Um Manual Histórico
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Quando no ano de 64 a.C. o notável retórico, advogado,
político e filósofo Marco Túlio Cícero (106 a.C. – 43 a.C.) resolveu
candidatar-se a cônsul da República Romana, o irmão – Quintus Tullius Cícero –
escreveu para uso dele um elucidativo manual
político, guia ou carta recheada de
conselhos, truques e expedientes pragmáticos
sobre como orientar a sua propaganda
eleitoral.
Intitulado Commentariolum
petitionis, esse tratado de
estratégia político-eleitoral (que é ao mesmo tempo um documento histórico e um filosófico
ensaio pessimista sobre a natureza humana) foi reeditado entre nós a partir
da tradução inglesa de Philip Freeman. A versão portuguesa, por Pedro Saraiva (Gradiva,
2015), traz o título de Como Ganhar
Eleições: Um Guia Clássico para Líderes Actuais e inclui também a Introdução,
o Glossário e a Bibliografia da publicação, não citada, da Princeton University
Press (2012).
Ora esta obra
daquele tão impiedoso e cruel quanto
premonitório e paradigmaticamente maquiavélico irmão de Marcus Cícero –
ele próprio emanação e reconhecido espelho de uma época instável e
turbulenta – e logo numa conjuntura eleitoral inspiradora de leituras sobre fortunas
e infortúnios que bem quadram e decorrem de propostas cinicamente arquitectadas
ou realisticamente constatadas em tão desmistificadora e pessimista
narrativa! –, traz-nos um impiedoso retrato-caricatura sociopolítica, ética e
moral, e faz-nos um expressivo cenário histórico, realista e céptico, revelado
através de “fragmentos intemporais de sabedoria [sic] política, desde a
importância de prometer tudo a todos até à evocação de escândalos sexuais que
envolvem os adversários, passando por se ser camaleão, dar um bom espectáculo
às massas e rodear-se sempre de apoiantes acérrimos”...
– Por todas estas
razões, mais aquelas recorrências que o leitor deliciosamente
identificará (e dramaticamente reconhecerá nas suas reais réplicas
contemporâneas), é este um livrinho bem propiciatório de profunda
reflexão crítica, para estes dias e noites de campanhas e expectativas
que só o futuro dirá aonde levarão, por entre continuadas ou adiadas (des)esperanças
e cansadas (des)ilusões!
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Em “Diário Insular”