse respeito aos Açores e às causas da
Autonomia Constitucional – ideais e projectos que sempre marcaram a sua longa,
laboriosa e respeitável vida e carreira políticas.
Sem ser (ainda...) esta a ocasião
para voltar a perspectivar todo o pouco
transparente e bastante indigno imbróglio gerado à volta do insólito afastamento
de Mota Amaral da lista dos candidatos às próximas Eleições Legislativas
nacionais, não pode deixar, também neste coincidente declinar da chamada “silly
season” e começo da chamada “rentrée”, de fazer-se constar aqui uma palavra de
apreço pela figura e pela acção daquele que foi um incansável obreiro da
Democracia em Portugal e da Autonomia dos Açores (apesar dos erros e das
omissões, e das conquistas, vitórias e méritos pessoais e político-partidários
partilhados), desde os difíceis (e lembrados?) tempos da “Ala Liberal” de Sá
Carneiro até às infaustas e amiúde retrógradas eras actuais, nestas heranças
“socialistas” de César e seus sucessores e herdeiros em versão menor...
– Todavia, não pode passar hoje
sem registo – para além daquela mais salientada afirmação de que “um político”
(e certamente mais ainda um cidadão
responsável...) “nunca se reforma” –, a muito, e maior e mais pertinente
chamada de atenção que o ex-presidente do Governo e ex-presidente da AR fez ao
denunciar o vergonhoso Estatuto do
Deputado que está na forja e que representa um intolerável cerceamento da liberdade de consciência individual,
autonomia de decisão específica e fidelidade devida à vontade recebida e
delegada dos eleitores em sufrágio democrático!
Ora apesar de muitos terem
passado ao lado deste problema, ou talvez por isso mesmo, nele estará o cerne
do saneamento, “libelo” ou “castigo”
que atingiu Mota Amaral, e com o qual veremos como vão lidar Berta Cabral (tão
estimada de Passos) e a sua reincidente e renovada equipa de dóceis militantes...
– E é assim que também se
justifica já agora um regresso à
lembrança daquilo que se passou há dois anos e que aqui comentei no artigo
“Lições dos Processos do PSD”, no seguimento da instauração do famoso e
famigerado processo inquisitorial, partidário-judiciário
e disciplinar (depois arquivado!) do partido comandado por PC – leia-se
desta vez, sem equívocos ou analogias (des)adequadas, Passos Coelho... – ao
militante/filiado n.º 4 do PSD nacional (e n.º 1 do PSD-A), João Bosco Mota
Amaral..., – coisa esquisita à época, e por
maioria de razão ainda mais hipócrita em tudo o que se lhe seguiu até hoje,
quanto na altura, foi arengada uma supostamente
demarcante posição – dita “com alguma serenidade” – da Comissão Política do
PSD-A face ao PSD nacional por este ter decidido naquela altura avançar com o
citado libelo de acusação aos deputados
pelos Açores (Mota Amaral, Joaquim Ponte e Lídia Bulcão) devido a estes terem
votado na AR contra a Lei das Finanças
Regionais.
De resto, este pronunciamento do
PSD-A mereceria louvor por ter sido manifestada “total solidariedade” àqueles parlamentares,
reafirmando mesmo o partido na Região que “eles defenderam, e bem, os
interesses específicos dos açorianos”, de acordo aliás, conforme mais quiseram sublinhar
– em (des)necessário reforço ou alívio de
causa? –, “com as orientações do PSD/Açores” (sic)...
– Porém, por igual neste contexto
de contencioso político-partidário,
vale a pena recordar que já em Agosto de 2013, conforme então noticiado, Mota
Amaral havia declarado que a direcção da sua bancada na AR tinha enviado à
respectiva direcção uma “denúncia” de intenção
disciplinar pelos motivos acima referidos, sendo que, na sequência de um
pressuroso “inquérito preliminar”, na altura a decorrer, era de esperar pronunciamento
do Conselho de Jurisdição do PSD no sentido de avançar-se (ou não) com uma
formal nota de culpa para
accionamento de subsequente ou eventual “processo disciplinar” (o que veio aliás
a consumar-se até ao respectivo arquivamento).
Ora perante tudo aquilo, e face àqueles
procedimentos apenas próprios de “partidos não democráticos”, como muito bem logo
disse Mota Amaral (ao precisar que deputados, conscienciosamente eleitos, nunca devem perder “personalidade”), apenas
teria restado aos três parlamentares açorianos, caso tivessem efectivamente sido condenados, um possível recurso para o Tribunal
Constitucional...
– Por outro lado – conforme também
recordámos –, valeu então realçar o facto de não se ter estado sequer perante
um acontecimento inédito no PSD, porquanto, em meados dos anos 80, na vigência
do governo do Bloco Central, idêntica medida chegou a ser tomada contra os deputados
social-democratas açorianos que se recusaram
votar a favor do Orçamento de Estado, e que – após instauração de outro Processo
Disciplinar – “sob alegação de violação da disciplina de voto” viram ser-lhes
“aplicada a pena de suspensão do direito de elegerem e serem eleitos para os
órgãos partidários durante o período de dois anos”, pena da qual se livrariam,
conforme testemunho de Mota Amaral que contava assim:
– “Poucos meses depois, no
seguimento de diligências minhas junto de Carlos Mota Pinto, ao tempo líder do
PSD, por deliberação unânime do Conselho Nacional, a situação em causa foi
abrangida por uma amnistia interna, destinada a comemorar o cinquentenário do
nascimento do Fundador do Partido, Francisco Sá Carneiro, ficando portanto
eliminada a alegada falta e também, obviamente, a sanção correspondente. E logo
ainda: “Em diversas outras ocasiões, os Deputados social-democratas açorianos
fizeram votações diferentes da generalidade do Grupo Parlamentar do PSD, sem
que daí derivassem quaisquer consequências, disciplinares ou outras. Em regra
por se entender que a sua posição é peculiar, na medida em que representam uma
Região Autónoma, com interesses próprios e até específicos, incumbindo-lhes
defendê-los no Parlamento, ainda que por algum motivo não possa o PSD na
totalidade acompanhar os seus pontos de vista. E isso aconteceu em
circunstâncias e sob lideranças variadas, mesmo naquelas tidas por mais fortes
e até com alguma tendência para o autoritarismo…”.
Como se vê e relembra por tudo
isto, este caso tem realmente muito que se lhe diga, e assim vai continuar por
certo a dar que pensar e agir, dentro
e à margem do PSD e suas actuais chefias, durante a campanha eleitoral que se
avizinha, e mais ainda com toda a certeza depois dos previsíveis resultados e balanços dela...
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Azores Digital:
e RTP-Açores:
http://www.rtp.pt/acores/comentadores/eduardo-ferraz-da-rosa/o-retorno-de-mota-amaral_47923:
http://www.rtp.pt/acores/comentadores/eduardo-ferraz-da-rosa/o-retorno-de-mota-amaral_47923: