Cenários de Excepção na Pandemia
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Vasco
Cordeiro dignificou
os
Açores e o 25 de Abril
Texto original da Entrevista ao jornal "Diário Insular",
Angra do Heroísmo, 28 de Abril de 2020.
Idem em "Diário dos Açores" (no prelo).
Idem em "Diário dos Açores" (no prelo).
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Como encara os últimos desenvolvimentos
da Covid-19
nos Açores?
Os
últimos acontecimentos e factos verificados entre nós, no campo da evolução e
enfrentamento institucional, social e jurídico-político da Pandemia de
Covid-19, não alteraram significativamente o essencial do cenário anteriormente
debatido.
Todavia
é novamente justo salientar a excepcional dedicação e os sacrifícios, mesmo com
riscos pessoais acrescidos, dos profissionais e técnicos de saúde e de
laboratório, tripulantes de ambulâncias e bombeiros, forças de segurança e
demais trabalhadores que têm vindo a assegurar serviços, redes de voluntariado
e distribuição de bens essenciais à população em geral e às famílias
carenciadas ou com doentes, crianças e idosos e deficientes a seu cargo.
–
Todos esses esforços e empenhos, e bem assim o acatamento das recomendações e ordens das autoridades
regionais e nacionais, têm contribuído para a contenção possível e a viabilização
mínima da vida da população açoriana, com crescentes sinais de resiliência existencial e de uma fundamental confiança no advento de
melhores dias (que oxalá não sejam nunca defraudados).
De
resto, como é sabido e ao contrário do que apareceu errada e tendenciosamente
comentado, as medidas de contenção
(nomeadamente as cercas sanitárias em S. Miguel), resultaram de acordos prévios e consensos institucionais dialogados, não tendo sido nem unilateralmente impostas, nem resultado
de caprichos de cerca ou cerco de qualquer antagonizado
protagonista palaciano….
Que balanço e perspectivas faz
deste cenário?
Apesar
dos sucessos relativos e absolutos
que temos firmado e afirmado, infelizmente deve ser averbado o agudizar pontual
do doloroso e preocupante quadro da propagação pandémica maior na ilha de S.
Miguel; a confrangedora situação letal no Nordeste; a falta de protecção a que
continuam ainda sujeitos muitos profissionais, serviços e instituições de saúde,
apoio social, múltiplos sectores produtivos e classes laboriosas, e – enfim –
os inadmissíveis episódios de incompetência e leviandade ocorridos com a
libertação, alojamento e movimentação de reclusos, cujas responsabilidades,
para além das que localmente são conhecidas, revelam também e sobremaneira as imprudências do Governo central e a míope pressa ministerial da Justiça, a
par da disjunção e da incrível não-simultaneidade de uma prévia redacção,
projectiva e articulada, totalmente
desatendida neste caso e que o despacho daquele Ministério deveria ter
sabido conjugar e fazer coordenar no
mesmo corpo de lei, com cautelares e lúcidas determinações complementares
do Ministério da Saúde, mas que tornaram a ficar novamente omissas à escala governamental da República e ao mais
alto nível decisório e imperativo das obrigações, tutelas e providências superiores e soberanas do Estado,
nomeadamente por relação à processualidade das amnistias, com todos os
episódios perigosos que conhecemos (e de outros que talvez ainda venham a tardio
rescaldo pelo país adentro)!
–
Devo porém e por outro lado relevar neste ensejo o desempenho positivo da
última Entrevista de Vasco Cordeiro à RTP-A, onde ele revelou uma atitude
pessoal digna, personalizada e segura, a par de sensível maturidade
institucional e ética.
Que análise lhe merece
essa Entrevista?
Merecem-me,
para além do mais, conquanto nem de tudo o que concernia ao motivo principal da
presente Pandemia, o modo verdadeiro e rigoroso como o presidente do Governo
regional superou e resistiu a uma série de outras perguntas insistentes (v.g.
sobre o Representante da República, o relacionamento com António Costa e até,
sub-repticiamente, com Carlos César, com subordinados seus e com outros
implícitos e explícitos colaboradores políticos, técnicos e partidários) …
– Finalmente quero registar as evidentes marcas de justa defesa de
legítimas causas dos Açores, e da atenta percepção de reais problemas humanos,
conjunturais (e não só) dos Açorianos (evidenciadas, com notória comoção,
também a propósito dos nossos estudantes deslocados e ainda retidos fora de
casa e família), sem esquecer, enfim, aquele paradigmático destino e o duro
drama do navio de cruzeiro cuja atracagem e desembarque de passageiros,
vivos e mortos, teve de ser imposto…, tal como o seu discurso (entre ansioso,
emotivo e racionalizado) sobremaneira manifestou de modo digno mesmo à porta do
25 de Abril, sem demagogias ou ofensas inconsequentes, quando não
nefastas à representação credível e à partilha fraternal e fiel ao mais esperançoso espírito daquela data, simbolicamente incarnando os
esperançados (e tantas vezes traídos!) valores que, esses sim, urgia e urge
defender sempre!
E quanto
às cerimónias
do 25 de Abril?
Concordo com Vasco Cordeiro quando
ele dizia que estas comemorações poderiam ter tido outros figurinos, espaço,
simbologia e alcances de adesão e significado. Mas também percebo as
argumentações aduzidas noutras lógicas de interpretação institucional,
ideológica e de conteúdo socialmente oportuno para reivindicações e projecção
de ideais como os da Democracia e do Estado de Direito, da Liberdade, da
Justiça, da separação de Poderes no âmbito da salvaguarda e da vigência da
Constituição…
– Para além, como é manifesto, de
teses paralelas ou contrapostas ao modo escolhido para a reafirmação daqueles
valores e que se prendiam com reservas ou rebuços em promover e exibir todo um
cerimonial político-institucional que pudesse colidir com normas de contenção e
condicionamento, impostos pela Emergência ou pelo estado de Excepção em vigor,
para todos os cidadãos, evitando-se assim o risco de cairmos na tentação de
vedetismos gratuitos, ou meramente retóricos, próprios para selfies peregrinos ou tablóides de luva
e máscara, farda, gravata, canção e cravo vermelho ao peito, quando o quotidiano dos Portugueses tem sido tão
pesado e subtraído a essa sociedade
ou confraria de espectáculo!
Quanto ao Presidente da
República, amiúde esquecem-se os analistas, comentadores e jornalistas (alguns
mal preparados…) da nossa lusitana praça comunicacional, que Marcelo é um
jurista de cátedra, profundamente versado na Teoria do Direito e em cujos
discursos estão sempre latentes categorias, figuras e pressupostos
constitucionais, ou de Filosofia do
Estado, da Sociedade, da Soberania, etc.
E tudo isto, habilmente mesclado numa recorrente expertise comunicativa e criativa de factos políticos e seus
horizontes de concretização possível ou provável interesse, que podem ser
enganosos e potencialmente hipotecantes do exercício normal da vida e de autonomias pessoais e institucionais, e
de liberdades, opções e decisões democráticas…
Avisos e
Discursos AFinados?
Com certeza…O mesmo, aliás, e
para concluir, se diga e leia nos posicionamentos e discursos afinados e refinados de António Costa (e
agora nos subentendidos avisos de
Ferro Rodrigues…), apesar de muitos desses sinais
à navegação já anteriormente estarem
subjacentes, implícita ou explicitamente visíveis, em várias intervenções dos
partidos e também nos seus reservados
sentidos de voto, na Assembleia da República e no Governo, perante as moções e
consultas de Belém!
– Deste ponto de vista, embora
nunca tenham sido ainda devidamente tematizadas
com profundidade e alcance
teórico-político, jurídico-constitucional e institucional prático, certas
atitudes e reservas críticas de Vasco Cordeiro ganhariam uma insuspeitada pertinência e validade universais (que,
lamentavelmente, escaparam sempre à impreparação política, filosófica e técnica
dos juristas e comentadores chamados à liça mediática local…).
Mas a análise mais desenvolvida
desta e de outras questões afins ficará para outra ocasião, quando analisarmos
o que a nível psico-social, comportamental, confessional e religioso (nomeadamente o que no campo da Igreja
Católica se tem verificado e começa a reconfigurar-se cultual, sociológica e
dogmaticamente, para além de economicamente também, imagine-se, até com lay-offs paroquiais a serem rogados para
pragmático sustento de padres), à semelhança de outros pretensos ministérios de soberano ofício
institucional e mental “sacro” ou laico,
digo excepcional e soberanamente auto-assumidos e prebendados, como se em
função de um pastoreio societário
divinal…
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Em "Diário Insular" (28.04.2020):