sábado, setembro 26, 2015


Os Farsantes e a Urna

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Não há nada mais propício a boas farsas sociais do que as Campanhas Eleitorais tal como as conhecemos, vimos, vivemos já, ouvimos contar e lemos desde Mestre Gil a Saramago...


 – E assim é um nunca visto rol de gestos de simpatia; afectos vindo à flor da pele e dos tambores da banda; interesses por causas e injustiças de séculos, ou de há semanas apenas; insólitas ternuras para com velhinhos, crianças e pobres; compunção perante injustiças e misérias; assomos e afiançamentos de moralização; denúncia ou remédios prometidos para situações clamorosas, e – claro – tudo isto a par de retóricas e compromissos (sem réstia de possibilidade de garantia, evidentemente, portanto, “portanto”, como declama um actual agente da educação ilhoa, enquanto empeça no peixe que vai vendendo), porém tudo numa roda viva por auditórios, cantinas, ruas e arruadas, comícios, jantares e almoços, buzinadas, visitas a feiras, mercados, academias, empresas e empresários de sucesso (à mistura com falidos, à espera de subsídios ou adjudicações), e autarquias também, e câmaras de comércio, indústrias e serviços; e logo a dignitários, caciques, servos e bandoleiros político-partidários, e a senhores eclesiásticos de batina e venal cabeça (ou sem cabeção para perfeita e moderníssima secularização), e etc. por aí fora, cantando, dançando e rindo em folia “democrática” (ritual imenso de “participação cívica”!), com líderes, populaça e popularuchas adesões à causa pública e ao invocado “bem comum”, todavia contando-se pelos dedos as excepções, como aos dedinhos das mãos em cantilena (para enganar incautos ou adormecer catraias, mentecaptos ou incultos e anjinhos...), desde o dedo mindinho da lista das primas-donzelas e seus varões candidatos, até ao controleiro do mata-piolho, passando pelos vizinhos do aparelho, pelo grande pai de todos e pelo para-todo-o-terreno do fura-bolos (que dele melhor até se diria penetrante fura-olhos e fura-vidas), quando para outros e maiores talentos e validades não prestariam nenhuns, nem a tanto se deram nunca, nem hoje valem, – neste reciclado tempo de lixos e papéis de falsários na mesma urna!
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Em "Diário Insular",
Angra do Heroísmo, 26.09.2015: